Dos 162 adolescentes que estiveram juntos na Comunidade Socioeducativa (CSE) há uma década, 19 voltaram a ter algum tipo de sobressalto – respondendo a investigações policiais ou a processos –, mas sem desdobramentos que resultassem em condenações. Neste grupo, estão contemplados desde casos de jovens que tiveram de dar explicações à polícia por causa de uma briga com o vizinho até situações em que o ex-interno se tornou suspeito de crimes, como furto ou homicídio, e ainda pode ter o nome inscrito pela Justiça no rol de culpados.
Dos 162 ex-internos da antiga Febem, retratados nesta série:19 buscam uma vida normal;13 deles tiveram ocorrência policial ou responderam a inquérito; 6 outros são
réus na Justiça.
Surgem nesse cenário de caminhada para longe do crime histórias como a de Moisés Dornelles, que praticou assaltos e foi traficante quando era adolescente. Mas decidiu mudar e, hoje, com 27 anos, é empreiteiro. Casado, comprou carro e casa própria. No final do ano passado, por causa de um desentendimento, respondeu a termo circunstanciado – uma espécie de inquérito policial simplificado – originado de um desentendimento familiar. O caso deve ser resolvido em audiência de conciliação.
Também há o périplo de Juvenal Neckel, que, depois de sair da fundação, tornou-se suspeito de homicídio. Ele sustentou que não estava na cidade quando o crime ocorreu e foi absolvido por falta de provas que o incriminassem.
E a curiosa história de Cleber Chimifoski Paz, que de assaltante se tornou vigilante de valores e hoje trabalha como operador de empilhadeira. Os nomes desses 19 jovens saíram de uma lista em que a maioria teve a violência como caminho natural. Dos 162 exinternos, 48 morreram, sendo que 36 foram assassinados por desafetos ou tombaram em confronto com a polícia.
Passaram por prisões sob suspeita de delitos 135 deles e, em dezembro, 55 seguiam recolhidos no sistema prisional. A Justiça sentenciou 114 deles, que, juntos, tiveram penas que ultrapassam 1,5 mil anos de prisão.
Mas qual seria a fórmula para a recuperação que atinge só alguns?
Débora Perin, que foi monitora e costuma repetir que “ninguém chega à Fase com história bonita”, aposta no respeito como receita.
– Sei que a gente consegue plantar uma semente positiva nos guris. Ele não é respeitado na comunidade, é excluído da escola, do Centro, do shopping, a polícia o espanca. Dentro da Fase ele é respeitado, talvez para um dia lá fora ele saber respeitar. Mas se a gente vai conseguir transformar a vida deles, é uma incógnita – analisa a hoje coordenadora jurídica da fundação.
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