"Tenho convicção de que o autor do crime era alguém que
ela conhecia, mas ainda não sei qual o grau de proximidade", afirma
Anderson Faturi. Para ele, o ataque contra a menina não foi aleatório. A
intensidade do número de facadas na vítima, acredita, é reveladora. "Havia
muita raiva por parte de quem a cometeu", constata, confirmando que a
linha investigativa é de homicídio.
O quebra-cabeça em torno da morte da garota, esfaqueada 15
vezes no peito, pescoço e braço, sem esboçar defesa, poderá ser montado a
partir de segunda-feira, quando novos laudos periciais devem ficar prontos. A
expectativa do delegado é por novas pistas, pois ainda não há suspeitos. Mais
de 15 pessoas, entre familiares, vizinhos, amigos e colegas de aula, estão
sendo ouvidas. A DP de Rio Pardo recebeu dezenas de informações. "Todas
são apuradas", garante.
O delegado já sabe que as facadas contra a menina foram
"no sentido linear". Ela estava caída no chão, ainda com a mochila
nas costas. Não havia sinais de abuso sexual ou mesmo qualquer marca nas roupas
e nas mãos que indicassem resistência ao ataque. Um cadarço encontrava-se fora
de um dos tênis da estudante. "É mais uma incógnita", admite o
delegado, lembrando que o computador de Marciele não trouxe ainda nenhuma
pista.
Após o desaparecimento, pela manhã, familiares localizaram o
corpo de Marciele à noite, em um local distante em torno de 50 metros do
caminho que ela costumava fazer até a escola, no bairro Boa Vista. O celular
dela, desaparecido, permanece mudo. "Estamos em contato com a
operadora", diz o delegado, referindo-se à quebra de sigilo telefônico.
Ódio é traço evidente no criminoso
O delegado Anderson Faturi não descarta solicitar a
elaboração de um possível perfil psicológico de quem cometeu o crime. Ele tem
vasculhado ocorrências parecidas e trocado informações com veteranos policiais
em busca de elementos que possam ajudar nas investigações sobre o assassinato
de Marciele. "Algo desencadeou o ataque com muita raiva contra a
menina", considera o delegado.
Sem avaliar o caso específico de Rio Pardo, o delegado
Arthur Raldi, da 2 Delegacia de Homicídios e Desaparecidos, do Departamento
Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Porto Alegre, explica que a faca
usada em um assassinato pode ter sido a única arma disponível do criminoso ou
da criminosa. No entanto, o emprego da faca também serviria, de modo
inconsciente, para prolongar a sensação de poder do agressor sobre a vítima,
enquanto essa está sendo morta.
Esta interpretação explicaria a quantidade de facadas,
movidas por um sentimento de muito ódio. "Em um ímpeto de fúria, o número
de facadas será tantas vezes quanto necessário para colocar essa fúria para
fora", observa o delegado.
Conforme Arthur Raldi, é comum acontecer que a raiva ceda
espaço, mais tarde, ao remorso e ao sentimento de culpa, fazendo que o autor se
entregue espontaneamente à autoridade policial ou cometa o suicídio. Em muitas
situações, o assassino nem procura fugir para longe, mas permanece nas proximidades.
"Há até o desejo inconsciente de que seja preso", acrescenta.
Fonte: Site Correio do Povo
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