"O legislador, extasiado em suas abstrações generalizantes,
pensa o mundo humano no atacado e lança seu dardo normativo; o intérprete,
caminhando sobre as pedras das ruas, sente o mundo no varejo e deposita nas
calçadas frias o seu coração esperançoso. Olham-se mutuamente todos os dias,
mas não revelam um ao outro os seus segredos, e não sabem o que combinar. Os
cursos jurídicos deveriam formar os artesãos desses áridos caminhos que os
ligam, mas costumam entregar à sociedade engenheiros ávidos de amizade com os
legisladores. A conveniência dessa amizade favorece as economias dos amigos das
leis e isso parece ser mais interessante. Até o dia em que um desses
engenheiros dá-se conta de que também possui um coração esperançoso nas
calçadas, e aí procura os intérpretes. Mas já todos se fundiram em um só, e os
lados da vida estão difusos. E seguimos todos".
(Pedro Moacyr Pérez da Silveira)
(*) Reflexão do colega e amigo Pedro Moacyr Pérez da Silveira, professor de Filosofia da
Faculdade de Direito da UFPel)
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