Quando é detectado um caso de corrupção em que há envio de
recursos para outros países, é aberto um processo na Justiça brasileira e,
outro, no local para onde seguiu a remessa ilícita. O governo do Brasil costuma
contratar escritórios de advocacia do país no qual a verba foi depositada para
acionar a Justiça local. Esses processos são facilitados quando há acordos
bilaterais específicos de combate à lavagem de dinheiro e à corrupção.
Mas a verba só é devolvida depois que os processos transitam
em julgado nos dois países, ou seja, quando não cabem mais recurso. O que ocorre
é que os países mais conhecidos como paraísos fiscais normalmente se recusam a
fazer acordos bilaterais para permitir a troca de informações sobre esses
crimes, explica o secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão. Os principais
destinos do dinheiro sujo, segundo ele, são bancos da Suíça, dos Estados
Unidos, das Ilhas Jersey (no Reino Unido) e de países da América Central e do
Caribe.
A Enccla foi criada para agregar atividades de órgãos
governamentais no combate à corrupção, mas o Brasil só começou a reaver parte
do dinheiro transferido ilicitamente para paraísos fiscais em 2008. Em alguns
dos principais casos investigados, o valor devolvido não chega a 1% do total
desviado.
É o que ocorreu com o escândalo da construção do Tribunal
Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP). O esquema que superfaturou a obra,
no início dos anos 1990, foi revelado em 1999. O total do desvio chegou a R$ 1
bilhão, em valores atualizados. O ex-senador Luiz Estevão, foi condenado pela
Justiça a devolver R$ 500 milhões aos cofres públicos, mas apenas R$ 10,7
milhões dos R$ 15 milhões que estavam depositados em bancos da Suíça na conta
pessoal do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto foram repatriados ao Brasil.
O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson
Dipp, que participou de atividades da Enccla, destacou que o volume recuperado
é muito pequeno diante do que foi roubado. Há estudos apontando que há, no
exterior, de forma ilícita, um número infinitamente maior do que o que se
consegue bloquear, mas, para trazer os bens de volta, há uma tramitação
complicada, e o próprio Brasil é muito liberal com recursos judiciais, que
atrasam o resultado, aponta. O que faz com que continue acontecendo corrupção é
a certeza da impunidade. A devolução do dinheiro precisa deixar de ser notícia,
porque o caminho natural do bem que foi tirado do país é que seja repatriado de
imediato, complementa.
Para o juiz Marlon Reis, um dos fundadores do Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), autor do projeto que originou a Lei da
Ficha Limpa, o valor já repatriado pelo Brasil é insignificante perto do que é
desviado. A recuperação dos ativos tem que ser vista com prioridade maior, e
essas constatações devem levar a ações concretas do poder público, aprimorando
a legislação interna e avançando no diálogo com os demais países, comenta.
De acordo com normas internacionais, o dinheiro ilícito
repatriado para o país onde ocorreu o crime deve ser dividido entre as nações
envolvidas na investigação, e 5% do total é repassado ao Fundo das Nações
Unidas para Prevenção ao Crime e Justiça Criminal. No entanto, por acordo, os
R$ 40 milhões já devolvidos para o Brasil por países que abrigavam o dinheiro
sujo foram encaminhados para o Tesouro Nacional. A maior parte dos recursos é
utilizada, segundo o governo, para investir no combate à corrupção.
Fonte: JusBrasil
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