Os cortes feitos durante o esquartejamento do corpo de
Marcos Matsunaga, empresário assassinado em maio, e o material biológico
coletado no apartamento onde ocorreu o crime levaram a Promotoria a pedir à
Polícia Civil a abertura de novo inquérito sobre o caso. Segundo as
investigações do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), a mulher
do diretor da Yoki, Elize Matsunaga, foi a autora do crime.
Ocorrido em 19 de maio, o crime teria sido motivado pela descoberta
da infidelidade de Marcos. Para a acusação, Elize também queria ficar com um
seguro de vida da vítima. A defesa da acusada alega que ela só atirou após ter
sido agredida pelo marido.
Como adiantou o G1 na tarde desta quarta-feira (17), o
promotor do caso, José Carlos Cosenzo, entrou com o pedido por considerar que
uma pessoa, além da viúva, participou do desmembramento da vítima. “Os cortes
feitos no abdômen foram feitos por quem tem pleno conhecimento de anatomia”,
disse Cosenzo. “Já os cortes superiores são diferentes.”
Isso evidenciaria que Elize mentiu ao afirmar que agiu
sozinha na tentativa de ocultar o cadáver, segundo Cosenzo. O promotor afirmou
que desconfiava desde o início dessa possibilidade ao levar em conta o tamanho
franzino da acusada e a força necessária para o esquartejamento.
O advogado de Elize, Luciano Santoro, disse considerar
“excelente” o pedido de novo inquérito. “Mostra a tentativa desesperada do
promotor de manter em pé a tese de premeditação.” Segundo o defensor, apenas
com a terceira pessoa no apartamento o representante do Ministério Público
consegue provar que a acusada pretendia matar o marido.
Faca
Na opinião do promotor, o equipamento que a ré afirma ter
usado também não condiz com os cortes feitos no abdômen. “Ela diz que usou uma
faca de cerâmica de 30 centímetros, mas o corte inferior aparentemente foi
feito por material mais preciso, como um bisturi.”
O advogado de Elize contesta essa conclusão. “Quando ela
segmentou o corpo, ele não estava totalmente desnudo.” Segundo Santoro, sua
cliente tirou a calça da vítima para fazer as secções inferiores. Para cortar
os membros superiores, porém, não conseguiu retirar a sua camiseta, o que teria
causado as diferenças gritantes entre os cortes.
DNA
A tese do promotor ganhou força com a conclusão de perícias
feitas após o crime. Especialistas do Instituto Médico-Legal (IML), da Polícia
Técnico-Científica, informaram que foi encontrado material genético masculino
no imóvel dos Matsunaga diferente do de Elize e de Marcos.
O exame de DNA chegou ao conhecimento do Ministério Público
no mês passado. No documento, a perita Roberta Casemiro da Rocha Hirschfeld
escreve que em um dos cotonetes com as amostras coletas no apartamento há “um
perfil genético compatível com uma mistura de material genético de no mínimo
dois indivíduos, sendo ao menos um deles do sexo masculino”.
A perita completa que “nestes perfis, não foi observado
relação de verossimilhança dos alelos neles presentes e os alelos presentes no
perfil genético obtido do sangue da vítima Marcos Kitano Matsunaga, estando
este excluído como possível gerador destas amostras.”
Apesar de a perícia ter respondido à Promotoria que é
impossível precisar a data na qual o material foi deixado na residência, ela
também relatou que não se pode excluir da cena do crime nenhuma pessoa que
passou pelo local antes, durante e depois do assassinato.
O promotor diz não ter dúvidas de que Elize matou sozinha
Marcos. O novo inquérito quer justamente verificar se alguém ajudou a cortar o
corpo e a escondê-lo. Para isso, o promotor pediu 40 novas diligências
técnicas, periciais e testemunhais.
Cosenzo acrescentou que o material coletado no apartamento é
suficiente para confrontar com o DNA de suspeitos.
Apuração
As babás e o marido de uma dessas funcionárias teriam sido
as últimas pessoas a estarem na residência dos Matsunaga, na Zona Oeste, antes
do assassinato. Em seus depoimentos ao DHPP, na condição de averiguados, os
três negaram qualquer envolvimento na morte do patrão.
O diretor do DHPP, Jorge Carrasco, não foi localizado nesta
quarta para comentar o assunto. Quando foi questionado no mês passado sobre a
possibilidade de a Promotoria pedir uma nova investigação por suspeitar que
Elize pudesse ter sido ajudada no crime, ele havia dito que instauraria o
inquérito. Mas, baseando-se na investigação e laudos periciais, inclusive o da
reconstituição do crime, Carrasco entendia que a bacharel continuava sendo a
única suspeita do crime e que agiu sozinha.
“A polícia entende
que ela agiu sem nenhuma ajuda. As próprias imagens do circuito interno de
câmeras de segurança do prédio mostram somente ela saindo com as malas onde
estavam os pedaços do corpo da vítima. Por enquanto não há elementos que
apontem a participação de outra pessoa”, disse o diretor ao G1 em 4 de
setembro.
Sigilo negado
Os defensores dos interesses da família de Marcos chegaram a
pedir à Justiça sigilo no processo, mas a solicitação foi negada. A alegação
dos advogados se baseava no fato de que as fotos da autópsia do corpo da vítima
vazaram na internet, causando constrangimento aos parentes.
Quase cinco meses após a bacharel em direito Elize Araújo
Kitano Matsunaga ter sido presa preventivamente ao confessar que matou e
esquartejou sozinha o marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, o
Ministério Público de São Paulo recebeu explicações sobre o exame de DNA feito
no apartamento do casal.
Fonte: Site G1
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