Clínico geral de 53 anos é suspeito de torturar enfermeira
em Porto Alegre
O médico de 53 anos suspeito de manter a namorada – uma
enfermeira de 51 anos – em cárcere privado e torturá-la durante 17 dias, teria
forjado um atestado para justificar a ausência da vítima no trabalho. Conforme
a titular da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, delegada Nadine Tagliari
Farias Anflor, o clínico geral se passou pelo pai – que tem o mesmo nome, mas é
dermatologista – para falsificar um atestado, alegando que em razão de
problemas de pele a enfermeira não poderia comparecer ao trabalho por pelo
menos duas semanas.
O médico manteve a namorada contra a vontade na casa dele,
no bairro Glória, de 2 a 19 de outubro. Em uma ocasião, ela chegou a fazer
contato telefônico com a família, mas justificou que estava na praia,
provavelmente pressionada pelo namorado, afirma a delegada. No período, a
vítima sofreu vários ferimentos causados por relhos (chicotes), cortadores de
unha e agulhas.
Conforme Nadine, o médico manteve a mulher sedada:
"Tanto para aliviar a dor e continuar praticando tortura, quanto para
impedi-la de fugir". Além da violência, o suspeito ainda sacou R$ 3 mil da
conta da enfermeira, o correspondente ao salário de um mês, para comprar
drogas, de acordo com a delegada.
Os pais do clínico geral, que moram em uma casa no mesmo
terreno, estranharam a ausência da namorada do filho durante as refeições. No
começo, ela participou do almoço por duas vezes, mas depois não foi mais vista,
sob alegação de estar dormindo, relata a delegada. Ela conta que os familiares
notaram que havia algo estranho, mas não puderam fazer nada em razão de serem
bem idosos.
Em um momento de distração do suspeito, a enfermeira
conseguiu fugir na manhã do dia 19. A mãe dele chamou um táxi e a mulher pediu
ajuda ao ex-marido, pai de seu filho. Após, foi até a Delegacia da Mulher e
registrou ocorrência. Conforme Nadine, a vítima apresentava diversas marcas no
rosto e corpo, além de ter o cabelo cortado, e inclusive ficou com dificuldade
para caminhar.
A enfermeira realizou exame no Departamento Médico Legal
(DML) e foi encaminhada ao hospital Santa Casa para tratar dos ferimentos. A
delegada solicitou a prisão preventiva do suspeito, em razão de cárcere privado
e lesão corporal, que foi decretada pela Justiça na quarta-feira. O médico foi
preso em casa nessa quinta e encaminhado ao Presídio Central.
O casal, que se conheceu e namorou na adolescência, havia
retomado o relacionamento no começo deste ano. O homem já teria se mostrado
agressivo anteriormente, mas nada comparado aos últimos acontecimentos,
conforme a vítima. Nadine relata que, segundo depoimentos de familiares, ele já
havia sido violento com a ex-mulher, com quem tem uma filha, o que motivou a
separação há vários anos.
"Ele já apresentava histórico de violência, o que foi
potencializado pelo uso de drogas", afirma. Nadine conta que a própria
família atribui a atitude do médico ao vício em crack. O homem também possui
antecedentes por furto e roubo.
Conforme dados do Conselho Regional de Medicina do Rio
Grande do Sul (Cremers), o clínico geral se formou em 1988 na Faculdade de
Medicina da PUCRS e está apto a exercer a profissão. Até 2005 ele teria
trabalhado em uma clínica que pertencia ao pai, mas que faliu. Após, passou a
oferecer seus serviços via Internet.
Cremers irá analisar conduta de médico
O Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul
(Cremers) irá analisar a conduta do clínico geral, apesar de a possibilidade de
penalização ou cassação do registro profissional ser pequena em razão de as
ações criminosas terem sido cometidas fora das atividades laborais.
Porém, como o médico tratava das feridas decorrentes de
torturas praticadas contra a vítima com base nos conhecimentos profissionais, o
Departamento Jurídico do Cremers irá estudar o caso para avaliar se cabe alguma
punição. “Nós vamos analisar se as ações dele ao atender esta pessoa usando os
conhecimentos médicos poderá levá-lo a ser enquadrado dentro de alguma
responsabilidade avaliada pelo Conselho”, ressaltou o presidente Rogério Aguiar.
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