(*)Leia matéria completa em ZERO HORA
Foto Tadeu Vilani - Agência RBS |
Ao percorrer o entorno de um viaduto no Centro Histórico de
Porto Alegre durante uma das abordagens que faria ao longo desta quinta-feira,
a médica Isabel Munaretti é chamada por uma colega de equipe para atender a uma
moradora de rua que não passava bem.
Instalada junto com uma amiga embaixo da estrutura de
concreto, a usuária de crack magra, de cabelos claros e apenas 30 anos teve de
buscar forças para se desvencilhar de um cobertor e levantar-se para ter o
pulmão auscultado e a febre medida, enquanto o companheiro arredio proferia à
sua volta uma série de reclamações.
— A princípio é só um resfriado, mas se tu tiveres dor ou
mais tosse corre para a Santa Casa — aconselhou Isabel, antes de combinar um
novo encontro com a paciente no dia seguinte.
A visita ao local é rotina para a equipe do projeto
Consultório na Rua, que faz parte da série de medidas incrementadas pelo
programa federal Crack, É Possível Vencer. Desde terça-feira, o serviço
congrega ações de saúde da prefeitura com foco na redução de danos provocados
pelo uso de crack, álcool e outras drogas em pessoas que vivem ou trabalham nas
ruas, parque e praças da região central da cidade.
A ideia é melhorar as condições de vida do público-alvo. O
grupo envolve profissionais de áreas como assistência social, enfermagem,
psicologia, terapia ocupacional e medicina.
Na raiz do trabalho está a conquista da confiança dos
usuários, o que nem sempre se revela uma tarefa simples. A reportagem de Zero
Hora acompanhou, na manhã de ontem, o trabalho da equipe que cruza as vias da
área central em uma Kombi — uma van que está em processo de compra será
adaptada para receber consultas médicas e atendimento de enfermagem.
Há 12 anos lidando com quem vive nas ruas da capital gaúcha,
a experiente agente de redução de danos Elaine Pires aproveitou o final da
conversa entre a médica e a usuária de crack de 30 anos para completar a
mensagem do combate à pedra. Aos poucos, trouxe à tona o tema da busca de
tratamento para o vício. O principal objetivo do programa, entretanto, não é
obrigar as pessoas a buscar a desintoxicação.
— Eu tô maneirando o uso, tô deixando de usar aos poucos. Já
me perguntaram: será que tu te ama? Tu gosta de ti? — lamentou a usuária, que
aparenta bem mais do que as três décadas de vida que tem.
Após oferecer ajuda a todos os moradores de rua das
proximidades do viaduto, os integrantes do consultório nômade se afastam do
grupo sem forçar qualquer tipo de auxílio.
Essa é a segunda equipe do projeto a ser criada na capital
gaúcha. Na Zona Norte, o mesmo serviço já é oferecido desde setembro de 2010,
coordenado pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC). A ideia é de que um terceiro
Consultório na Rua atenda usuários que frequentam a Zona Sul.
Fonte: Jornal Zero Hora
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