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sexta-feira, junho 24

Uma tragédia (in) visível ?


A Revista Veja desta semana – 22 de junho de 2011 – traz como matéria de capa o drama das mães brasileiras com filhos dependentes do crack.

Em reportagem realizada por Ricardo Westin – repórter da revista – há entrevistas com dependentes, familiares, policiais e psiquiatras, e evidencia a grandeza de uma trágica realidade que se observa no Brasil.

Ao mesmo tempo em que assistimos, tanto na crackolândia em São Paulo – cujas imagens não deixa mentir  - quanto em outros municípios deste país, o Supremo Tribunal Federal, em nome da liberdade de expressão, autoriza as manifestações públicas pró- descriminalização do uso da maconha.

O tema – descriminalizar ou não – é polêmico. Fica ainda mais ‘complicado’ ter certeza sobre o acerto da opção por descriminalizar quando se observa  o resultado desgraçado e calamitoso que a dependência química provoca.

Sem deixar de considerar que a dependência química, muito antes de ser um problema de direito penal e de segurança pública, é uma questão de saúde pública, fica mais difícil à sociedade ter clareza sobre qual o melhor caminho quando as cenas das crackolândias brasileiras vem à tona.

Por isso, depois de muitas publicações sobre a ‘marcha da maconha’ realizada em diversas cidades brasileiras, e da decisão do STF, entendi que os leitores do Blog – que não tiveram, ainda, acesso à Veja, deveriam ler, também, pelo menos, o seu editorial. Uma forma de provocar a reflexão sobre tema tão

Por isso, a fim de provocar leitores, publico, abaixo, o editorial da Revista Veja – Carta ao Leitor.

“Uma reportagem cortante desta edição de VEJA feita pelo repórter Ricardo Westin, que entrevistou dezenas de viciados, seus familiares, policiais e psiquiatras, mostra a amplitude de uma tragédia urbana que as autoridades fingem não existir: a epidemia do crack, uma mortal derivação da cocaína. Não dá para entender que se travem os mais doutos debates em Brasília sobre a descriminalização das drogas, com a liberação na semana passada das marchas dos defensores do uso da maconha – como se o Brasil fosse algum plácido enclave escandinavo nos trópicos – quando, nas cidades mais populosas, fantasmagóricas multidões de viciados em crack vagam pelas ruas cometendo toda sorte de crime e desmentindo as contastações, tão válidas em outros campos, de que atingimos um novo patamar civilizatório. Não atingimos e não atingiremos enquanto não encararmos como nação, a chaga desse pavoroso vício.

Outras drogas pesadas, como a cocaína em pó e a heroína, também são fonte de terríveis dramas pessoais, sociais e familiares. Mas nada se compara à cocaína em pedra fumada em cachimbos artesanais nas praças e ruas da quase totalidade dos municípios brasileiros, por mais de um milhão de usuários, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz. Por seu poder de destruição e por ter como público-alvo os jovens de 15 a 25 anos, essa modalidade de ruína química merece análise detalhada e demanda a ação urgente do poder público. O crack vicia para sempre na primeira vez que seus componentes químicos inundam o cérebro do usuário. A pessoa passa a roubar e matar, se preciso, para satisfazer as demandas psíquicas e físicas impostas pela abstinência. Famílias inteiras são tragadas pela assustadoras crises dos viciados, cuja fúria desfaz os laços domésticos mais estáveis, renega as normas básicas da convivência social e anula mesmo a educação mais primorosa. Enquanto isso, as autoridades em Brasília sentem-se modernas e libertárias ao atender a anseios dos organizadores das ‘marchas da maconha’. Tudo a favor da liberdade de expressão, mas sem esquecer que as drogas leves são a porta de entrada para o crack e sua trágica rota sem volta”. 

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