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terça-feira, novembro 5

Presídios do RS têm sinal de celular melhor do que hospital indica teste





(Foto: Giovani Grizotti/RBS TV)
Um teste realizado por meio de um sistema que mede a qualidade do sinal de celulares aponta que a intensidade de sinal no Presídio Central, em Porto Alegre,  e no Presídio de Alta Segurança de Charqueadas é melhor do que em locais como o Hospital de Clínicas, o prédio do Ministério Público e delegacias de polícia da capital.  A facilidade de usar os aparelhos dentro das cadeias estimula um mercado clandestino de aparelhos, que já gerou a apreensão de 21 mil telefones desde 2011.

A equipe da RBS TV mediu o sinal em Porto Alegre e em Charqueadas, na Região Metropolitana (veja no vídeo ao lado). Próximo ao Centro da capital funcionam seis delegacias que investigam homicídios. O celular, uma das principais ferramentas de trabalho, fica mudo a maior parte do tempo. Para fazer uma simples ligação os servidores precisam caminhar até a rua. Dentro da sala da delegada, o teste foi feito com quatro operadoras diferentes, usando aplicativos que medem o sinal da telefonia móvel.

No sistema, a intensidade do sinal é medida em números sempre negativos. Quanto mais próximo de zero, melhor. A qualidade máxima é indicada por -50. A partir de -105, a conversação fica inviável. Durante o teste na delegacia, em uma das operadores o sinal apareceu, mas sem condições de completar a chamada.
“No final do dia, quando eu saio daqui, entram as chamadas perdidas. Aí sim eu posso retornar. É complicado”, reclama a delegada Ana Rita Barbosa Loss.

A dois quilômetros de distância, dentro do Presídio Central, a intensidade chegou a ser 80% mais forte. Enquanto na polícia o aparelho aponta -113 pontos, no presídio são - 69 pontos. Enquanto isso, os crimes são combinados pelos próprios detentos.

Preso: "Então, me liga quando tu ver aí que eu vou mandar o "véio" aí, "tá?"
Contato: “Quem quer matar aquele cara sou eu. Tu me dá o ferro aí e eu mato”.
Em outra escuta, os presos negociam aparelhos dentro do presídio.
Preso 1: "E aí "mano veio" tem uns aparelhinho bom, aí?"
Preso 2:  "Tem tem, é uns mil pra cima"
Preso 1:  "Tá e carregador?"
Preso 2:  "Carregador tem, mas aí tem que comprar separado, né"
Preso 1:  "A para, dá uma força sou eu que tá falando"
Preso 2:  "Vou mandar pra ti olhar aí".

O delegado Tiago Baldin conta que já interceptou ligações provenientes da cadeia. “Não percebi nenhuma queda de sinal. Pelo contrário, é um sinal claro, limpo. O que acaba nos ajudando em termos de investigação criminal. O que nos causa repulsa é saber que o sinal de telefonia para pessoas reclusas do sistema prisional, que não deveriam ter acesso a esse tipo de serviço, acabam tendo mais facilidade que nós”, aponta Baldin.

A qualidade do sinal fez surgir um mercado clandestino de telefones dentro da cadeia, entre os presos. Escutas obtidas com exclusividade pela RBS TV flagram negociações de aparelhos. O valor de um aparelho começa em R$ 1 mil.

Hospitais também apresentam problemas no sinal da telefonia

O sinal que sobra no presídio, falta em um dos principais hospitais da capital. Sobre a mesa da emergência lotada do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, celulares ficam fora de serviço. E de todas as operadoras. Um médico plantonista tenta ligar ao Samu, mas não consegue contato. “Estou tentando ligar daqui de dentro, mas não dá. Qualquer ligação tem que ser do telefone fixo”, explica o médico Márcio Rodrigues.

No prédio do Ministério Público, ocorre a mesma situação. Para o juiz Sidnei Brzuska, a telefonia móvel retira a principal missão do presídio. "No momento em que o telefone celular ingressa no presídio e o preso faz uso deste telefone celular, a principal função da prisão, que é conter o sujeito, deixa de existir, porque os crimes de roubo, tráfico e homicídio seguem sendo praticados com o uso deste veículo de comunicação”, aponta Brzuska.

Em Charqueadas, na Penitenciária de Alta Segurança (Pasc), a força do sinal foi medida, e apenas o chip de uma das operadoras não funcionou. Os outros indicaram, em média, uma intensidade boa, suficiente para se conversar durante horas. 

“A última empresa que estava fazendo esses testes na Pasc era uma empresa paulista e chinesa, que tinha capacidade de fazer o monitoramento de sinal e nos trouxe relatos que o sinal estava muito forte, o que dificultava o trabalho dos bloqueios”, contou o superintendente da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), Gelson Treiesleben.

Sindicato diz que cabe ao poder público encontrar alternativa

A farra dos telefones nas cadeias é medida pelos números. Nos últimos dois anos e meio, 21 mil aparelhos foram apreendidos nas penitenciárias gaúchas. “E não sabemos quantos ainda estavam e ainda estão. De fato, o celular na mão do delinquente é uma arma ou até mais do que isso. Permite uma comunicação que dificilmente se consegue acompanhar”, opina o promotor de justiça Gilmar Bortolotto.

A Susepe afirma que está intensificando as revistas e adquirindo equipamentos para coibir a entrada de aparelhos. “Se tivéssemos o apoio das operadoras em liminar ou o perímetro das penitenciárias com zero de sinal, seria interessante pra segurança”, afirma Treiesleben.

A operadora Oi disse que oferece cobertura de sinal suficiente em todo o município de Porto Alegre e em mais 397 cidades gaúchas. A Claro informou que tanto o Presídio Central, na capital, quanto a Penitenciária de Alta Segurança, em Charqueadas, estão dentro dos perímetros onde a empresa tem cobertura. A Vivo disse que a sua engenharia está verificando a qualidade do sinal nos locais apontados. A RBS TV não conseguiu contato com a Tim.

O sindicato que representa as empresas diz que cabe ao poder público encontrar saídas para bloquear as comunicações nos presídios e nega que haja falta de critério na distribuição do sinal da telefonia.

“Não há falta de critério. O que há é o planejamento de uma rede móvel que tem como uma das premissas, justamente, a qualidade e a capacidade da rede. Então, não há discriminação entre localidades. O que existem são projetos que dependem da condição de propagação de sinal. Eventualmente tem alguma restrição para a instalação de infraestrutura da operadora no local e isso pode acarretar uma situação diferenciada. Os locais que têm condição geográfica mais favorável a principio tem sinal de melhor qualidade”, completa Sérgio Kern, da Sintelebrasil.

Fonte: Site G1 RS

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