Os livros de didática ensinam que, quando a maioria dos
estudantes de uma turma vai mal na avaliação, a responsabilidade é do
professor. O mesmo se pode dizer do Exame de Ordem. Nada menos que 90% dos
participantes tiraram nota vermelha. Trata-se do pior resultado desde 2010 -
ano em que o modelo unificado passou a ser aplicado em todo o território
nacional.
Traduzido, o percentual mostra a face assustadora.
Submeteram-se à prova 114.763 bacharéis. Só 11.820 chegaram ao fim. E, por
isso, receberão a carteira que os habilita a exercer a profissão para a qual
estudaram pelo menos quatro anos. A acreditar nos manuais adotados nos cursos
de pedagogia, a culpa do fracasso não pode ser debitada aos estudantes.
O presidente da Comissão Nacional de Ordem da OAB, Leonardo
Avelino, atribui o mau desempenho maciço a dois fatores. Um deles: o despreparo
dos vestibulandos que entram no terceiro grau com enormes lacunas, fruto de
deficiências acumuladas nos níveis fundamental e médio. O outro: a sofrível
qualidade das instituições de ensino.
Boa parte das faculdades de Direito prima pela falta de
compromisso com a excelência. Imaginar que se pode colher tomate quando se
cultiva abacaxi é acreditar em Papai Noel. Não é de hoje que se clama por uma
revolução educacional semelhante à efetuada na década de 1970. À época, com
atraso em relação ao mundo desenvolvido e aos vizinhos americanos, o Brasil
promoveu a universalização do acesso à escola.
A qualidade, porém, foi esquecida.
E esquecida permaneceu até que avaliações iniciadas 20 anos
depois mostraram o enorme caminho que deixamos de trilhar. A desqualificação
profissional não se restringe aos bacharéis. Eles figuram nas manchetes porque
precisam se submeter à avaliação da Ordem. Se exigência semelhante fosse
imposta aos formandos dos demais cursos, o resultado não seria diferente.
Médicos, engenheiros, jornalistas, professores são vítimas do mesmo descaso
histórico.
Vale o exemplo da mais rica unidade da Federação. No ano
passado, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) reprovou mais
da metade dos recém-formados nas faculdades do estado. Mas, diferentemente dos
advogados, eles poderão exercer a profissão. Significa que a população põe em
risco a própria vida ao ficar à mercê de médicos incapazes de fazer diagnóstico
ou de levar avante procedimentos -elementares ou sofisticados.
Passou da hora de tomar medidas enérgicas aptas a controlar
a qualidade do ensino. Além de impedir a abertura de vagas nas instituições
reprovadas, há que fiscalizar o desempenho das faculdades que proliferam Brasil
afora sem compromisso com a educação.
Não só. Impõe-se abandonar o faz de conta e olhar de frente
o desafio dos níveis básico e médio. Base frágil não suporta o peso da obra.
Para construir prédio sólido, começa-se pelos alicerces.
Fonte: Correio Braziliense – Editoral de 27 de março de 2013
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