O levantamento inédito é da ONG Safernet, especializada em
segurança na rede, e resultou no site da Central Nacional de Denúncias de
Crimes Cibernéticos. A página reúne estatísticas de sete entidades que possuem
canais on-line para acusações anônimas de delitos contra os direitos humanos e
dos animais.
São elas: Polícia Federal, Câmara, Senado, Secretaria de
Direitos Humanos, Ministérios Públicos Federais de Minas Gerais e da Paraíba e
a própria Safernet. Em seis anos, internautas fizeram 3,1 milhões de denúncias
para 463 mil páginas únicas hospedadas em 88 países.
A Folha teve acesso exclusivo aos números, que agora podem
ser vistos no site da ONG. Ainda há outras oito categorias de delitos:
incitação a crimes contra a vida (com 19,2% das denúncias), racismo (9,4%),
intolerância religiosa (7,9%), maus tratos contra animais (7,6%), neonazismo
(7,1%), xenofobia (3,9%), homofobia (3,4%) e tráfico de pessoas (0,1%).
Outras 31 mil denúncias (1%) não foram classificadas.
Páginas únicas com suspeita de pornografia infantil também dominam os
resultados: 224,6 mil endereços denunciados (48,5% do total). Quase todo o
conteúdo denunciado está hospedado fora do país: 97,6% encontram-se em
servidores estrangeiros, em especial dos EUA, onde fica grande parte da
infraestrutura da internet mundial.
Tal cenário dificulta as investigações e faz com que as
autoridades nacionais priorizem a análise dos 2,4% das páginas suspeitas que
estão hospedadas no Brasil. Nem tudo o que está na central é crime.
Os dados do site não excluem casos em que a denúncia é falsa
ou vazia. Alguém pode, por exemplo, denunciar uma página sem conteúdo ilícito
só para prejudicar um terceiro.
Nesses casos, a rotina do site pode ser comparada à de uma
central 190 da Polícia Militar, que lida com alta porcentagem de trotes. Tudo que é recebido pela central de denúncias
passa por análise, automatizada e humana, até que se decida por uma
investigação — a Safernet não calcula quantos casos chegam a esse estágio.
Ainda assim, denúncias recebidas pelos canais que formam a
Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos já resultaram em sete
operações da Polícia Federal, seis contra casos de pornografia infantil e um
contra neonazismo e racismo. A última foi em março deste ano, quando a PF
prendeu em Curitiba dois homens que mantinham um site cujos textos eram
ilustrados com fotos de mulheres decapitadas e continham frases que incitavam a
morte de mulheres que mantinham relações sexuais com negros.
Fonte: Ministério Público de Rondônia
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