Minha experiência escolar foi absolutamente comum. Meu primeiro contato com a Escola aconteceu em um Grupo Escolar – hoje Escola Estadual Cassiano do Nascimento – que era também o local de trabalho da minha mãe. Neste espaço cursei um ano de jardim da infância, e tive uma vivência bastante intensa. Minha professora, a do jardim, contribuiu para que eu construísse minhas primeiras impressões sobre a ideia de professor: ela era meiga, afetiva, amorosa e dedicada.
Pelas suas mãos descobri que a sala de aula é um ambiente também de afetividade. Nesse local, ainda muito cedo, construí a primeira grande amizade, daquelas que a sala de aula, por tudo que representa, permite edificar; aprendi a valorizar o cenário escolar, e a respeitá-lo e honrá-lo.
Como qualquer criança eu reproduzia, em casa, com as amigas e vizinhas, as atividades próprias da escola, através das brincadeiras tradicionais de escolinha. Lembro de haver recebido de presente, em mais de uma oportunidade, quadro negro e giz, que serviam como um instrumento útil para as referidas brincadeiras.
Cresci cercada de matrizes, álcool e mimeografo, acompanhando de perto o trabalho da minha mãe. Cartazes e cadernos caprichosos, especialmente os cadernos caprichosos, com planejamento detalhado das atividades que ela realizava com seus alunos: eles me fascinavam.
Prossegui meus estudos de primeiro grau, e por ocasião da alfabetização, convivi com uma professora que seguramente foi responsável pelas primeiras impressões que estabeleci sobre o que é ser professor: ela me fazia ter curiosidade, despertava em mim a fantasia, o mágico que existe em desvendar e conhecer.
Minha trajetória escolar foi marcada pela aplicação. Aluna compenetrada, responsável e muito independente – meus pais me fizeram compreender, desde cedo, que a responsabilidade com o estudo era essencialmente minha. Não obstante dedicada, nunca fui uma aluna brilhante, ou nota dez. Era mediana.
Envolvia-me com facilidade nas atividades que a escola propunha, desde as esportivas, passando pelas teatrais, educativas, feiras, projetos, excursões, enfim, freqüentei muito e vivi bastante a minha Escola. E sempre mantive boa relação com meus professores, alguns muito comprometidos com o seu trabalho. Outros, nem tanto. Em alguns era perceptível o entusiasmo com que ensinavam. Em outros isso não era real.
Nessa época, nenhum professor foi marcante para mim. Eles eram todos ‘normais’.
Do segundo grau, hoje ensino médio recordo meu zelo, porque preocupava-me o vestibular – eu tinha anseio por uma profissão que me proporcionasse, acima de tudo, independência. Eu queria ser livre.
Ingressei na Universidade e me mantive aluna interessada e apaixonada pelo que eu escolhera. Porém, não fui sempre uma aluna assídua: em algumas disciplinas eu simplesmente não conseguia. Aprazia-me mais trabalhar durante o dia, e realizar uma boa leitura a noite em casa. Hoje percebo que os professores que tive nessas disciplinas foram responsáveis pelo meu desestímulo em estar na sala de aula, mas ao mesmo tempo foram responsáveis pelo meu apego à leitura e ao estudo autônomo.
Graduada, minha trajetória docente iniciou-se mais por um acaso do destino do que por uma opção consciente.
Porém algo prestímano aconteceu: uma vez transcorrido o primeiro semestre de trabalho docente fui conquistada por esta profissão, e a abracei de forma plena.
A sala de aula, desde então, se constitui no espaço que venho ocupando já há duas décadas.
Venho construindo e consolidando, passo a passo, minha identidade profissional. Vou arquitetando-a partir da minha intuição, da minha própria história pessoal. Porém me sinto inquieta. A inquietude quanto às minhas próprias práticas pedagógicas vem impulsionando-me à realização de estudos e reflexões mais aprofundadas sobre o processo de ensino do Direito que passa, necessariamente, pela investigação sobre a própria formação do professor que se joga à tarefa dos ensinamentos jurídicos.
O caminho ainda é longo. Certamente será bem mais longo, muito mais extenso do que eu mesma supunha. Mas não há problema. Eu encontro razões para prosseguir. Até porque sei que um professor nunca está pronto. Está, sempre, em construção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário