Kleber Atalla dirigia
carro que atingiu homem que atravessava rua na faixa.
Advogado cita
imprudência de pedestre e nega que haja apologia.
O comerciante Kleber Atalla, de 51 anos, que ganhou fãs e
críticos no YouTube porpostar vídeos nos quais comete infrações de trânsito em
São Paulo dirigindo uma motocicleta, foi indiciado nesta quinta-feira (14) por
homicídio culposo, já que atropelou e matou um pedestre em janeiro, e por
apologia ao crime em seus vídeos. A avaliação da Polícia Civil é que ele
incentivou práticas como dirigir acima da velocidade permitida.
O acidente que deu origem às investigações ocorreu no dia 28
de janeiro, durante a tarde. Atalla guiava um carro modelo Fiat Strada
Adventure pela Avenida Duque de Caxias quando fez uma mudança de pista, da
direita para a esquerda, e atingiu o instalador Antonio Farias da Costa, de 53
anos, que atravessava a faixa de segurança para pedestres.
A faixa fica no cruzamento da via com a Rua Barão de
Campinas. Não há placas proibindo a conversão, mas tampouco há semáforos para
pedestres, o que indica que o pedestre tem a preferência para atravessar. O
semáforo para veículos estava verde.
Kleber foi ouvido por cerca de uma hora na tarde de quinta e
não falou com os jornalistas presentes no 3º Distrito Policial, na região
central.
O advogado dele, Luiz Carlos Aguiar, afirmou que o
comerciante não cometeu nenhuma irregularidade e que houve falta de cuidado por
parte do pedestre. "Numa via expressa, dupla, com chuva, às 13h30, horário
de alto movimento, o pedestre deveria ter sido mais prudente", afirmou. O
advogado ressaltou que Kleber parou, chamou o socorro, permaneceu por quatro
horas no local e já foi à delegacia fazer os primeiros esclarecimentos.
O advogado também nega que Kleber faça apologia e afirma
que, nos próprios vídeos, o comerciante recomenda que suas práticas não sejam
seguidas.
Em um vídeo postado neste domingo (10) no YouTube, o motorista
se eximiu de culpa no atropelamento. Afirma que não cometeu infração e que ele
que foi "atropelado" pelo pedestre, que atravessou na faixa, mas no
momento em que o semáforo estava aberto para os veículos.
"Pelo fato de estar chovendo demais, demais, ele
atravessou a rua no maior 'pau'. [...] A hora que eu percebi, ele tinha me
atropelado", diz o comerciante no vídeo. "Acabou com a minha vida
esse episódio. Acabou com a vida da família do senhor Antônio, só que eu não
tive culpa. O meu remorso é muito grande".
Ao ser atingido, o instalador Antonio Costa caiu na pista.
Ele teve traumatismo craniano, foi socorrido e internado no Santa Casa de
Misericórdia, em Santa Cecília, no Centro, onde morreu em 5 de fevereiro. A
equipe de reportagem não conseguiu localizar os parentes da vítima para
comentar o assunto.
O atropelamento foi gravado por câmeras de segurança de
imóveis vizinhos à via. As imagens foram anexadas aos dois inquéritos policiais
contra Kleber. Segundo o delegado AntonioLuisTuckumantel, titular do 3º
Distrito Policial, na Santa Ifigênia, Atalla foi "imprudente", apesar
de as imagens mostrarem, no entendimento do policial, que o motorista fez uma
conversão permitida, que parou o automóvel após o acidente e que ainda prestou
socorro.
O delegado ArariboiaFusita Tavares, que conduz a
investigação, afirmou que o comerciante não tomou as devidas cautelas.
"Não obedeceu normas gerais de trânsito e não fez nenhuma frenagem",
afirmou.
O laudo da Polícia Técnico-Científica sobre a velocidade do
carro não foi finalizado.
Também não há informação se o motorista deu seta que faria a
conversão da esquerda para a direita. Caso fique comprovado que o condutor do
veículo estava acima de 60 km/h ou não tenha sinalizado a mudança de faixa,
qualquer uma dessas infrações entrariam como agravantes da sua conduta. Segundo
a defesa de Kleber, a velocidade no momento do acidente era de cerca de 50
km/h.
Vídeos na web
Sob o apelido de Kle621, Atalla, que mantém um comércio de
peças para motocicletas, já postou centenas de vídeos no site de
compartilhamento YouTube. Em sua Hornet 600, ele trafega em alta velocidade,
faz ultrapassagens proibidas, dirige na contramão, e avança o sinal vermelho.
Para gravar suas irregularidades, Atalla usa uma câmera
presa ao capacete. Os registros na internet foram tema de uma reportagem do G1,
publicada em 17 de setembro do ano passado.
“Sei que é ilegal o que faço. Não recomendo para quem me assiste”,
afirmou o motocicista à equipe de reportagem naquela ocasião.
Atalla chegou a justificar os crimes de trânsito que cometia
em nome da audiência. “Estou fazendo assim porque é uma maneira de me comunicar
com a molecada. Se fizer um vídeo a 30 km/h, atrás dos carros, ninguém vai
querer assistir. Tem que ter um sensacionalismo.”
Como o comerciante explicou à época, os vídeos faziam parte
de uma estratégida de marketing: neles ele indica seu site de venda de
escapamentos e peças de moto. Procurada em 2012, a Polícia Militar havia
informado que, apesar de as infrações estarem registradas em vídeo, o poder
público nada podia fazer. As multas só seriam aplicadas se fossem flagradas
Contravenção
Mas a conduta nos vídeos das infrações cometidas por Atalla
foi analisada recentemente pela Polícia Civil. “Ele tem um comportamento
contraventor como forma de marketing pessoal e comercial de fazer propaganda da
sua loja virtual”, escreveu o delegado ArariboiaFusita Tavares em portaria que
determinou a instauração do inquérito para apurar a suspeita de prática de
apologia ao crime.
“Utiliza-se das publicações para se auto promover, assim
como alavancar as vendas em sua empresa, às custas de provocações contra a
administração pública, cooptando fãs e seguidores de seu comportamento
irresponsável, conforme se depreende de simples leitura de comentários realizados
nos mais de 500 vídeos publicados no site YouTube, fomentando desta forma a
anarquia e estimulando outros ao cometimento de infraçoes”, informa a portaria.
De acordo com a investigação policial, Atalla
“regozijando-se de sua conduta criminosa, afrontando as normas legais vigentes,
com manobras extremamente perigosas” coloca “em risco desta forma a vida de
pedestres e demais motoristas”.
No entendimento da autoridade policial e dos investigadores,
o comerciante é suspeito de infringir três artigos do Código de Trânsito
Brasileiro (CTB) nos vídeos que publicou na internet: 308 (participar de
competição automobilística não autorizada que cause dano a outros), 309
(dirigir sem habilitação, gerando perigo) e 311 (trafegar com velocidade
incompatível).
Somadas, as penas dessas três infrações podem dar penas
mínimas de um ano e meio a 4 anos de detenção, além do pagamento de multa e
suspensão da Carteira Nacional de
Habilitação (CNH) numa eventual condenação do infrator pela Justiça.
Fonte: Site G1
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