Tendência é que profissionais envolvidos na abertura e reforma da Kiss não sejam responsabilizados na atual investigação
Os profissionais técnicos - cinco engenheiros e uma arquiteta
- que fizeram projetos que legalizaram a boate Kiss podem não ser indiciados
pela Polícia Civil. Mas a tendência é que eles sejam investigados em um novo
inquérito policial.
Essa investigação deverá ser iniciada após o atual
inquérito, que apura as causas e os responsáveis pelas 241 mortes na casa
noturna, seja remetido à Justiça.
O interesse policial é saber se houve alguma espécie de
favorecimento durante a tramitação dos projetos da Kiss nos órgãos públicos.
E foram estes projetos que legalizaram a Kiss, em abril de
2010, quando ela conseguiu o Alvará de Localização, uma espécie de certidão de
nascimento.
Em 2009, por exemplo, um dos proprietários da boate
contratou a engenheira Jozy Maria Gaspar Enderle, dona da empresa Marca
Engenharia. Ela teria feito o Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI),
mediante o qual conseguiu o Alvará de PPCI no 4º Comando Regional de Bombeiros
(4º CRB). Este documento é considerado fundamental para legalizar locais com
grande aglomeração humana. Há suspeita que, por meio de laços familiares, Jozy
tenha conseguido fazer tramitar dentro 4º CRB um PPCI fajuto. Procurada por
Zero Hora, a engenheira disse que não quer falar sobre o assunto.
Assim como os profissionais que atuaram em reformas da Kiss,
mais pessoas devem ser investigadas em novos inquéritos a serem abertos pela
Polícia Civil.
Cinco engenheiros e uma arquiteta são considerados capítulo
à parte na investigação
Considerados um capítulo à parte durante as investigações
sobre as 241 mortes no incêndio da boate Kiss, os cinco engenheiros e uma
arquiteta que prestaram serviços para os proprietários da danceteria não devem
ser indiciados no inquérito policial. Esta é, pelo menos, a tendência entre os
cinco delegados que estão reunidos fechados em uma sala da Delegacia Regional
de Polícia Civil, no centro de Santa Maria. No encontro, que conta com a
presença do chefe de Polícia, Ranolfo Vieira Júnior, são debatidos os detalhes
finais do relatório do inquérito que deverá ser remetido à Justiça, o mais
volumoso já produzido no Rio Grande do Sul.
Localizada no centro da cidade, a Kiss era uma das mais
movimentadas casas noturnas da região, que incendiou em janeiro e se tornou
símbolo de tragédia mundial. A favor dos técnicos existe a convicção de Sandro
Meinerz, um dos delegados encarregados do caso, que disse o seguinte:
- Os proprietários da boate pegavam as ideias e os projetos
dos engenheiros e faziam as obras por sua conta em risco - afirma.
Já quem pede a inclusão dos técnicos entre os indiciados
está Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da Kiss que está na Penitenciária
Estadual de Santa Maria. Por meio de seu advogado, Jader Marques, Kiko alega
que teria sido o engenheiro Samir Frazzo Samara que o teria orientado a usar a
espuma nas paredes ao redor do palco para evitar o eco do som. A queima da
espuma provocou gases venenosos responsáveis pela maioria das mortes.
- Não só nego que tenha feito tal orientação, como estou
tomando medidas judiciais contra ele - afirma Samara, que, em 2012 fez um laudo
técnico dos níveis de pressão sonora para a boate.
Os engenheiros e arquitetos também estão sujeitos a ação
civil de indenização pelas mortes ocorridas.
Confira qual é o trabalho executado por engenheiros e a
arquiteta na boate:
Arquiteta Cristina Gorski Trevisan
Julho de 2009 - O escritório da arquiteta é contratado para
fazer o Projeto de Reforma do Imóvel. A descrição do projeto foi apresentada à
prefeitura que pediu adequações, como saídas de emergência.
Setembro de 2009 - É feito o Estudo de Impacto de
Vizinhança. O documento diz que a área construída é de 638,25 metros quadrados,
e a capacidade, de 700 pessoas.
Engenheiro civil Tiago Flores Mutti
Dezembro de 2009 - Faz o laudo técnico de medições dos
níveis de pressão sonora. O documento diz que o estabelecimento tem duas
camadas de forro de gesso acartonado, com a espessura de 12 mm, e duas camadas
de lã de vidro de 50 mm. Na época, era um dos proprietários da Kiss.
Engenheira química Giovana Jussara Gassen Giehl
Janeiro de 2010 - Realiza um trabalho para obter o
licenciamento Ambiental.
Engenheiro civil Samir Frazzon Samara
Março de 2012 - Faz um novo Laudo Técnico de Medições de
Níveis de Pressão Sonora. No laudo, não há registro da presença do revestimento
acústico de espuma no entorno do palco. Apenas o teto de gesso e duas camadas
de lã de vidro. Ele afirma ter feito o laudo e pedido que o engenheiro Miguel
Angelo Teixeira Pedroso, que é especialista na área, fizesse o projeto da obra
necessária para resolver o problema.
Engenheiro civil Miguel Angelo Teixeira Pedroso
Março de 2012 - Faz o Projeto de Isolamento Acústico. Ele
diz que as obras foram executadas pelos proprietários que seguiram todas as
suas especificações técnicas. O isolamento foi feito usando massa (paredes,
gesso e lã de vidro). A espuma não foi usada.
Engenharia mecânica Jozy Maria Gaspar Enderle
Março de 2009 - Faz o Projeto de Prevenção Contra o Incêndio
(PPCI) e consegue tirar no 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB) o Alvará
PPCI.
Fonte: Site Zero Hora
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