[…] O sonho é seu e vai
além do que você faz,
Pois te faz ser o que
você é.
Por isso, mais do que
ter,
É preciso ser esse
sonho,
Para se tornar seja lá
o que você quiser […]
Allan Dias Castro
Chega uma hora em que a gente
diz: é isso. Nessa hora não importa mais o que os outros pensam e nenhum
julgamento tem mais espaço para nos fazer mudar a decisão (inclusive nossos
próprios julgamentos). Pois é, está decidido. Não damos mais ouvidos aos
entendidos de plantão e não nos ofende a fala contrária. Não importa o que a
tia pensa, a vulgarização do trabalho “no crime” ou a opinião pública.
Tá aí! Não há espaço para a
opinião pública, não como talvez um dia houve. Nossa “inocência social”
corrompida pela realidade, se ela ao menos existiu, grita por ação. A realidade
pulsa. Algo que corre em nosso sangue fala mais alto e haja percepção para
compreender a profundidade de trabalhar com as mazelas humanas, conviver todos
os dias com a dor, com a tragédia, viver em tensão.
Da história que nos é contada entre o bem e o
mal (no sentido sensacionalista da colocação de certo e errado) não são
narradas suas entrelinhas, que de ocultas não têm nada, pois estão na linha de
frente para todos vermos. Elas saltam aos olhos, machucam a alma de quem sente.
A opinião pública que existe não
nos representa. Ela compatibiliza com o que pensa parte da sociedade,
normalmente a parte que pouco se importa e que não vê muito além do próprio
umbigo. Intolerante, egoísta, que quer o bem para os seus e quanto aos outros,
bem, os outros pouco interessa, desde que não incomodem.
Tá decidido, é isso! É nossa
decisão não ser a voz omissa diante do grito ensurdecedor, diante da limpeza
social feita por meio do Direito Penal e da segregação daqueles que não
queremos por perto. Somos linha de frente diante da máquina estatal, somos o
escudo do débil. Eu sou parte do sistema judiciário e aqui há força.
Tomada a bendita decisão (há quem
diga que é o mais difícil de se fazer), nos deparamos com uma singela ironia da
vida: já éramos Criminalistas antes mesmo de decidirmos ser. O veredito de “ser
algo” serve apenas para formalizar o que há muito já estava dentro de nós. Com
o passar dos dias e das experiências, percebemos que já éramos aquilo que
queríamos ser, estamos apenas nos descobrindo, lapidando, tornando o que
realmente somos. E, acredite, somos grandes.
Essa descoberta vira sua vida de
pernas pro ar, não somos o que acreditávamos ser, nem de longe. Somos maiores.
Maiores o suficiente para passar por cima de opiniões tolas e preconceitos
alheios com firmeza. Aprender com esse processo é incrivelmente apaixonante:
tudo passa a fazer sentido.
O pulso que pulsa, a perna que
treme, o desejo de fazer da técnica justiça. A advocacia criminal não tem outra
forma de ser. Ela vem de gente, trata com gente, fala sobre vidas, revela
histórias, é mutável, nos faz aprendiz da arte que trabalha com as dores do
mundo. É desesperadamente HUMANA.
A advocacia nos socorre e nos
permite socorrer. Permite representar o menor dos menores, o débil mais
infeliz, de igual para igual (pelo menos lutamos para que assim seja) com o
Estado que vinga. O mesmo Estado que deveria resguardar, mas seguindo o canto
da sereia, mata e tortura.
O que nos move? É isso? Então é.
Enfrentadas as batalhas, apesar
do ego estufar alguns peitos, aqui se fala do que soa e ecoa. Quando o
criminalista se satisfaz com um ato de justiça alcançado não há vitória
pessoal, é a sociedade que vence, pois em pequenos atos de trabalho deste, onde
se obtém sucesso, é a justiça que se reproduz nos seus aspectos mais genuínos.
O amor pela advocacia criminal
dói e nos faz bem. É absurdamente contraditório, sim. É uma rota de dores que
ao mesmo tempo é combustível. Já dizia GANDHI, que somente no sofrimento é
possível conhecer a verdadeira compreensão interior. Quanto mais conhecemos a
dor do outro mais nos conhecemos, mais sabemos quem somos.
Descobrir-se criminalista é descobrir o outro em si mesmo. É entender
que a dor do próximo também é sua. Apesar das dificuldades, não há que se
falar em fardo quando se trabalha com amor e nada é pesado o suficiente para
nos fazer desistir do que acreditamos.
O que faz seu coração bater?
Apaixonar-se intensamente (e
insanamente) pelo que se faz é requisito necessário para atuar com maestria. Na
advocacia criminal não há espaços para pouco amor, pouca dedicação ou pouco interesse.
Aqui, o brilho no olhar é fundamental.
Então, bem longe das palmas, em meio ao mar de perdas, decidimos e
reconhecemos a necessidade da advocacia para afastar modelos obsoletos de
justiça. Optamos ser linha de frente no cotidiano de arbitrariedades e de
violações de prerrogativas. Escolhemos ser a voz que, indiferente aos
preconceitos, defende sem ver a cor da pele, a opção sexual, a situação
financeira. Defende porque defende.
É isso. Não nos importamos com a ausência de aprovação, o que importa é
ser o melhor escudo na linha de frente. Seja para defender a condenação dentro
do que, como sistema e Estado, estipulamos em regras para viver em sociedade ou
para defender a absolvição quando a ponta da flecha mira o alvo.
Eu quero ser advogado(a) Criminalista.
Eu sou advogado(a) Criminalista.
Quando decidimos, meu amigo, com
nossas inquietações seguimos porque nos descobrimos anjos e demônios, culpados
e inocentes, estupidamente miseráveis amáveis.
Há quem trabalhe com as duas mãos
livres e quem trabalhe com dificuldades para segurar as máscaras. No meu
trabalho a esperança não faz parte da luta. A luta faz parte da luta. Não
lutamos por ter esperança no final feliz (e há tempos a advocacia criminal não
sabe o que são finais felizes), nós lutamos porque nascemos para lutar, nós
lutamos porque lutamos. E caso você não tenha entendido a nobreza de tudo isso,
vá para o outro lado, faça qualquer coisa, mas não seja advogado criminalista.
Fonte: Canal Ciências Criminais
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