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domingo, abril 15

Tribunal Penal Internacional rejeita investigar crimes de Israel


A promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI) rejeitou o pedido da Autoridade Nacional Palestina (ANP) para realizar uma investigação sobre os “atos praticados em território palestino” por Israel desde julho de 2002. A solicitação foi feita em janeiro de 2009, ao término do mais recente conflito entre israelenses e palestinos na Faixa de Gaza. Entre 27 de dezembro de 2008 e 19 de janeiro de 2009, cerca de 1.400 palestinos e 13 israelenses foram mortos. Três dos israelenses e centenas de palestinos eram civis.

A justificativa do promotor Luis Moreno-Ocampo para impedir a apuração dos crimes de Israel contra os palestinos foi uma “artimanha”, como a classificou Marek Marczynski, chefe da campanha por justiça da Anistia Internacional. Moreno-Ocampo alegou que a Palestina não tem o direito de recorrer ao Tribunal porque não é membro pleno das Nações Unidas.

Para chegar a essa conclusão, o gabinete do promotor levou três anos, tempo que durou o inquérito preliminar que analisou o pedido da ANP. Mesmo admitindo que 132 países-membros das Nações Unidas já reconhecem a Palestina como Estado, Moreno-Ocampo afirmou que compete a “organismos relevantes da ONU ou à Assembleia dos Estados-membros determinar se, legalmente, a Palestina se qualifica como Estado para o propósito de aceder ao Estatuto de Roma” [o tratado que fundou o TPI].

Segundo apurado pelo jornal Brasil de Fato: “Há alguns problemas muito sérios envolvendo as alegações da promotoria do TPI”. Conforme descrito pelo jornal; “O primeiro, levantado por Marek Marczynski, da Anistia Internacional, diz respeito à falta de competência de Moreno-Ocampo para tomar esse tipo de decisão. ‘O Estatuto de Roma deixa claro que casos assim devem ser resolvidos pelos magistrados do Tribunal Penal Internacional, não pelo promotor’, denunciou ele”.

Segundo fonte do jornal O Estado de S. Paulo, o governo israelense comemorou a decisão do promotor Luis Moreno-Ocampo. Para o diretor do Departamento Internacional do Ministério da Justiça de Israel, Gal Levertov, o TPI tomou "a única decisão correta possível". De acordo com o jornal, “a Autoridade Palestina não se pronunciou sobre o tema, mas uma fonte da entidade afirmou que o presidente Mahmoud Abbas participará hoje de várias reuniões para avaliar a decisão do TPI de não investigar Israel. Para o professor das universidades de Belém e Birzeit, Mazin Qumsiyeh, a decisão foi resultado de "muita pressão política" sobre o TPI.”

Para a Anistia Internacional, a decisão significa que as vítimas da guerra em Gaza não obterão justiça por uma avaliação "equivocada" de Moreno-Ocampo. "Há três anos, o promotor vem analisando se a Autoridade Palestina é ou não um Estado sob jurisdição do TPI, em vez de analisar se o TPI pode investigar crimes cometidos no conflito em Gaza em 2008 e 2009", disse Marek Marczynski, diretor da organização.

Em setembro de 2009, foi publicado o Relatório da Missão de Investigação, dirigido pelo juiz Richard Goldstone que descreveu as violações ao direito internacional cometidas naquele período. Apesar das fortes provas da prática de crimes de guerra e de outras graves violações do Direito Internacional que surgiram durante e no rescaldo do conflito, tanto Israel como o Hamas falharam porque não levaram a cabo investigações credíveis, nem foram instaurados processos judiciais contra os responsáveis pelos atos de violência.

O Relatório recomendou que fosse feita investigações durante seis meses por parte do governo de Israel, bem como as autoridades da Faixa de Gaza. Em resposta, o Conselho de Direitos Humanos e a Assembleia Geral das Nações Unidas apelaram às autoridades israelenses e palestinas para levar a cabo investigações independentes, credíveis e que estejam de acordo com os padrões internacionais.

Fonte: Site do IBCCrim

Entenda a História



O último conflito na Faixa de Gaza irrompeu em 19 de dezembro de 2008, após o fim de um frágil cessar-fogo entre o governo de Israel e o grupo Hamas, que após vencer as eleições legislativas do Estado Palestino assumiu o controle da Faixa de Gaza. O Hamas acusou Israel de não levantar o bloqueio à Gaza e tentar invadir seu território através de túneis. O Hamas lançou ataques de foguetes ao sul de Israel, que revidou com um pesado bombardeio e a invasão por tropas israelenses ao território da Faixa de Gaza. Desde então, o governo de Barack Obama vem pressionando os dois lados a retomar o processo de paz. Em 2010, Israel e a Autoridade Palestina, governada por Mahmoud Abbas, opositor do Hamas.

Este é apenas o capítulo mais recente do conflito israelo-palestino. As raízes remotas do conflito remontam aos fins do século XIX, quando colonos judeus começaram a migrar para a região. As tensões entre judeus e palestinos começaram a emergir a partir da década de 1890, após a fundação do movimento sionista e principalmente quando judeus provenientes da Europa começaram a emigrar, formando e aumentando comunidades judaicas na Palestina, quer por compra de terras dos otomanos, quer por compra direta a árabes proprietários de terrenos.

O movimento ganhou o nome de sionismo (em homenagem a Sião, um dos antigos nomes de Jerusalém) e teve sua figura de proa no judeu austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904). No seu livro O Estado Judeu, de 1896, propôs a criação de um país soberano, governado e habitado por judeus, na antiga Terra Santa - que os judeus chamavam de Eretz Israel, ou Terra de Israel, e os árabes de Filistin ou Palestina.

Com o intuito de aglutinar as diversas tendências nacionalistas judaicas, Herzl organizou o Primeiro Congresso Sionista, realizado na cidade suíça de Basiléia, em 29 de agosto de 1897. No Congresso foi formulada a plataforma sionista, conhecida como “Programa de Basiléia”, e fundada  Organização Sionista Mundial. Nesta reunião, discutiu-se onde se deveria instalar o Estado Judeu, dividindo-se os congressistas entre a Palestina Otomana ou algum território desabitado cedido aos sionistas. Venceram os partidários da Palestina, com o argumento de que aquela era a região de origem de toda identidade judaica na Antiguidade.

Espalhados pelo mundo desde a chamada “Diáspora”, no século 1o D.C, quando o Império Romano expulsou os hebreus de seu território, os judeus mantiveram vivas sua cultura e religião e nunca deixaram de sonhar com o retorno à Terra Santa. A idéia de reerguer a antiga Israel das cinzas do passado espalhou-se pelas comunidades judaicas. Muitos judeus religiosos acreditavam que a Terra Santa lhes pertencia por decreto divino - afinal de contas, segundo a Torá, Deus passara a escritura de todo o território para Abraão. Outros tinham aspirações mais práticas do que teológicas: queriam ser livres e escapar da Europa o mais rápido possível.

Enquanto propagava-se a idéia da migração em massa para o Oriente Médio, o movimento sionista cunhou um slogan famoso: "a Palestina é uma terra sem povo para um povo sem terra". A idéia de que o local estava vazio, à espera de colonos judeus, deixava os árabes palestinos furiosos. "Muitos sionistas ignoravam o fato de que  a Palestina era habitada por mais de meio milhão de árabes no início do século 20 - e que, para eles, aquela terra era o seu lar", diz o relatório "Origens e Desenvolvimento do Problema Palestino", produzido por especialistas e observadores da ONU na década de 80.

No final do século 19, havia cerca de 20 mil judeus na Palestina, cujos ancestrais haviam conseguido driblar a expulsão romana e conviver com os árabes ao longo de séculos. Até 1947, o número aumentaria vertiginosamente. Mais de meio milhão de judeus desembarcaram na região, vindos principalmente da Europa - muitos deles fugindo dos nazistas.

O sonho do regresso ganhou ares de necessidade política na segunda metade do século 19. O anti-semitismo estava crescendo e perseguições multiplicavam-se pela Europa. Recém-chegados à Palestina, os judeus fundaram comunidades de agricultores de feitio socialista (os kibutz) e passaram a lutar pela criação de seu Estado.

Para os palestinos, a imigração maciça de judeus era uma invasão colonialista. "Eles não tinham muitos problemas com os judeus naturais da Palestina, que lá estavam havia séculos e tinham vínculos culturais com seus vizinhos árabes. Mas aqueles que vinham da Europa, com aparência e costumes europeus, eram vistos como colonizadores estrangeiros", diz Paulo Vicentini, especialista em relações internacionais e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Além do mais, nem todos os judeus nascidos na Palestina eram sionistas - ao passo que todos os asquenazes (judeus vindos da Europa) estavam lá com o firme intento de criar um estado. Dividir a região em dois pedaços, pensavam os árabes, equivalia a entregar metade do país a forasteiros.

A Criação de Israel gerou duas visões conflitantes. A história é contada de forma diferente por judeus e palestinos. Para aqueles, foi a concretização de um sonho milenar, que inflamou o coração de gerações e gerações de hebreus desde os tempos da Diáspora. Para estes, uma verdadeira catastrófe (Até hoje, eles relembram o ano de 1948 como "El-Nakba" - ou "a desgraça".)

Diante de inúmeros conflitos, em 1947, a Organização das Nações Unidas decidiu que a melhor maneira de decidir o impasse era dividir a antiga província otomana em dois pedaços. Em uma assembléia presidida pelo diplomata gaúcho Oswaldo Aranha, a ONU instituiu o Plano de Partilha: 55% da região ficaria com os judeus, e 45% com os árabes. Em 14 de maio de 1948, os sionistas, liderados pelo legendário David Ben Gurion, fundaram o Estado de Israel, com capital em Tel Aviv, na fatia concedida pela ONU.

Ao contrário do que o mundo esperava, a Partilha não terminou com a disputa - apenas a agravou. Nas décadas seguintes, Israel iria se envolver em uma série de guerras contra seus vizinhos. Para os sionistas, a culpa foi dos árabes, que não aceitaram a divisão da Palestina e tentaram destruir o Estado de Israel.

O maior medo dos palestinos era perder suas terras, já que a maior parte deles vivia da agricultura. Temiam que milhares de famílias tivessem de abandonar suas casas e vilas para dar lugar aos colonos judeus. Muitos desconfiavam que os líderes sionistas não se contentariam com metade da Palestina e planejassem, em segredo, conquistar toda a Terra Santa. Mesmo havendo sionistas dispostos a ficar só nos 55% acertados pela ONU, a evolução dos eventos acabou descambando para uma ladeira trágica, e o pior dos medos árabes virou realidade.

Para os palestinos, a partilha da ONU tinha um feitio absurdo. Primeiro, achavam a divisão desproporcional: mais da metade da região foi dada ao grupo minoritário, que ainda por cima era formado principalmente por imigrantes (os sionistas respondem que a vantagem territorial era ilusória: boa parte das terras de Israel era  desértica). Outro ultraje aos olhos árabes: os territórios dos palestinos estavam picotados, com três fatias separadas umas das outras. A população era de 800 mil árabes, com 10 mil judeus espalhados em vilas dispersas - já na porção que ficou para Israel, havia entre 397 mil e 497 mil árabes, contra 500 mil a 538 mil judeus.

Logo após a criação de Israel, os vizinhos árabes resolveram entrar na briga e cometeram o que muitos historiadores até hoje consideram um erro estratégico: mandaram a diplomacia às favas e fizeram soar as trombetas da batalha. "Todos os caminhos que tentamos para a paz fracassaram. Não nos resta nada além da guerra. Terei a honra e o prazer de salvar a Palestina", anunciou Abdullah, rei da Jordânia, em 26 de abril de 1948. Um mês depois, exércitos de cinco países árabes (Líbano, Iraque, Jordânia, Síria e Egito) marcharam contra o inimigo recém-nascido. Começava, oficialmente, a primeira guerra entre árabes e judeus.

Em 15 de Maio de 1948, um dia depois da fundação do Estado de Israel, sete exércitos de países da Liga Árabe atacaram Israel. Durante a Guerra , a maioria da população árabe da Palestina fugiu para os países vizinhos (Líbano, Jordânia, Síria e Egito) em busca de segurança. Com a vitória de Israel, a maioria desses refugiados, cerca de 750 mil, ficaram impedidos de regressar às suas terras.

É na sequência do trabalho efetuado no apoio a estes refugiados que nasce o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação de uma Organização para a Libertação da Palestina (OLP), cujo missão estatutária é a destruição do Estado de Israel. Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento de um estado palestino. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido em 2004. Arafat, após anos de luta contra Israel, renegou a luta armada, a violência e o terrorismo e iniciou as negociações que levaram aos Acordos de Paz de Oslo.

Com o Acordo de Paz de Oslo, em 1993 é criada a Autoridade Palestina, sob o comando de Yasser Arafat. A intenção era o reconhecimento do direito do estado de Israel existir e uma forma de dar fim ao terrorismo, mas os termos do acordo jamais foram cumpridos por ambas as partes. Ithzak Rabin, primeiro-ministro israelense que assinou o acordo de Oslo, foi assassinado por um radical israelense em 1995. No ano 2000, após o fracasso de novas negociações de paz em Camp David, a violência recrudesceu, e teve início a chamada “Segunda Intifada”.

A área correspondente à Palestina de 1948, encontra-se hoje dividida em três partes: uma parte integra o Estado de Israel; duas outras (a Faixa de Gaza e a Cisjordânia), deveriam integrar um Estado Palestino a ser criado - de acordo com a lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência colonial da zona, o Reino Unido. Todavia, em 1967, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia foram ocupadas militarmente por Israel, após a Guerra dos Seis Dias.

A Faixa de Gaza é hoje uma região devastada. Sendo um dos territórios mais densamente povoados do planeta, com 1,5 milhão de habitantes para uma área de 360 km², sem recursos naturais, a área sofre uma escassez crônica de água e praticamente não tem indústria. A infraestrutura é precária, e quase nada foi refeito após os bombardeios israelenses de 2008-2009. A situação econômica é de penúria.

A designação "Faixa de Gaza" deriva do nome da sua principal cidade, Gaza, cuja existência remonta à Antiguidade. Gaza absorveu um quarto das centenas de milhares dos refugiados palestinos expulsos das áreas que hoje fazem parte de Israel. A Faixa de Gaza é reivindicada pela Autoridade Nacional Palestina como parte dos territórios palestinos.

Em 2006, o partido Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas. Desde junho de 2007, o partido assumiu efetivamente o controle da Faixa de Gaza, após confronto armado com o Fatah. O espaço aéreo e o acesso marítimo à Faixa de Gaza são atualmente controlados pelo Estado de Israel, que também ocupava militarmente o território entre junho de 1967 e agosto de 2005. O território da Faixa de Gaza é cercado por muralhas, tanto do lado egípcio quanto israelense.

A Faixa de Gaza possui fronteiras terrestres com Israel e Egito, além de uma fronteira marítima. Desde junho de 2007, o Egito e Israel mantêm as suas fronteiras com o território fechadas. O bloqueio apenas permite que carregamentos de suprimentos humanitários cheguem à região, após um controle minucioso de seu conteúdo

Israel alega que o bloqueio visa enfraquecer o poderio do Hamas e pôr fim a seus constantes ataques, já os oponentes do bloqueio afirmam que a medida gera desabastecimento e pune apenas a população civil. Diversas entidades de defesa dos direitos humanos qualificam o bloqueio à Faixa de Gaza como “desumano” e “cruel”. A Anistia Internacional chamou o bloqueio de "punição coletiva", que resulta em uma "crise humanitária"; funcionários da ONU descreveram a situação como "preocupante". O governo israelense nega tais afirmações e diz que não há carência de itens básicos em Gaza. Apesar da retomada das negociações em 2010, o atual processo de paz avança lentamente. A Autoridade Palestina lançou uma campanha diplomática pelo reconhecimento do Estado Palestino pelo Conselho de Segurança da ONU em 2011. O reconhecimento ainda não foi votado pelo Conselho de Segurança, mas os EUA já avisaram que irão vetar a proposta.

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