Crédito: Tarsila Pereira |
A criação de uma ala exclusiva para travestis e
homossexuais, no Presídio Central de Porto Alegre nesta segunda-feira, vem
atender a uma reivindicações dos gays que cumprem pena no estabelecimento
penal. O RS é o segundo estado brasileiro a ter uma ala exclusiva para
homossexuais. O primeiro foi Minas Gerais. Segundo um dos detentos, conhecido
como Nalanda, com esta nova ala, situada na 3ª galeria do pavilhão H, os
homossexuais se sentem mais tranquilos e seguros.
Anteriormente, independente da orientação sexual, eles
estavam divididos em outros pavilhões, em especial o G, onde a homofobia
gerava, inclusive, agressões físicas. “Não podíamos andar pelo corredor no dia
de visitas, pois os presos não queriam que seu familiares soubessem da
existência de travestis na ala”, lembra Nalanda, que tem mais um ano a cumprir
de pena, por roubo. “No pátio, tínhamos que ficar atrás das colunas ou deitadas
no chão, para que as visitas não nos vissem.”
E não ficava apenas nisso. Segundo Nalanda, o tratamento dos
outros detentos no pavilhão G era semelhante ao dispensado a castas inferiores,
na Índia, com os “intocáveis” por exemplo. “Os outros presos, não pegavam uma
caneca que tínhamos tocado”, conta. “Nem comiam, se soubessem que tínhamos
tocado na panela ou outro recipiente”, recorda.
No novo local, salienta Nalanda, a situação mudou
totalmente. Ela afirma que os colegas de cárcere se sentem mais seguros. Eles
podem andar pelos corredores, sentar e ficar conversando, sem que ninguém os
force a se esconder nos dias de visitas.
Na ala, estão 36 presos (a capacidade é para 43), a maioria casais. Nesse
grupo, muitos se dedicam ao artesanato ou a lavar roupas para outros detentos
do Presídio Central. “No pátio, que agora podemos ir sem medo, jogamos
futebol”, assegura o detento. “Aqui no pavilhão H melhorou muito, não somos
mais oprimidos apenas pela nossa opção sexual.”
O mesmo pensamento tem Thaís, um travesti de 22 anos, que
foi preso sob acusação de tráfico de drogas. Ele já está no final da pena e
espera para breve a libertação. O detento também lembra do tempo em que era
considerado algo repulsivo, que tinha que ficar escondido, para que os outros
não vissem. Se não fizessem isso, com certeza sofreriam algum tipo de agressão
física. “Era muito triste ter que me esconder, apenas porque não me aceitavam
como ser humano”, lamenta. “Agora, ando pelo pátio livremente.”
Foto: Tarsila Pereira |
Para Marceli Malta, da Associação dos Travestis do RS, o
espaço inaugurado é lugar de liberdade. “Elas (travestis) estão aqui para pagar
pelos seus crimes”, disse. “Mas, também para cumprir a pena com dignidade e sem
torturas”, salienta.
Fonte: Site Correio do Povo
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