O maior julgamento por crimes contra a Humanidade cometidos
durante a ditadura argentina (1976-83) desde a anulação das leis de anistia
(2003), com cerca de 800 casos, começa na quarta-feira nos tribunais de Buenos
Aires, informou nesta terça-feira um advogado dos reclamantes.
"Foi, é e será o maior julgamento por crimes contra a
Humanidade: há 68 acusados por 800 casos e estima-se que haverá 900
testemunhas", disse à AFP o advogado Rodolfo Yanzón, acrescentando que,
entre os principais casos, estão os chamados 'voos da morte' pelos quais
centenas de opositores foram atirados vivos de aviões ao mar ou ao Rio do Prata.
Yanzón disse que o segundo julgamento por violações dos
direitos humanos cometidos na Escola de Mecânica da Armada (ESMA), o mais
emblemático centro de extermínio da ditadura, incluirá o caso da monja francesa
Léonie Duquet, um das centenas de vítimas dos voos da morte.
Os corpos de Duquet e de três integrantes da organização
humanitária Mães da Praça de Maio foram encontrados em 1977 em uma praia do sul
da província de Buenos Aires.
Entre os 68 acusados, serão julgados, pela primeira vez,
oito pilotos dos 'voos da morte', inclusive Julio Poch, naturalizado holandês e
extraditado da Espanha depois de seus companheiros de trabalho o terem
denunciado em seus relatos sobre essas práticas, realizadas pelos grupos da
ESMA.
Os outros 60 réus são acusados por crimes políticos
cometidos na ESMA, entre eles o ex-capitão da Marinha Alfredo Astiz, "O
anjo loiro da morte", que participou da operação de sequestro de quatro
integrantes das Mães, incluindo sua fundadora, Azucena Villaflor, assim como o
das monjas francesas, Alice Domon, ainda desaparecida, e Duquet.
Astiz e seu chefe, Jorge "El Tigre" Acosta, e
outros nove militares, tinham sido condenados à prisão perpétua em outubro de
2011 no primeiro julgamento pelos crimes na ESMA, por onde passaram 5.000 opositores,
dos quais apenas uma centena sobreviveu.
Também serão julgados vários civis como o então secretário
de Fazenda, Juan Alemann, acusado de ter presenciado, na ESMA, o interrogatório
sob tortura de Orlando Ruiz, acusado de ter participado de um atentado contra o
ex-funcionário e que continua desaparecido.
Estima-se que o julgamento oral e público se estenderá por
um período de entre 18 e 24 meses, disse Yanzón.
Dezenas de julgamentos foram realizados na Argentina desde a
anulação das leis de anistia em 2003. Cerca de 30.000 opositores desapareceram
durante a ditadura, segundo entidades humanitárias.
Fonte: Site Zero Hora
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