Foi prorrogada por 30 dias a prisão temporária dos dois sócios
da boate Kiss e de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira. A boate foi
atingida por um incêndio no último domingo (27), que deixou 236 mortos. O
pedido da Polícia Civil foi aceito pela Justiça do Rio Grande do Sul na manhã
desta sexta-feira (1º). Os quatro suspeitos ficarão detidos por mais um mês para não prejudicar o
andamento das investigações.
Segundo o Ministério Público, a polícia diz que a manutenção
da prisão é necessária porque há possibilidade de fuga caso eles sejam soltos
nesta sexta, data em que se encerraria a prisão temporária de cinco dias
expedidas pelo Judiciário.
Prorrogação foi concedida pelo juiz plantonista Régis Bertolini (Foto: Tatiana Lopes/G1) |
A prorrogação foi concedida pelo juiz plantonista Régis
Bertolini, de Santa Maria. Elissandro Spohr, seu sócio Mauro Hoffmann e os
integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos
Santos e o técnico de palco Luciano Augusto Bonilha Leão estão presos desde
segunda-feira (28).
No despacho, o juiz cita que "a indiferença dos sócios
administradores da casa noturna com a insegurança oferecida no local traz
fortes indícios de que estes assumiram o resultado morte dos frequentadores do
local", diz o documento obtido pelo G1.
Logo depois da decisão, os advogados de Mauro Hoffmann
chegaram ao local para comunicar o juiz titular Ulysses Fonseca Louzada de que
vão protocolar o pedido de revogação da prisão.
"A gente sabe que houve uma coisa horrível e é preciso
apontar culpados. É o que vamos fazer a partir de agora", diz o juiz
Louzada.
Parecer do Ministério Público
Já a Promotoria afirma que as investigações iniciais
"indicam a presença do dolo na conduta dos representados, evidenciando a
prática de homicídio doloso, portanto, tendo os representados assumido o risco
de produzir o resultado morte de mais de duzentas pessoas, por meio de
asfixia". Dolo é o crime cometido com intenção.
"Estamos diante, portanto, por ora, de crime de
homicídio qualificado, o qual é considerado crime hediondo", afirmam os
promotores Joel Oliveira Dutra e Waleska Flores Agostini, que assinam o
parecer. Ainda segundo o MP, os sócios "mantinham estabelecimento
comercial que não tinha condições de operar e, mais, operavam de forma
temerária", os "extintores não funcionavam", e "houve uso
de artefatos pirotécnicos não permitidos para ambientes fechados".
Além disso, a Promotoria afirma que "houve a utilização
de materiais altamente inflamáveis não permitidos para o isolamento acústico,
que, segundo já noticiado, liberava substância tóxica (cianeto), que já foi
detectado em uma das vítimas sobreviventes, ainda hoje internada junto ao
Hospital de Clínicas de Porto Alegre".
Já os integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, "com
suas condutas, teriam concorrido para a prática do ilícito", diz o MP.
Isso porque o produtor da banda "adquiria os artefatos pirotécnicos, com
ciência de que não poderiam ser utilizados em ambiente fechado",
"parecendo desimportar-se com o resultado de sua conduta, apenas visando
ao lucro".
O vocalista da banda, "teria ciência de tal fato e,
mesmo assim, utilizava os artefatos, sendo que há notícia, inclusive, de que
chegou a encostar no teto da boate tal artefato". "Da mesma forma,
estando com o microfone na mão, não foi capaz de alertar as pessoas acerca da
existência de fogo no ambiente", alega o Ministério Público.
Depoimentos
O sócio da Boate Kiss, o vocalista e o produtor da banda
Gurizada Fandangueira deram versões contraditórias nos depoimentos à polícia
sobre o incêndio. O Jornal Nacional teve
acesso ao depoimento das testemunhas.
Já prestaram depoimento à polícia jovens que estavam no
local no momento do incêndio, músicos e sócios da boate, entre eles Elissandro
Spohr, conhecido como Kiko, que foi ouvido no domingo (27). Ele afirmou que a
banda tocava na boate uma vez por mês, mas nunca tinha feito esse show
pirotécnico e nunca havia pedido consentimento para que se fizesse esse tipo de
apresentação.
Ainda de acordo com o depoimento de Spohr, o teto da boate
seria de gesso, com uma camada de lã de vidro acima. No palco, havia uma
primeira camada de esponja para isolamento acústico.
O advogado Jader Marques, que defende Spohr, afirmou que não
tinha certeza sobre o uso de espuma. "Pode sim ter acontecido que o Kiko,
com orientação desse engenheiro, ter adicionado elementos como espuma, parede,
madeira, gesso em outros locais fora do projeto do Ministério Público e sem o
conhecimento do Ministério Público. Pode isso ter acontecido? Sim, pode, pode
ter acontecido."
Fonte: Site G1 RS
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