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sexta-feira, março 30

Denúncias de corrupção na Administração Pública: 'O Globo' mostra que senador usou cargo para tentar beneficiar Cachoeira



Gravações telefônicas obtidas pelo jornal "O Globo" e publicadas na edição desta sexta-feira (30) mostram que o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) usou de seu mandato para tentar beneficiar o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde o fim de fevereiro sob acusação de chefiar uma quadrilha de jogo ilegal.

Demóstenes é alvo de investigação em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Na noite desta quinta (29), o ministro Ricardo Lewandowski determinou a abertura de inquérito e a quebra do sigilo bancário do senador pelo período de dois anos - Lewandowski não informou o período de início e fim da quebra de sigilo.

O G1 busca contato com o advogado de Demóstenes Torres sobre as gravações publicadas pelo jornal "O Globo". Na noite de quinta, o senador não quis se manifestar sobre a abertura do inquérito. “Eu não estou dando entrevistas. Liga para o Kakay [o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro]", afirmou. O advogado disse que via a quebra de sigilo como positiva e que seria uma "fonte de provas a favor do senador".

Nas escutas obtidas pelo jornal, referentes à Operação Vegas, de 2009, há conversas desde a interferência em processo judicial ao lobby para regularização dos jogos de azar no Congresso Nacional. Segundo o jornal, o senador também teria interferido, a pedido de Cachoeira, em negócios da estatal Infraero. Na época, Demóstenes era relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou problemas no tráfego aéreo do país.

 (Foto: Reprodução / O Globo)
Em um diálogo publicado nesta sexta, os dois conversam sobre um projeto a respeito da legalização de jogos.

Demóstenes: "Eu peguei o texto ontem da lei para analisar. É aquela que transofrma contravenção em crime. Que importância tem a aprovação disso?"

Cachoeira: "É bom demais, mas aí também regulamenta as estaduais."

Demóstenes: "Regulamenta, não. Vou mandar o texto procê. O que tá aprovado lá é o seguinte: "transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização". Então, inclusive te pega, né? Então, vou mandar o texto pra você. Se você quiser votar, tudo bem, eu vou atrás. Agora a única coisa que tem é criminalização, transforma de contravenção em crime, não regulariza nada."

Cachoeira: "Não, regulariza, sim, uai. Tem a 4-A e a 4-B. Foi votada na Comissão de Constituição e Justiça."

Demóstenes: "Tudo bem, mas e para depois, para regulamentar? Que aí são duas etapas, em vez de uma só. Vou fazer o que você quer, mas isso aí, para mim, não regulamenta nada."

Em outro trecho, Cachoeira pede para Demóstenes conversar com o então presidente da Câmara, Michel Temer, hoje vice-presidente da República.

"Pois é, você tinha que trabalhar isso aí com o Michel, né? Para pôr em votação. Isso aí seria interessantíssimo, né?", disse Cachoeira a Demóstenes, se referindo ao projeto sobre criminalização do jogo ilegal que legaliza as loterias estaduais que tramitava na Câmara. Demóstenes respondeu ao empresário que tentaria "pautar".

Michel Temer afirmou ao "O Globo" que nunca conversou com Demóstenes sobre o projeto citado.

Investigação da PF

Demóstenes e os deputados Sandes Júnior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) foram citados em relatório da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro e que prendeu Carlos Cachoeira.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a abertura de inquérito após analisar as gravações da Operação Monte Carlo por aproximadamente 20 dias. Ele afirma ter verificado 10 meses de interceptações telefônicas feitas pela PF.

No pedido ao Supremo, Gurgel também solicitou o desmembramento do inquérito para investigar os demais parlamentares. Em relação ao envolvimento de pessoas sem foro privilegiado, Gurgel pediu que fosse desmembrado para análise da primeira instância da Justiça.

Sobre o desmembramento e a investigação aos deputados Sandes Júnior e Carlos Alberto Leréia, Lewandowski pediu mais informações ao procurador-geral antes de tomar uma decisão. O ministro do STF negou pedido de Gurgel para interrogar o senador. Segundo o ministro, a solicitação ainda é "prematura".

Fonte: Site G1

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