(*)Por Bruno Halpern
Imagem meramente ilustrativa adicionada pelo Blog. |
Já são cinco os casos
de agressões aparentemente sem motivo em Pelotas; as vítimas sequer foram
roubadas
Cinco relatos de jovens espancados sem motivo aparente nos
últimos nove meses na cidade. Em nenhum dos casos as vítimas sequer foram
roubadas e três deles somam-se aos arquivos de boletins de ocorrência da
Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).
A partir do depoimento do estudante Ruan Andrade - agredido
há duas semanas por cerca de 20 jovens na rua 15 de Novembro, nas proximidades
da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula - outros casos começaram a ser
relatados em redes sociais, contrariando a posição policial que disse na
oportunidade ao Diário Popular que agressões sem motivo eram inéditas na
cidade.
Ao ver um grupo de jovens caminhando pela rua, a ação de
Ruan é instintiva. O estudante entra no primeiro estabelecimento comercial
disponível e espera a passagem do bando. O trauma das agressões sofridas no
início daquela noite de domingo, 13 deste mês, mudou a rotina deste paulista de
Mairinque. As atividades que ele normalmente fazia à tarde foram deixadas de
lado. Agora, teme andar sozinho nas ruas. A família pede o retorno para a
cidade natal, porém, o jovem de 20 anos pretende acabar a faculdade (Gestão
Pública, na UFPel) em Pelotas.
O medo que Ruan hoje sente reflete a situação das outras
vítimas agredidas em diversos pontos da área central. As ruas Almirante Barroso
e Félix da Cunha, além do entorno do Mercado Central, já foram palco das
agressões sem motivo aparente, apenas pelo “prazer e a diversão” demonstrados
pelos agressores - segundo as vítimas. O incômodo ao falar do assunto trouxe ao
fim de cada entrevista alguns questionamentos. Por que tanta raiva? Qual o
motivo de estragar a vida de quem simplesmente passa próximo a estes
determinados grupos? Por que tanta falta de segurança? A quem recorrer?
O que eles passaram?
Caso 1 - Agosto de 2013
Ao retornar de uma boate por volta das 4h, um estudante do
curso de Cinema e Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) caminhava
com um amigo pela rua Félix da Cunha esquina Dom Pedro II quando três homens
desceram de um carro e foram em direção aos rapazes. Natural de Guanhães (MG),
o jovem de 21 anos imaginou que seria o sexto assalto que sofreria em três anos
de Pelotas. Engano. Ele e o amigo foram agredidos com chutes e pontapés. Pensou
em acionar a Brigada Militar, mas o celular fora perdido na semana anterior -
em um dos assaltos que sofreu. “No dia seguinte um misto de vergonha e medo me
inibiu de procurar a polícia”, lamenta.
Caso 2 - Setembro de 2013
Era madrugada, 1h, rua Almirante Barroso próximo ao Campus
II da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Um estudante, de 25 anos, do
curso de Ciências da Computação da UFPel, voltava para a casa acompanhado de
dois amigos quando um grupo de dez pessoas, de "boa aparência",
segundo ele, entre homens e mulheres, passou pelo trio. "A partir daí veio
o primeiro soco no rosto, sem dizer uma palavra", relata. Deitado no chão,
ele viu uma pedra na mão de um dos agressores e junto as outras duas vítimas
conseguiu fugir. "Foi um ato desesperado para escapar, a adrenalina subiu
demais." O estudante diz que registrou o boletim de ocorrência 48 horas
depois.
Caso 3 - Março de 2014
Ainda abalada, a vítima pouco se manifestou sobre o
ocorrido, mas pretende colaborar para encontrar os responsáveis. Golpeado
principalmente na cabeça e isolado há cerca de um mês em casa, ele garante, via
facebook, que não tem ódio dos agressores. “Apenas tenho tentado entender o que
leva alguém a bater tanto na cabeça de um desconhecido sem motivo algum.” A
vítima, que não quis contar onde foi atacada, pretende registrar ocorrência no
início desta semana.
Caso 4 - Abril de 2014
Eram 19h30min quando a vítima de 17 anos saiu do Restaurante
Universitário (RU). A poucos metros dali, ao lado do Mercado Central, passou
por um grupo de cerca de 20 pessoas. O primeiro soco foi na cabeça, sem uma
palavra, sem nenhum motivo. Ele então correu em direção ao calçadão da Andrade
Neves. Não esperava, porém, que os agressores tivessem se dividido. Um outro
grupo o esperava na esquina da Lobo da Costa, a cerca de 50 metros do primeiro
ataque, para continuar a sessão, gratuita, de espancamento. “Fui salvo por
senhoras que ameaçaram chamar a polícia”, conta. As dores por todo corpo
renderam 48 horas acordado, sem posição confortável para dormir. Os dois dias
foram o tempo levado para o jovem, que saiu do balneário Pinhal, Litoral Norte
do Estado, para cursar Letras na UFPel, fazer o boletim de ocorrência.
O que diz a polícia
"Esses casos não são mais novidade para nós, da
polícia. Já estamos investigando e trocando informações com outras delegacias
para identificar a autoria. Acreditamos que há ligações entre os casos. Em breve
teremos novidades. Agora, se outras ocorrências virem à tona, elas não podem
ficar restritas ao Facebook, as vítimas precisam procurar a polícia para
registrar ocorrência."
Delegado Sandro Bandeira, titular da 1ª Delegacia de Polícia
Ato Público
Estudantes da UFPel estão programando para o feriado do dia
1º de maio, Dia do Trabalhador, um ato público contra a violência em Pelotas. O
evento, a ser realizado no largo Edmar Fetter (Largo do Mercado), está sendo
convocado via rede social Facebook. Até o fechamento desta edição, na noite de
sexta-feira, 639 pessoas, de um total de 6,7 mil convidados, haviam confirmado
presença.
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