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terça-feira, março 20

Pelotão da Morte de Alvorada

Foto: Jean Schwarz / Agência RBS  
Matéria do Jornalista  EduardoTorres, do Diário Gaúcho revela como agia o grupo de extermínio com base em Alvorada.

Zero Hora publica a matéria hoje, em sua edição on line e impressa. Leia na origem clicando aqui.


Após prender quatro PMs de Alvorada, suspeitos de formar um Pelotão da Morte, a polícia investiga a participação de pelo menos outros três colegas em mortes, perseguições, torturas e chantagens contra pessoas com histórico criminal.

De acordo com o delegado adjunto da 1ª DP de Alvorada, Wagner Dalcin, o próximo passo é delinear a forma de agir do grupo que se aproveitava da farda para "fazer justiça com as próprias mãos". E, daí, pedir novas prisões.

– Diziam-se justiceiros contra quem acreditavam que tinham de estar presos. Nessa trilha, deixaram inocentes com medo – afirma o delegado.

Foram oito meses de investigação após a chacina no Bairro Salomé. Poucos tiveram coragem para denunciar os PMs do Pelotão de Operações Especiais (POE) do 24º BPM.

– Nossa esperança é que as prisões motivem pessoas a falar – disse Wagner.

À espera para depor

Os PMs têm prisão temporária decretada e foram detidos nas últimas duas semanas pela Corregedoria da Brigada. Estão no presídio do BOE, na Capital. Nos próximos dias, devem prestar depoimento.

Além da chacina, que vitimou quatro pessoas em 13 de julho, pelo menos mais dois homicídios são creditados ao grupo, que agia com características de quadrilha.

As conexões

A investigação não descarta que exista uma rede de contatos entre PMs "justiceiros" na região. Na madrugada anterior à chacina no Bairro Salomé, um homem foi encontrado morto em Viamão – no limite com Alvorada – atingido por armas de calibres semelhantes às usadas no crime do dia 13 de julho. A ligação entre os casos não é descartada.

Atuação era em três cidades

De acordo com o delegado Wagner Dalcin, os justiceiros teriam teias de informações e formas comuns de agir pelo menos em mais três locais: Viamão, Gravataí e na Zona Norte da Capital.

Como agiam

– Bah, derrubei aquela casa lá, mas não achei nada.

– Aborda o cara, diz que tem denúncia, que encontrou drogas com ele.

As frases, retiradas de escutas telefônicas, revelam a forma como o Pelotão da Morte agia. Se não tinham mandados, o jeito era forjar uma maneira de "enquadrar" os alvos.

– Eram o tipo de policial "pé na porta", no pior sentido. Você não pode entrar em uma casa sem uma ordem judicial – critica o delegado.

Mulher forçada a apagar imagens

Um dos recursos do bando seria tortura, como Luciano Mayer denunciou à Corregedoria da BM tempos antes de ser morto.

As ações também respingavam em pessoas inocentes. Uma moradora teria flagrado o momento em que houve a suposta agressão a pontapés, socos e pisoteadas. Filmou tudo em seu celular, mas os PMs souberam. A casa dela teria sido invadida, e ela forçada a apagar tudo. E mais: deveria se calar e sumir dali. Os vizinhos nunca mais a viram na região.

A motivação

Na lista de perseguidos, torturados ou mortos pelo Pelotão da Morte, só há pessoas com histórico criminal. Em geral, presos pelo POE e que voltavam às ruas beneficiados por progressões de regime ou falta de julgamento.

Faziam uma "limpeza" nas ruas

Luciano Mayer tinha antecedentes por tráfico, e Marcelo de Matos Berro era apontado como seu comparsa. Romário Coradeli, morto em fevereiro de 2011, também era investigado por venda de drogas. Éverton Nunes Silveira, morto a tiros dois meses antes da chacina, era outro apontado como traficante no Bairro Umbu.

– Esses PMs atuavam como se estivessem fazendo uma "limpeza" nas ruas – define o delegado.

A investigação não detectou a participação dos PMs no tráfico.

A tocaia

Em 13 de julho de 2011, PMs foram a um bar no Bairro Salomé. Apreenderam um revólver calibre 38 e forçaram o dono a fechar as portas. Três minutos depois, um carro branco surgiu e, dele, partiram os tiros contra quatro homens que ainda estavam diante do bar.

Dois minutos depois, a viatura voltou, viu os corpos na rua e seguiu em frente. Só um tempo depois veio o socorro - outro carro da Brigada.

Investigadores da 1ª DP de Alvorada estão convictos: foi uma tocaia. Seria a especialidade do Pelotão da Morte.

Os outros crimes

Fevereiro/2011 – Romário Coradeli, 20 anos, suspeito por tráfico, foi morto em abordagem da BM no Bairro 11 de Abril. A delegacia apontou execução do Pelotão da Morte, mas o Inquérito Policial Militar e a Justiça entenderam que Marcelo Maier agiu em legítima defesa. O caso foi reaberto. Os PMs voltam a ficar sob suspeita.

Maio/2011 – Éverton Nunes Silveira, 30 anos, era apontado como traficante nos bairros Umbu e Salomé. O inquérito da morte está aberto: PMs são investigados.

A impunidade

As primeiras denúncias contra o Pelotão da Morte surgiram no começo de 2011, mas eles nunca foram punidos. Marcelo Maier teria, recentemente, solicitado transferência para a Força-Tarefa da Brigada no Presídio Central. Dos quatro PMs presos semana passada, três foram transferidos. Pouco tempo depois, entraram em licença-saúde. Foram detidos pela corregedoria quando voltariam ao serviço.

A hierarquia

Na corporação, todos são soldados. Na organização paralela, no entanto, havia um centro de poder. Por ter maior experiência, Marcelo Machado Maier, 35 anos (dez deles na BM), exerceria o comando hierárquico.

– Partia dele, em geral, a iniciativa para as ações. No caso da chacina, ele era apontado como quem perseguia Luciano Mayer desde 2008 – explica o delegado Wagner Dalcin.

O irmão do policial, Marcio Machado Maier, 32 anos, seria uma espécie de subordinado mais próximo. Charles Alexandre Avila da Silva, 33 anos (oito de BM), e Fernando de Souza e Silva, 24 anos (três de profissão), eram os comparsas. Entre os três PMs ainda investigados, um seria parente de Marcelo.

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