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terça-feira, agosto 21

Preso comandava tráfico de dentro de presídio no RS



Detento usava senhas e internet no celular para comandar tráfico de drogas.
Segundo investigação policial, depósitos eram feitos em nome de laranjas.


 Após seis meses de investigação, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul descobriu que um detento do Presídio Central de Porto Alegre comandava o tráfico de drogas em boa parte da Região Metropolitana.

Com o uso de senhas, o traficante Nataniel da Silva, que está preso desde 2009, e seus comparsas movimentavam 30 contas bancárias. Segundo os investigadores, os depósitos eram feitos em nome de laranjas. Tudo pela internet, acessada, inclusive, pelo celular do preso na penitenciária na capital gaúcha.

Em uma operação na segunda-feira (20), 25 pessoas foram presas por envolvimento com o detento. Entre os detidos estão a mulher, a mãe e três irmãos do apenado identificado como líder do grupo. Também foram apreendidos bens no valor de mais de R$ 1 milhão, em veículos, casas e contas bancárias.

Um diálogo entre Nataniel e um comparsa, gravado pela Polícia Civil com autorização da Justiça, mostra que, pelo celular, o líder do grupo recebia informações sobre a contabilidade da quadrilha. Na gíria da cadeia, a palavra "bara" quer dizer R$ 1 mil.

Traficante: "Depósito 'online', valor de nove mil reais, entendeu?"
Nataniel: "Tá."
Nataniel: "Pede a senha 'online', que terça-feira eu deposito uns três 'bara' para ti, lá."
Traficante: "Tá na mão."

A ousadia dos detentos no Presídio Central de Porto Alegre não para por aí. Ligações gravadas pelos investigadores mostram presos entrando em contato com Tribunais. Em uma conversa com o Superior Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ele pede informações sobre um habeas corpus. Para quem está do outro lado da linha, o criminoso se identifica como advogado.

Os detentos também ligam para o Ministério Público em busca de informações sobre os processos a que respondem. Em uma gravação, ele se apresenta como "doutor" e pede para que o processo seja agilizado.

 "Então tu já tomou nota do processo. Assim que chegar, se tu puder dar uma agilizada pra mim, vou ficar muito agradecido, tá?", pede o preso para a atendente do Ministério Público.

Passando-se por "Doutor Eduardo", o preso consegue todas as informações que precisa usando como desculpa problemas com a internet. De acordo com a Justiça do Rio Grande do Sul, apenas informações públicas, disponíveis para qualquer cidadão, foram passadas ao criminoso preso.

"Ele, o preso, como qualquer brasileiro tem o direito de saber a situação do processo dele. O que está errado é ele fazer isso pessoalmente por telefone de dentro de um presidio", disse o desembargador do Tribunal de Justiça, Tulio Martins.

A delegada Graciela Foresti, que comandou as investigações, acha que os telefonemas são uma afronta à sociedade. "Um deboche ao estado, no sentido de não se submeter ao poder estatal e chegar ao ponto de ter a convicção de que, fazendo uma ligação de dentro de um presídio, ele não vai ser identificado.

O que isso tem de relevante não são as informações que foram passadas, mas sim o fato de serem passadas para um detento, dentro de uma penitenciária. Porque este mesmo telefone que ele utiliza pra conseguir informações dentro deste sistema, mesmo que sejam informações públicas, ele pode utilizar em práticas de crimes", disse a delegada.

Fonte: Site G1 RS

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