Gravações telefônicas obtidas pelo jornal "O
Globo" e publicadas na edição desta sexta-feira (30) mostram que o senador
Demóstenes Torres (DEM-GO) usou de seu mandato para tentar beneficiar o
empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso desde
o fim de fevereiro sob acusação de chefiar uma quadrilha de jogo ilegal.
Demóstenes é alvo de investigação em andamento no Supremo
Tribunal Federal (STF). Na noite desta quinta (29), o ministro Ricardo
Lewandowski determinou a abertura de inquérito e a quebra do sigilo bancário do
senador pelo período de dois anos - Lewandowski não informou o período de
início e fim da quebra de sigilo.
O G1 busca contato com o advogado de Demóstenes Torres sobre
as gravações publicadas pelo jornal "O Globo". Na noite de quinta, o
senador não quis se manifestar sobre a abertura do inquérito. “Eu não estou
dando entrevistas. Liga para o Kakay [o advogado Antonio Carlos de Almeida
Castro]", afirmou. O advogado disse que via a quebra de sigilo como
positiva e que seria uma "fonte de provas a favor do senador".
Nas escutas obtidas pelo jornal, referentes à Operação
Vegas, de 2009, há conversas desde a interferência em processo judicial ao
lobby para regularização dos jogos de azar no Congresso Nacional. Segundo o
jornal, o senador também teria interferido, a pedido de Cachoeira, em negócios
da estatal Infraero. Na época, Demóstenes era relator da Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) que investigou problemas no tráfego aéreo do país.
(Foto: Reprodução / O Globo) |
Demóstenes: "Eu peguei o texto ontem da lei para
analisar. É aquela que transofrma contravenção em crime. Que importância tem a
aprovação disso?"
Cachoeira: "É bom demais, mas aí também regulamenta as
estaduais."
Demóstenes: "Regulamenta, não. Vou mandar o texto
procê. O que tá aprovado lá é o seguinte: "transforma em crime qualquer
jogo que não tenha autorização". Então, inclusive te pega, né? Então, vou
mandar o texto pra você. Se você quiser votar, tudo bem, eu vou atrás. Agora a
única coisa que tem é criminalização, transforma de contravenção em crime, não
regulariza nada."
Cachoeira: "Não, regulariza, sim, uai. Tem a 4-A e a
4-B. Foi votada na Comissão de Constituição e Justiça."
Demóstenes: "Tudo bem, mas e para depois, para
regulamentar? Que aí são duas etapas, em vez de uma só. Vou fazer o que você
quer, mas isso aí, para mim, não regulamenta nada."
Em outro trecho, Cachoeira pede para Demóstenes conversar
com o então presidente da Câmara, Michel Temer, hoje vice-presidente da
República.
"Pois é, você tinha que trabalhar isso aí com o Michel,
né? Para pôr em votação. Isso aí seria interessantíssimo, né?", disse
Cachoeira a Demóstenes, se referindo ao projeto sobre criminalização do jogo
ilegal que legaliza as loterias estaduais que tramitava na Câmara. Demóstenes
respondeu ao empresário que tentaria "pautar".
Michel Temer afirmou ao "O Globo" que nunca
conversou com Demóstenes sobre o projeto citado.
Investigação da PF
Demóstenes e os deputados Sandes Júnior (PP-GO) e Carlos
Alberto Leréia (PSDB-GO) foram citados em relatório da Operação Monte Carlo,
deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro e que prendeu Carlos Cachoeira.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a
abertura de inquérito após analisar as gravações da Operação Monte Carlo por
aproximadamente 20 dias. Ele afirma ter verificado 10 meses de interceptações
telefônicas feitas pela PF.
No pedido ao Supremo, Gurgel também solicitou o
desmembramento do inquérito para investigar os demais parlamentares. Em relação
ao envolvimento de pessoas sem foro privilegiado, Gurgel pediu que fosse
desmembrado para análise da primeira instância da Justiça.
Sobre o desmembramento e a investigação aos deputados Sandes
Júnior e Carlos Alberto Leréia, Lewandowski pediu mais informações ao
procurador-geral antes de tomar uma decisão. O ministro do STF negou pedido de
Gurgel para interrogar o senador. Segundo o ministro, a solicitação ainda é
"prematura".
Fonte: Site G1
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