Terços, pulseiras e colares produzidos no Complexo
Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, vão ganhar o mundo a partir de 23
de julho, quando jovens católicos de todo o planeta estarão no Rio de Janeiro
para encontrar o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude. Os artigos
religiosos do evento já estão sendo feitos pelas mãos de 60 internos do Centro
de Detenção Provisória (CDP) que trabalham para uma empresa de Brasília
selecionada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro para fabricar 40 mil peças
exclusivamente para o encontro.
Até o fim de maio, 50% da meta será atingida. É o resultado
do trabalho do professor de artesanato que, desde fevereiro, visita o Complexo
da Papuda quatro vezes por semana para ensinar presos a manusear corretamente
alicates, cristais, fios, entre outros materiais. Além de transmitir aos
detentos o ofício que aprendeu durante os quatro anos que passou em um
seminário da Bahia, o religioso Kelmon Luís de Souza prega o Evangelho para
afastar homens da criminalidade.
Por questão de segurança, tudo é conferido na entrada e na
saída das oficinas. “Percebo o resultado do trabalho na mudança de
comportamento deles. Hoje eles estão mais sensíveis, mais serenos”, afirma o
professor, que conduz uma oração ao final das atividades do dia.
“É uma benção de Deus. Me sinto melhor. O dia passa mais
rápido”, diz E., um dos alunos da oficina. Divididos em grupos de quatro, os
alunos artesãos trabalham sobre as mesas da biblioteca, convertida em linha de
produção de artigos religiosos praticamente todos os dias da semana. Além de
aprender um novo ofício, os detentos recebem pagamento por cada peça fabricada.
“Varia entre 50 e 60 centavos”, explica o advogado proprietário da empresa,
Paulo Fernando Melo.
De acordo com o diretor do CDP, Nivaldo Oliveira, poder
estudar e trabalhar é o sonho da maioria dos 2,7 mil homens sob custódia na
unidade prisional. Como as vagas para estudos e trabalho são limitadas, a
seleção privilegia detentos com bom comportamento e que tenham cometido crimes
com menor potencial ofensivo.
Além de interromper um cotidiano de ociosidade, os presos
também miram a remição da pena – a cada 12 horas trabalhadas, 4 horas são
eliminadas do tempo devido à Justiça. “Quando o preso não fica ocioso, a
tendência é que ele não queira prejudicar a estrutura da prisão. Como esse
trabalho também tem um aspecto espiritual e moral, o preso acaba recebendo
também noções do que é certo ou errado”, diz o diretor.
Outro detento que participa da oficina, P. destaca o aspecto
terapêutico da atividade. “É bom para tirar o estresse do dia a dia aqui
dentro”, afirma. O morador de uma cidade do Entorno de Brasília já faz planos
para seu futuro profissional longe do crime. “Já sou carpinteiro e eletricista,
mas queria um curso para aprender mecânica de carros. Lá onde moro faz
falta”.
O dono da Jabuti Artigos Religiosos, Paulo Fernando Melo,
mantém o otimismo apesar de um contratempo burocrático no Porto de Santos que
impede a chegada de mais matéria-prima à oficina. A proposta é manter as
atividades no CDP mesmo após o fim da Jornada Mundial da Juventude. “Vamos
investir em outras linhas de produção. Estou pensando no segmento Copa do Mundo
2014”, revela.
Começar de Novo – O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou
em 2009 o Programa Começar de Novo, que tem como objetivo incentivar o setor
público e a iniciativa privada a apostarem na reinserção profissional de presos
e egressos do sistema prisional. A proposta é gerar oportunidades de
capacitação profissional por meio de convênios e parcerias entre o Poder
Judiciário, entidades e empresas para promover a cidadania de pessoas que
cumprem ou já cumpriram penas e, desta forma, reduzir a reincidência criminal.
Até hoje, pelo menos 5,3 mil pessoas já ganharam a chance de trabalhar ou
estudar graças ao programa.
Fonte: Agência Câmara de Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário