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quarta-feira, dezembro 8

A propósito da homofobia

Registro: 88% mais queixas na web.
 
 
As denúncias de conteúdo homofóbico na internet renderam 4.983 queixas nos primeiros nove meses de 2010, 88% a mais do que no mesmo período de 2009. O crescimento foi na contramão dos vários outros tipos de denúncia de abuso na internet, como racismo e intolerância religiosa, que diminuíram. Os dados são da ONG SaferNet.

Os casos de homofobia ultrapassaram os de xenofobia, que acontecem com naturalidade nas redes sociais - como os recentes comentários de uma estudante de Direito de São Paulo pedindo o afogamento de nordestinos. Para se ter ideia, as denúncias de racismo caíram 57% no período, enquanto as reclamações de neonazismo, 65%.

A última manifestação virtual de grande vulto foi logo após os ataques a jovens na Avenida Paulista após uma suposta paquera. A polêmica "Homofobia sim!" contra "Homofobia não!" tomou conta do Twitter.

O conteúdo homofóbico é comum também no Orkut. É onde estão 93% das denúncias registradas pela SaferNet em 2010. Entre as comunidades que já apareceram nesse site de relacionamentos estão "Odeio Travecos", que chegou a ter cem participantes, "Matem os Travecos" e "Eu Odeio Gays". Nelas, as ofensas são variadas e há tópicos de discussão sobre como e onde matar homossexuais.

Segundo Thiago Tavares, da SaferNet, o número de internautas no Brasil saltou de 30 milhões para 73 milhões em quatro anos. E isso não foi acompanhado de uma política de direitos humanos na internet que vigiasse e punisse essas manifestações. A homofobia ainda não é considerada crime e um projeto de lei que tramita no Congresso tenta mudar esse quadro. Já o Grupo de Combate a Crimes Cibernéticos do Ministério Público Federal se concentra nos temas de pornografia infantil e crimes de racismo, considerados federais - o Brasil é signatário de acordos internacionais sobre ambos.

Tavares afirma que 5.025 páginas de homofobia foram removidas entre 2006 e 2010 pelo trabalho da SaferNet. Dessas, 4.492 eram perfis e comunidades homofóbicas do Orkut. A ONG mantém essa interlocução com os provedores para facilitar a retirada do conteúdo. O Google diz prezar pela liberdade de expressão na rede e que não é responsável pelo conteúdo publicado no site de relacionamentos Orkut.

Para o presidente da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, Ideraldo Beltrame, o avanço da homofobia na internet é uma reação aos avanços dos últimos tempos e aos debates que acontecem em torno do projeto de lei que criminaliza a homofobia no País. O tema já recebeu extenso apoio público e foi bastante debatido durante as últimas eleições.

Ele afirma que sob o anonimato da internet escondem-se pessoas homofóbicas que teriam dificuldade de trazer isso a público de outra forma, mas também grupos organizados que pregam a homofobia.

A presidente do Comitê de Estudos sobre Diversidade Sexual e Combate à Homofobia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Adriana Galvão Moura, também pede maior controle sobre o conteúdo divulgado na internet. Ela afirma que o alcance da rede tem a capacidade de amplificar uma mensagem homofóbica. "O comentário feito por uma pessoa tem um alcance enorme, às vezes maior do que fora da internet. Isso conquista adeptos."

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo

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