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sábado, março 19

Menino obrigado pela mãe a vender drogas pede socorro pelo 190


Em ligação para a Brigada Militar de Viamão, garoto diz que mulher exigia que traficasse no colégio.

Ao revelar ter sido obrigado a vender droga na escola pela própria mãe, um menino de 11 anos estarreceu PMs acostumados a pedidos de socorro pelo 190 em Viamão. O que parecia ser apenas mais trote infantil ao final da manhã de ontem acabou na prisão em flagrante da mulher que escondia 48 petecas de cocaína.

Em vez de brincar com amigos e jogar futebol, o garoto relatou chorando uma rotina de espancamento, abusos sexuais e ameaças. Segundo a Brigada Militar, o estudante ligou para o 190 pedindo que policiais os resgatassem da mãe, de 44 anos. Contou que ela o obrigava a traficar no colégio em que estuda em Viamão.

Segundo o PM que atendeu à chamada, Gerson Mello Borges, a ligação de oito minutos por volta das 11h revelou uma rotina perversa: caso não vendesse a droga que levava para a sala de aula, o menino apanhava da mãe e era mantido preso em casa. Também teria contado que quando a mãe bebia, ele sofria abuso sexual da mulher. No telefonema, o garoto ainda informou aos policiais que havia uma quantidade de drogas embaixo do colchão de um dos quartos de sua casa.

– O colega fez testes de rotina para verificar se não seria um trote, coisa muito típica. Mas a ligação partiu do telefone fixo da casa deles e, ao chegarmos lá, encontramos a droga no mesmo lugar que ele havia dito na ligação. Acredito que ele tenha falado a verdade– comentou o sargento Gilmar, do 18º BPM, que atendeu à ocorrência.

Ao chegar à casa, os PMs encontraram a residência fechada e pediram a ajuda da nora da mulher para entrar. Em um dos quartos, encontraram 48 petecas de cocaína, já embaladas para a venda. Os dois PMs permaneceram no local, aguardando o menino e a mãe, que não estavam. Quando os dois chegaram, deram voz de prisão para a mulher.

Assustado com a mobilização da polícia, o garoto não confirmou o que havia dito pelo telefone. O PM Gerson acredita que a vítima tenha ficado com medo da reação da mãe.

Em depoimento na Delegacia de Pronto Atendimento de Alvorada (DPPA), ele acabou negando que tivesse ligado ou sofrido abusos.

Conversa não foi gravada

Autuada por tráfico, a mulher negou as agressões e ameaças, assim como afirmou desconhecer a origem da droga, mas acabou autuada em flagrante por tráfico. No final da tarde, foi encaminhada para a Penitenciária Feminina Madre Pelletier. Ela não quis conversar com a reportagem.

Sem a confirmação formal dos abusos, a investigação dependerá agora de laudos periciais que revelem as agressões. Apesar do testemunho do PM que atendeu à chamada de uma criança, a conversa não foi gravada, pois na unidade o sistema não armazena os diálogos. Na central do 18º Batalhão de Polícia Militar, há apenas o registro no identificador de chamadas (bina), que confirma que a ligação foi feita da residência do menino. Com a mãe presa, a Polícia Civil tem 10 dias para concluir o inquérito e remetê-lo à Justiça.

Depois de ser encaminhado ao Conselho Tutelar, o garoto foi entregue provisoriamente ao irmão mais velho. Na próxima semana, uma audiência na Justiça definirá o futuro do menino.

Ao saber do caso, a cunhada do estudante – mulher do irmão dele – afirmou que a família ficou muito chocada com a situação.

– Ele só gosta de jogar futebol e ir pra escola – comentou a mulher


Leia a entrevista do PM que atendeu a ligação


“Você não espera ligação tão sofrida de uma criança’’


ENTREVISTA: PM Gerson Mello Borges, do 190 da Brigada MilitarHá 21 anos na Brigada Militar – sete deles no serviço 190 da corporação, o soldado Gerson Mello se emociona ao lembrar da ligação do menino. Foram cerca de oito minutos de conversa que marcaram a vida do policial. Veja trechos da entrevista do PM a Zero Hora.

Zero Hora – Quando o menino ligou, o senhor não achou se tratar de trote? Como foi o início da conversa?

Gerson Mello Borges – Foi por volta das 11h. Ele ligou chorando. Como 99% das ligações feitas por crianças são trotes, o que congestiona nossas linhas, a gente tenta logo nos primeiros instantes descobrir se é realmente alguém precisando de ajuda. Acabei ficando com ele na linha mais tempo, percebi que estava falando a verdade.

ZH – O que ele dizia?

Gerson – Comecei a checar informações que ele me passava, como endereço, telefone, nome dele e da mãe. Ele até disse que não sabia direito o nome dela, mas foi ver em uma conta. Percebi que ele estava com medo, de verdade. Enquanto conversávamos, despachei uma viatura para o local.

ZH – Mas o que ele relatava?

Gerson – Que a mãe bebia, que o obrigava a vender droga na escola e que era molestado sexualmente por ela. Ele chegou a descrever. Isso me deixou muito mal. Toda vez que eu voltava a esse assunto para reunir informações sobre o que ocorria na casa, datas, horários, ele chorava, mudava de assunto.

ZH – Ele pediu que fossem rápido?

Gerson – Sim, pois ela teria dado uma saída para beber. Ele disse ‘venham logo enquanto ela não volta, me ajuda, não aguento mais essa vida’. Falou como um adulto. Dizia que estava preso dentro de casa. Tentei acalmá-lo. Foram uns oito minutos. Você não espera uma ligação tão sofrida de uma criança. Nunca recebi uma ligação assim de uma criança de 11 anos.
Fonte: Jornal Zero Hora



Um comentário:

Unknown disse...

Horrores, como pode alguém que deveria garantir a segurança, educação, paz, tranquilidade a uma criançapproceder assim dessa maneira.