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quarta-feira, março 20

Cinco engenheiros e uma arquiteta devem ser investigados em novo inquérito policial



Tendência é que profissionais envolvidos na abertura e reforma da Kiss não sejam responsabilizados na atual investigação

Os profissionais técnicos - cinco engenheiros e uma arquiteta - que fizeram projetos que legalizaram a boate Kiss podem não ser indiciados pela Polícia Civil. Mas a tendência é que eles sejam investigados em um novo inquérito policial.

Essa investigação deverá ser iniciada após o atual inquérito, que apura as causas e os responsáveis pelas 241 mortes na casa noturna, seja remetido à Justiça.

O interesse policial é saber se houve alguma espécie de favorecimento durante a tramitação dos projetos da Kiss nos órgãos públicos.

E foram estes projetos que legalizaram a Kiss, em abril de 2010, quando ela conseguiu o Alvará de Localização, uma espécie de certidão de nascimento.

Em 2009, por exemplo, um dos proprietários da boate contratou a engenheira Jozy Maria Gaspar Enderle, dona da empresa Marca Engenharia. Ela teria feito o Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI), mediante o qual conseguiu o Alvará de PPCI no 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB). Este documento é considerado fundamental para legalizar locais com grande aglomeração humana. Há suspeita que, por meio de laços familiares, Jozy tenha conseguido fazer tramitar dentro 4º CRB um PPCI fajuto. Procurada por Zero Hora, a engenheira disse que não quer falar sobre o assunto.

Assim como os profissionais que atuaram em reformas da Kiss, mais pessoas devem ser investigadas em novos inquéritos a serem abertos pela Polícia Civil.

Cinco engenheiros e uma arquiteta são considerados capítulo à parte na investigação

Considerados um capítulo à parte durante as investigações sobre as 241 mortes no incêndio da boate Kiss, os cinco engenheiros e uma arquiteta que prestaram serviços para os proprietários da danceteria não devem ser indiciados no inquérito policial. Esta é, pelo menos, a tendência entre os cinco delegados que estão reunidos fechados em uma sala da Delegacia Regional de Polícia Civil, no centro de Santa Maria. No encontro, que conta com a presença do chefe de Polícia, Ranolfo Vieira Júnior, são debatidos os detalhes finais do relatório do inquérito que deverá ser remetido à Justiça, o mais volumoso já produzido no Rio Grande do Sul.

Localizada no centro da cidade, a Kiss era uma das mais movimentadas casas noturnas da região, que incendiou em janeiro e se tornou símbolo de tragédia mundial. A favor dos técnicos existe a convicção de Sandro Meinerz, um dos delegados encarregados do caso, que disse o seguinte:

- Os proprietários da boate pegavam as ideias e os projetos dos engenheiros e faziam as obras por sua conta em risco - afirma.

Já quem pede a inclusão dos técnicos entre os indiciados está Elissandro Spohr, o Kiko, um dos donos da Kiss que está na Penitenciária Estadual de Santa Maria. Por meio de seu advogado, Jader Marques, Kiko alega que teria sido o engenheiro Samir Frazzo Samara que o teria orientado a usar a espuma nas paredes ao redor do palco para evitar o eco do som. A queima da espuma provocou gases venenosos responsáveis pela maioria das mortes.

- Não só nego que tenha feito tal orientação, como estou tomando medidas judiciais contra ele - afirma Samara, que, em 2012 fez um laudo técnico dos níveis de pressão sonora para a boate.

Os engenheiros e arquitetos também estão sujeitos a ação civil de indenização pelas mortes ocorridas.

Confira qual é o trabalho executado por engenheiros e a arquiteta na boate:

Arquiteta Cristina Gorski Trevisan

Julho de 2009 - O escritório da arquiteta é contratado para fazer o Projeto de Reforma do Imóvel. A descrição do projeto foi apresentada à prefeitura que pediu adequações, como saídas de emergência.

Setembro de 2009 - É feito o Estudo de Impacto de Vizinhança. O documento diz que a área construída é de 638,25 metros quadrados, e a capacidade, de 700 pessoas.

Engenheiro civil Tiago Flores Mutti

Dezembro de 2009 - Faz o laudo técnico de medições dos níveis de pressão sonora. O documento diz que o estabelecimento tem duas camadas de forro de gesso acartonado, com a espessura de 12 mm, e duas camadas de lã de vidro de 50 mm. Na época, era um dos proprietários da Kiss.

Engenheira química Giovana Jussara Gassen Giehl

Janeiro de 2010 - Realiza um trabalho para obter o licenciamento Ambiental.

Engenheiro civil Samir Frazzon Samara

Março de 2012 - Faz um novo Laudo Técnico de Medições de Níveis de Pressão Sonora. No laudo, não há registro da presença do revestimento acústico de espuma no entorno do palco. Apenas o teto de gesso e duas camadas de lã de vidro. Ele afirma ter feito o laudo e pedido que o engenheiro Miguel Angelo Teixeira Pedroso, que é especialista na área, fizesse o projeto da obra necessária para resolver o problema.

Engenheiro civil Miguel Angelo Teixeira Pedroso

Março de 2012 - Faz o Projeto de Isolamento Acústico. Ele diz que as obras foram executadas pelos proprietários que seguiram todas as suas especificações técnicas. O isolamento foi feito usando massa (paredes, gesso e lã de vidro). A espuma não foi usada.
Engenharia mecânica Jozy Maria Gaspar Enderle

Março de 2009 - Faz o Projeto de Prevenção Contra o Incêndio (PPCI) e consegue tirar no 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB) o Alvará PPCI.

Fonte: Site Zero Hora

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