Ainda sobre a polêmica envolvendo o filme Tropa de Elite II - crianças e adolescentes devem/podem assisti-lo - Zero Hora publica a opinião de profissionais. Leia.
"Independentemente da questão legal levantada pela promotora de Santa Cruz do Sul, se os pais devem ou não levar seus filhos para assistir a um filme com cenas de violência, a polêmica traz à tona a discussão sobre como essa exposição interfere na formação do caráter de crianças e adolescentes.
Na opinião da coordenadora do Núcleo de Estudos em Construção de Valores, Identidade e Violência na Adolescência (Conviva), do Instituto de Psicologia da UFRGS, Clary Milnitsky Sapiro, o que está em questão, no caso do filme Tropa de Elite 2, não é somente as cenas de violência.
– Esse filme não é melhor nem pior do que muitos outros filmes ou videogames em matéria de violência. A polêmica surge com uma confusão entre bem e mal, como aparece até no subtítulo do filme “o inimigo agora é outro”. O filme denuncia essa dubiedade simbólica entre o que é o bem e o que é o mal, e isso incomoda.
Para a Clary, tradicionalmente as brincadeiras de mocinho e bandido permitiam às crianças avaliar o que é o bem e o mal – o que foi proibido com a intenção de reduzir o nível de violência a que essas crianças eram expostas. No entanto, a função desses jogos era justamente construir valores para podermos ter esse discernimento, quando adultos.
– Não recomendo que a criança seja exposta a cenas de violência se não estiver acompanhada de alguém que possa promover uma reflexão sobre o que ela viu. Se tem uma indicação de 16 anos, essa indicação tem motivo e deve ser seguida.
É fundamental que o adulto ajude a criança a dar significado à informação
Para a psicóloga Andrea Ferrari, do programa de pós graduação em psicologia clínica da Unisinos, se uma criança for efetivamente exposta a cenas de violência que estão além da sua capacidade de elaborar significações para tal, é fundamental que um adulto a ajude a significar essa informação.
– No momento em que uma cena de corrupção ou violência explícita fica sem significação, se torna traumático para a criança e pode acontecer de ela repetir o que viu, mas sem o faz de conta, sem a simbolização.
Outro fator que preocupa a psicóloga é a relativização entre o bem e o mal. Ao se expor a cenas de corrupção na polícia, por exemplo, a criança pode ficar sem parâmetros claros de certo e errado e, nesses casos, é fundamental o diálogo para que ela ajude a elaborá-los".
Nenhum comentário:
Postar um comentário