Militar aposentado foi à casa
noturna com a esposa, filha e genro.
O namorado da filha morreu após
10 dias internado em Porto Alegre.
Quinta testemunha a ser ouvida
nesta quinta-feira (27), segundo dia de audiências na Justiça de Santa Maria
sobre a tragédia na boate Kiss, o militar da reserva João Batista Silveira
Gonçalves disse que a responsabilidade pela tragédia deveria ser compartilhada.
O incêndio que matou 242 pessoas completa cinco meses nesta quinta.
No depoimento de pouco mais de 40
minutos, João lembrou o genro que perdeu naquela madrugada de 27 de janeiro,
que ele considerava como um “filho”, e afirmou que as sociedades de Santa Maria
e do Rio Grande do Sul e os pais das vítimas também são um pouco responsáveis
pela tragédia.
“Nós pais também somos
responsáveis pelo que aconteceu. Quantos de nós que acompanharam seus filhos a
boates e no dia seguinte disseram a eles: 'aqui tu não vens nunca mais'?”,
questionou, bastante emocionado.
João relatou que foi uma das
primeiras pessoas a entrar na boate na noite de sábado, acompanhado da esposa,
da enteada e do genro. Sentou em uma mesa em frente ao corredor principal da
casa noturna e lá ficou até perceber o incêndio, que começou já na madrugada do
domingo.
Ele contou que sentiu um “cheiro
de queimado” quando levou a mulher ao banheiro, nos fundos da boate. Não
percebeu o início do fogo no palco principal, mas viu uma movimentação que
achou tratar-se de uma briga. Só sentiu que corria perigo quando a porta da
frente da Kiss foi aberta e uma nuvem de fumaça negra começou a sair por ela.
“Como eu sou militar, tive
treinamento para incêndio. Me abaixei, coloquei a camisa no rosto e agarrei os
três que estavam comigo. A gente saiu agarrado um no outro, mas quem vinha
atrás batia e nos separava”, lembrou.
Depois de se separar dos
familiares, o militar conta que ficou preso em uma grade de contenção perto da
única porta de saída da boate. Conseguiu pular e ganhou acesso à rua. Lá,
encontrou a esposa, mas não as “duas crianças”. Tentou voltar para ajudar no
resgate, mas foi impedido por policiais militares que já estavam na frente do
prédio.
Os dois adolescentes conseguiram
sair ou foram retirados da boate após alguns instantes, depois de terem
respirado muita fumaça. O rapaz tinha sofrido queimaduras e estava desacordado.
A menina ainda estava consciente. João diz que pediu atendimento a um
socorrista do Samu, mas ouviu uma negativa como resposta.
Decidiu, então, levar os três
familiares para atendimento médico no Hospital Universitário, no próprio carro.
Lá, a menina também começou a passar mal e precisou ser entubada. Naquela
madrugada, ambos foram transferidos para hospitais de Porto Alegre. O rapaz
morreu depois de 10 dias internado. A enteada de João ficou mais de 20 dias no
hospital, mas ainda hoje sofre com problemas respiratórios.
“Faltou responsabilidade de todos
os órgãos públicos. Se eu for fazer uma obra na minha casa, em meia hora tem
seis fiscais batendo na minha porta querendo embargar meu puxadinho. Por que
isso não ocorria em outros estabelecimentos de Santa Maria?”, disse o militar
da Base Aérea, ao responder um questionamento sobre o que considerava que
faltava em termos de segurança na Kiss.
No testemunho concedido ao juiz,
promotores e advogados de defesa e acusação, João afirmou ainda que foi à Kiss
para acompanhar a enteada, que era menor de idade e fazia parte das turmas que
estavam promovendo a festa. Na entrada, uma pessoa que se identificou como
gerente do estabelecimento marcou a comanda dela com a palavra
"menor" e o advertiu que a jovem estaria sob sua responsabilidade se
consumisse bebida alcoólica.
Em um depoimento anterior, no
entanto, a estudante universitária Fernanda Rodrigues declarou que frequentou a
Kiss em três oportunidades, inclusive na noite da tragédia. Em todas elas,
disse a jovem à Justiça, não teve problemas para entrar na casa noturna e
ingerir bebidas alcoólicas mesmo sendo menor.
Fonte: Site G1 RS
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