ZH analisou as 55 mil ocorrências
registradas no primeiro trimestre para alcançar a taxa criminal por 100 mil
habitantes.
A cada dois minutos e meio, uma pessoa é alvo de ladrões no
Estado. Enquanto os moradores dos pequenos municípios sofrem com invasões a
residências, furtos em veículos e abigeato, os gaúchos das grandes cidades são
ameaçados diariamente por bandidos armados em ataques a pedestres e roubos de
carros.
Para radiografar essa realidade, Zero Hora mapeou os 10
crimes contra o patrimônio que mais atormentam quem vive no Estado (veja
quadro). Esse grupo de delitos foi responsável por 31,8 mil das 55 mil
ocorrências de furto e roubo registradas no primeiro trimestre. Entre as
constatações, está a de que os pequenos municípios, menos policiados, são
territórios livres para os delitos menores, enquanto que na Região
Metropolitana e nos centros regionais, como Pelotas e Caxias do Sul, a opção
pelo assalto com arma de fogo está consolidada entre os criminosos.
Apontadas como refúgio à violência urbana, as cidades com
até 50 mil habitantes vivem uma rotina de furtos que mina a tranquilidade.
Apesar de os assaltos ainda serem exceção, já não é possível deixar a porta da
varanda aberta ou o carro com os vidros baixos. Entre arrombamentos e furtos
simples, foram 3.326 casos. Ou seja: 36 ataques por dia.
Proporcionalmente ao número de habitantes, o índice de
residências atacadas é maior nesses lugarejos do que nos centros urbanos. Na
lista está Santa Vitória do Palmar, a 241 quilômetros ao sul de Rio Grande e
com 30 mil moradores. A delegacia local registrou 33 invasões de domicílio no
verão. O suficiente para levar às rádios locais o delegado Rafael Vitola
Brodbeck.
– Tento fazer um trabalho de conscientização com a
comunidade – diz.
O número de casos, considerado alto para a cidade pelo
delegado, é atribuído à combinação da difusão do crack com a tradição dos
moradores de trocarem suas residências nos finais de semana por casas em
balneários.
Se falta sossego nas cidadezinhas, nos maiores municípios as
pessoas temem a morte em um assalto que deu errado. Em apenas 91 dias do ano,
foram registrados 5,9 mil roubos a pedestres, ou seja, três por hora. A maior
parte, 4,8 mil ataques, aconteceu em cidades com mais de 100 mil habitantes.
Proporção semelhante é verificada quando a intenção dos bandidos é tirar o
motorista do volante para levar o carro. Dos 2,8 mil roubos de veículos, 2,5
mil tiveram como palco as 18 maiores cidades.
Bandidos migram conforme “oferta”
Mais: o número de ataques que terminam com vítimas feridas é
maior quando o assalto ocorre em uma grande cidade. No roubos a pedestres, o
número é cinco vezes maior. Por trás da agressão, está a pressa dos bandidos.
Para o psiquiatra forense Rogério Cardoso, a explicação pode estar no fato de
que nas cidades os laços sociais são mais fracos:
– O ataque violento está ligado a uma falta de consideração
pelo outro.
Para analisar a taxa de incidência dos crimes nos diferentes
rincões do Estado, a reportagem dividiu as cidades gaúchas em quatro
categorias: até 10 mil habitantes, entre 10 mil e 50 mil, 50 mil a 100 mil e
mais de 100 mil habitantes. Em seguida, o número de crimes foi comparado às
populações destes grupos e expresso em uma taxa por 100 mil habitantes.
A hipótese de que os bandidos migram de acordo com a oferta
de alvos também é sustentado pelo levantamento. Entre as cidades pequenas,
lideram o ranking de roubo a pedestres aquelas no Litoral Norte.
– No verão, o criminoso que atua aqui vem de fora – explica
o delegado Paulo Perez, titular da Delegacia da Polícia Civil de Tramandaí.
Números preocupam
autoridades
Apesar de os roubos e furtos estarem em queda em relação a
2011, o grande volume de ocorrências preocupa as autoridades. Isso porque só
nos primeiros três meses do ano foram registrados 13.419 roubos (com violência)
e 41.775 furtos.
Em Porto Alegre, segundo as contas oficiais, foram 2.053
ataques a pedestres – sendo que 96 deles terminaram com as vítimas feridas –,
1.375 roubos de veículos e 419 assaltos a estabelecimentos comerciais.
– Tenho a impressão de que o crime contra o patrimônio tem
aumentado. O que acontece é que muitos roubos e furtos acabam não sendo
registrados e não entram na análise. Não é caso só de polícia, há problemas
sociais a serem enfrentados – avalia o delegado Juliano Ferreira, titular da
Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Questionado sobre o alarmante número de casos ocorridos em
2012, o comandante-geral da BM, coronel Sérgio de Abreu, aponta como causa a
disseminação do crack nas pequenas cidades e o “prende e solta” de criminosos.
No caso de furto simples, com pena inferior a quatro anos, o bandido
dificilmente ficará preso, mesmo que detido em flagrante, pois a atual
legislação prevê nove medidas alternativas à cadeia.
– No Interior, temos de contar com o apoio da comunidade
para que nossa inteligência possa monitorar ondas de crimes. Em cidades
grandes, estamos tentando, com reforço de efetivo, aumentar a presença na rua,
evitando assaltos ou reduzindo o tempo que o bandido tem para fugir após o
ataque – argumenta o coronel.
Para diminuir a chamada cifra oculta a que se refere o
delegado, ao menos no Interior, a Brigada Militar (BM) tem intensificado as
visitas das patrulhas rurais às pequenas propriedades.
Fonte: Site Zero Hora
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