Detento usava senhas e internet no celular para comandar tráfico de drogas.
Segundo investigação policial,
depósitos eram feitos em nome de laranjas.
Após seis meses de
investigação, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul descobriu que um detento do
Presídio Central de Porto Alegre comandava o tráfico de drogas em boa parte da
Região Metropolitana.
Com o uso de senhas, o traficante Nataniel da Silva, que
está preso desde 2009, e seus comparsas movimentavam 30 contas bancárias.
Segundo os investigadores, os depósitos eram feitos em nome de laranjas. Tudo
pela internet, acessada, inclusive, pelo celular do preso na penitenciária na
capital gaúcha.
Em uma operação na segunda-feira (20), 25 pessoas foram
presas por envolvimento com o detento. Entre os detidos estão a mulher, a mãe e
três irmãos do apenado identificado como líder do grupo. Também foram
apreendidos bens no valor de mais de R$ 1 milhão, em veículos, casas e contas
bancárias.
Um diálogo entre Nataniel e um comparsa, gravado pela
Polícia Civil com autorização da Justiça, mostra que, pelo celular, o líder do
grupo recebia informações sobre a contabilidade da quadrilha. Na gíria da
cadeia, a palavra "bara" quer dizer R$ 1 mil.
Traficante: "Depósito 'online', valor de nove mil
reais, entendeu?"
Nataniel: "Tá."
Nataniel: "Pede a senha 'online', que terça-feira eu
deposito uns três 'bara' para ti, lá."
Traficante: "Tá na mão."
A ousadia dos detentos no Presídio Central de Porto Alegre
não para por aí. Ligações gravadas pelos investigadores mostram presos entrando
em contato com Tribunais. Em uma conversa com o Superior Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, ele pede informações sobre um habeas corpus. Para quem está
do outro lado da linha, o criminoso se identifica como advogado.
Os detentos também ligam para o Ministério Público em busca
de informações sobre os processos a que respondem. Em uma gravação, ele se
apresenta como "doutor" e pede para que o processo seja agilizado.
"Então tu já
tomou nota do processo. Assim que chegar, se tu puder dar uma agilizada pra
mim, vou ficar muito agradecido, tá?", pede o preso para a atendente do
Ministério Público.
Passando-se por "Doutor Eduardo", o preso consegue
todas as informações que precisa usando como desculpa problemas com a internet.
De acordo com a Justiça do Rio Grande do Sul, apenas informações públicas,
disponíveis para qualquer cidadão, foram passadas ao criminoso preso.
"Ele, o preso, como qualquer brasileiro tem o direito
de saber a situação do processo dele. O que está errado é ele fazer isso
pessoalmente por telefone de dentro de um presidio", disse o desembargador
do Tribunal de Justiça, Tulio Martins.
A delegada Graciela Foresti, que comandou as investigações,
acha que os telefonemas são uma afronta à sociedade. "Um deboche ao
estado, no sentido de não se submeter ao poder estatal e chegar ao ponto de ter
a convicção de que, fazendo uma ligação de dentro de um presídio, ele não vai
ser identificado.
O que isso tem de relevante não são as informações que foram
passadas, mas sim o fato de serem passadas para um detento, dentro de uma
penitenciária. Porque este mesmo telefone que ele utiliza pra conseguir
informações dentro deste sistema, mesmo que sejam informações públicas, ele
pode utilizar em práticas de crimes", disse a delegada.
Fonte: Site G1 RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário