Pesquisar este blog

sexta-feira, outubro 26

Médico forjou atestado para manter namorada em cárcere privado


Clínico geral de 53 anos é suspeito de torturar enfermeira em Porto Alegre


O médico de 53 anos suspeito de manter a namorada – uma enfermeira de 51 anos – em cárcere privado e torturá-la durante 17 dias, teria forjado um atestado para justificar a ausência da vítima no trabalho. Conforme a titular da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, delegada Nadine Tagliari Farias Anflor, o clínico geral se passou pelo pai – que tem o mesmo nome, mas é dermatologista – para falsificar um atestado, alegando que em razão de problemas de pele a enfermeira não poderia comparecer ao trabalho por pelo menos duas semanas.

O médico manteve a namorada contra a vontade na casa dele, no bairro Glória, de 2 a 19 de outubro. Em uma ocasião, ela chegou a fazer contato telefônico com a família, mas justificou que estava na praia, provavelmente pressionada pelo namorado, afirma a delegada. No período, a vítima sofreu vários ferimentos causados por relhos (chicotes), cortadores de unha e agulhas.

Conforme Nadine, o médico manteve a mulher sedada: "Tanto para aliviar a dor e continuar praticando tortura, quanto para impedi-la de fugir". Além da violência, o suspeito ainda sacou R$ 3 mil da conta da enfermeira, o correspondente ao salário de um mês, para comprar drogas, de acordo com a delegada.

Os pais do clínico geral, que moram em uma casa no mesmo terreno, estranharam a ausência da namorada do filho durante as refeições. No começo, ela participou do almoço por duas vezes, mas depois não foi mais vista, sob alegação de estar dormindo, relata a delegada. Ela conta que os familiares notaram que havia algo estranho, mas não puderam fazer nada em razão de serem bem idosos.

Em um momento de distração do suspeito, a enfermeira conseguiu fugir na manhã do dia 19. A mãe dele chamou um táxi e a mulher pediu ajuda ao ex-marido, pai de seu filho. Após, foi até a Delegacia da Mulher e registrou ocorrência. Conforme Nadine, a vítima apresentava diversas marcas no rosto e corpo, além de ter o cabelo cortado, e inclusive ficou com dificuldade para caminhar.

A enfermeira realizou exame no Departamento Médico Legal (DML) e foi encaminhada ao hospital Santa Casa para tratar dos ferimentos. A delegada solicitou a prisão preventiva do suspeito, em razão de cárcere privado e lesão corporal, que foi decretada pela Justiça na quarta-feira. O médico foi preso em casa nessa quinta e encaminhado ao Presídio Central.

O casal, que se conheceu e namorou na adolescência, havia retomado o relacionamento no começo deste ano. O homem já teria se mostrado agressivo anteriormente, mas nada comparado aos últimos acontecimentos, conforme a vítima. Nadine relata que, segundo depoimentos de familiares, ele já havia sido violento com a ex-mulher, com quem tem uma filha, o que motivou a separação há vários anos.

"Ele já apresentava histórico de violência, o que foi potencializado pelo uso de drogas", afirma. Nadine conta que a própria família atribui a atitude do médico ao vício em crack. O homem também possui antecedentes por furto e roubo.

Conforme dados do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), o clínico geral se formou em 1988 na Faculdade de Medicina da PUCRS e está apto a exercer a profissão. Até 2005 ele teria trabalhado em uma clínica que pertencia ao pai, mas que faliu. Após, passou a oferecer seus serviços via Internet.

Cremers irá analisar conduta de médico

O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) irá analisar a conduta do clínico geral, apesar de a possibilidade de penalização ou cassação do registro profissional ser pequena em razão de as ações criminosas terem sido cometidas fora das atividades laborais.

Porém, como o médico tratava das feridas decorrentes de torturas praticadas contra a vítima com base nos conhecimentos profissionais, o Departamento Jurídico do Cremers irá estudar o caso para avaliar se cabe alguma punição. “Nós vamos analisar se as ações dele ao atender esta pessoa usando os conhecimentos médicos poderá levá-lo a ser enquadrado dentro de alguma responsabilidade avaliada pelo Conselho”, ressaltou o presidente Rogério Aguiar.

Nenhum comentário: