Leia, abaixo, editorial de Zero Hora de hoje(19).
A tatuagem da intransigência
Compreende-se que a Brigada Militar tenha as suas normas disciplinares e que os concursos públicos para o ingresso na corporação obedeçam a critérios rigorosos de seleção. O que é difícil de entender é a falta de bom senso num episódio como esse dos candidatos a salva-vidas, que foram eliminados sumariamente por terem o corpo tatuado. Pelo que se sabe, o desenho na pele não impede ninguém de nadar, nem diminui a condição física e a competência de seu portador. É preocupante pensar que candidatos capacitados a prestar bons serviços à população possam estar sendo afastados por uma questão puramente estética.
Evidentemente, cada caso merece uma análise particular. Se o cidadão teve o péssimo gosto de gravar no corpo uma mensagem ofensiva, com potencial para comprometer a imagem da organização que eventualmente o emprega, a restrição pode ser procedente. Mas a generalização é injusta, principalmente nos tempos atuais, em que expressar sentimentos e afetos na pele virou moda. Trata-se de um preconceito associar tatuagens e piercings a comportamentos irresponsáveis. Embora tais adornos sejam mais comuns em jovens e adolescentes, atualmente também podem ser encontrados na pele de cidadãos acima de qualquer suspeita, empresários, chefes de família, artistas e atletas. Não é incomum, por exemplo, que pais e mães gravem no corpo os nomes dos seus filhos, numa forma simbólica de expressar o amor eterno.
Diante desta realidade, conjugada com a necessidade de ampliação e qualificação do quadro de salva-vidas no período de veraneio, é de se esperar que o comando da Brigada Militar revise seu critério de seleção. Para os cidadãos, que sustentam os serviços públicos com seus impostos, o importante é contar com proteção adequada – venha ela de indivíduos assépticos e alinhados ou de soldados com aparência de marinheiros do século 19.
Fonte: Jornal Zero Hora
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