"Numa noite fria, saí numa ronda com um colega policial canadense. Houve, então, o furto de um veículo. Daí em diante, participei de uma admirável ação policial. Perseguição automobilística digna de filmes de Hollywood, com interceptação do carro furtado. Trocados tiros, o criminoso, sem munição, correu, com o policial em seu encalço. Próximo este aproveitou um declive e saltou sobre as costas do criminoso. Derrubando-o, passou-lhe as algemas. Sou filho de policial e policial por vocação. Amo o que faço e admiro quem o faz bem feito. Aquele colega era meu herói, naquele momento. Foi perfeito. Mas pôs tudo a perder quando ergueu o bandido e perguntou: "Você está bem?" Parti para cima dele, indignado. Perguntar ao bandido, que ele perseguiu e prendeu magnificamente, se estava bem? Que é isso?
-Ele está imobilizado. Quero saber, agora, se está bem. Sou um profissional. Não fiz por raiva. Agi com tamanha energia, usando com habilidade toda a força necessária, porque sou treinado para isso. Talvez seja por esse motivo que erramos menos: porque agimos mais com a razão e não tanto com as emoções.
- Mas ele é um bandido, gritei, tentando convencê-lo, num derradeiro argumento. Ao que ele respondeu:
- Mas eu não sou. Essa é a diferença".
(o grifo é meu)
Sobre o tema 'trabalho policial e violência' recomendo as leituras:
ADORNO, Sérgio. Monopólio estatal da violência na sociedade brasileira contemporânea. Disponível em: http://www.nev.prp.usp.br/;
AMADOR, Fernanda Spanier. Vilência policial: verso e reverso do sofrimento. Santa Cruz: Edunisc, 2002;
PONCIONI, Paula. Tornar-se policial: a construção da identidade profissional do policial no Estado do Rio de Janeiro. Tese, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
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