Um acontecimento bem ordinário - em relação ao qual eu não tenho qualquer aborrecimento - é o encontro de final de ano com as amigas. A famosa 'ceia' - assim nós o chamamos.
Ele sempre acontece nesta semana que intermedeia o Natal e o Novo Ano. Ontem foi o dia. O grupo da janta esteve reunido, com exceção da Fossati, cuja falta foi sentida. Além do grupo tradicional, também tivemos a oportunidade de reunir as 'seis jesus' (só quem sabe, entende).
A noite foi muito legal. Quase à saída, li o texto abaixo que escrevi, como de praxe, para as Amigas.
Certamente não foi para muitas de nós. Por razões diversas, esse ano nos pesou.
Mas a vida é assim mesmo, e precisamos nos preparar para o que ainda há de vir.
E virá.
A maturidade nos traz muitas dádivas, mas também alguns fardos.
Já não temos mais o mesmo pique. Percebemos isso. O corpo evidencia com intensidade nossos limites...
Os nossos filhos crescem, e tudo passa a nos preocupar mais do que antes. E como ocupam, também. Fazem-nos sofrer, chorar; dão-nos alegrias, é verdade, muitas alegrias. Mas nos desassossegam na mesma proporção.
Nossos companheiros, tal como nós, sentem o peso da idade e das nossas ansiedades cotidianas. As aflições são deles também.
Já os nossos pais envelhecem. Muitos ingressaram numa linha descendente. Nós os perdemos aos poucos, e vamos nos dando conta disso...Ou os perdemos de surpresa, como também acontece.
Tudo precisa ser superado. E temos que ser fortes o suficiente para isso (mesmo que muitas vezes estejamos enfraquecidas, abatidas, desanimadas).
Tudo pesa e cansa.
As doenças se instalam. Mais ou menos graves, elas se apresentam para nós. A idade chega, e mostra a sua cara, e a que veio.
Da necessidade de uns óculos, às dores crônicas no corpo ou na coluna, em meio à agonia, temos que encarar tudo de frente, e combater, dia-a-dia aquilo que nos pode fazer esmorecer.
Já sabemos, agora por experiência própria, que sem saúde tudo se perde.
Profissionalmente podemos ter adquirido a estabilidade desejada. Já não precisamos lutar tanto para as conquistas, mas é preciso guerrear muito para manter o que absorvemos.
Não fosse isso pouco, ainda há as peças que a vida – o coração mesmo – nos prepara.
Divisões, dúvidas, anseios, medos. Vontade de mudar de vida. Fazê-lo, ou não? Experimentar ou contentar-se com o que há? Manter equilíbrio ou aventurar-se? Ambigüidades. E isso é idade para tê-las? Não devia, mas temos.
Assim vamos vivendo, deparando-nos com fatos para guardar vivos na memória, e outros que desejamos esquecer em definitivo.
O que importa é que estejamos sempre aptas a aprender com o tempo.
E é ele que nos ensina, e nos ensinará a viver a vida daqui para frente mais do que antes.
Nem tudo é fardo, peso, agonia, tristeza ou amargura. A vida também tem um lado leve, surpreendente. Capaz de nos fazer delirar. Ou mesmo alegrar. Vamos combinar: ela também tem momentos bem divertidos!
Nesses tempos a vida se apresenta risonha para nós. Ela é de uma suavidade impressionante. E são esses tempos que precisamos manter vivos, constantes, sem nos escapar.
Por isso, meninas, a hora não é de recomendar, mas de refletir sobre o que e como fazer para viver mais e melhor.
Se eu tivesse que pensar em recomendações, ou dar-lhes receita disso, eu sugeriria que fossemos exatamente assim: mais leves; menos abatidas, e mais risonhas; generosas e solidárias. Menos preocupadas, e menos ocupadas, também. Ah, e a calma...ela é fundamental para viver com maior qualidade.
Eu indicaria três palavras mágicas: fé, calma e paciência.
Por fim, cultivar os amigos, nós sabemos bem, é uma ótima receita.
Cultivemos, pois, a nossa amizade.
Ela nos permitirá economizar lágrimas e fazer-nos abundar sorrisos".
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