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domingo, dezembro 16

Bullying, o documentário de Lee Hirsch

Documentário Bullying

Bullying não é brincadeira. É essa a ideia que o documentário Bullying, de Lee Hirsch, quer passar. Mais do que uma análise do problema, o filme tem a intenção de sensibilizar e, assim, conscientizar os espectadores de que as brincadeirinhas dos valentões da escola precisam ter um fim.
O documentário toma como ponto de partida o suicídio de Tyler Long. Com imagens de arquivo de seu crescimento e discursos emocionados dos pais do menino de 17 anos, o documentário já mostra desde o início a seriedade – e a dramaticidade - do assunto.
Para montar esse panorama do sofrimento que o bullying causa entre os jovens nos Estados Unidos, são contadas outras quatro histórias. Kelby Johnson, de Oklahoma, é uma menina homossexual que sofre com comentários maldosos em uma cidade conservadora. Ja’meya Jackson é uma menina de 14 anos que foi presa por ter exibido uma arma em um ônibus escolar cheio, com a intenção de “assustar” os colegas que a atordoavam constantemente. Ty Smalley, de 11 anos, teria cometido suicídio pelas “brincadeiras” que sofria, deixando seus pais e o melhor amigo devastados.
O personagem central, entretanto, é Alex Libby, de 14 anos, de Sioux City, Iowa. Nascido com 24 semanas, o parto prematuro deixou rastros na aparência de Alex – chamado de “cara de peixe” pelos colegas. Ao longo do documentário, ele é vítima de uma série de ofensas e mesmo pequenas agressões. Essas, aliás, são as únicas cenas em que obullying é visto. Em todas as outras, ouvimos pelos próprios personagens e seus familiares quais seriam as ofensas que lhes foram infligidas.
Com cenas e acompanhamento musical que beiram ao melodrama – como o caixão de Ty sendo carregado por seu amigo, aos prantos, ou a mãe de Ja’meya cantando com a menina na prisão -, Bullying vai criando um retrato do problema, sem jamais explicá-lo. Não é uma análise, é um apelo.
Apesar de suas supostas boas intenções – o diretor afirmou ter realizado o filme por ter sofrido com o problema na infância –, o documentário foi envolvido em polêmicas antes mesmo de ser lançado nos EUA. A primeira delas foi a classificação indicativa conferida pela Motion Picture Association of America (MPAA), determinando que apenas maiores de 17 anos poderiam ver o filme – fazendo com que o público-alvo do filme, os jovens que praticam ou sofrem bullying, não pudessem assisti-lo. O motivo seriam alguns palavrões proferidos pelas crianças no filme.
O caso teve grande repercussão nos EUA. De um lado, uma petição com mais de 475 mil assinaturas, entre elas as de famosos como Justin Bieber e Ellen DeGeneres, pediam para que a classificação fosse revista. De outro, choveram críticas à Weinstein Co., por usar o caso para atrair audiência para o filme.
Se foi intencional ou não, o filme teve uma das maiores bilheterias de documentários nos EUA em 2012, com 3,5 milhões de dólares arrecadados do ano. Após um acordo entre os produtores e a MPAA, alguns palavrões foram cortados e o filme ganhou classificação PG-13, em que o acompanhamento dos pais para menores de 13 anos é sugerido, porém não há impedimento. No Brasil, está classificado como “livre”.
A segunda polêmica envolveu uma denúncia da revista online americana Slate de que Tyler sofria de distúrbio bipolar, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e Síndrome de Asperger, o que teria contribuído para o seu suicídio. Além disso, o menino não teria denunciado nenhum caso de bullying naquele ano, como havia feito nos anos anteriores. O filme foi acusado, então, de deturpar os fatos e gerar uma imagem distorcida e superficial do problema.
Em entrevista à Slate, o diretor respondeu: “Eu realmente achei que, não mostrando isso [informações sobre o estado clínico de Tyler], nós não permitiríamos que os espectadores prejulgassem. Foi uma decisão sobre a qual nós pensamos muito. No fim, pensamos que o filme seria mais impactante sem isso”.
Quanto ao impacto, o diretor tinha razão. Apesar de todas as manipulações de Bullying para sensibilizar o espectador, e o fato de não apontar reais explicações ou soluções para o problema, o filme comove o suficiente para servir como mais uma voz de alerta contra uma “brincadeira” que deixou de ser engraçada há muito tempo.
Fonte: Blogdoc (Aline Senzi)

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