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segunda-feira, outubro 25

Caso Eliza Samúdio - Testemunha dá detalhes em video

O Fantástico mostrou imagens inéditas  que reconstituem os últimos dias de Eliza Samúdio no sítio do ex-goleiro Bruno.

O primo dele, Sérgio Rosa Sales, conta à polícia o que ouviu dos principais personagens do caso e o que viu acontecer dentro do sítio.

É a principal peça do processo que mantém, na cadeia, Bruno e mais oito pessoas. Sérgio é considerado pelos investigadores uma testemunha-chave, porque é o único envolvido que nunca mudou sua versão do crime nem nos depoimentos dados na delegacia, nem na reconstituição do delito.

Nas imagens gravadas no sítio do ex-goleiro Bruno em Contagem, Minas Gerais percebe-se que os policiais querem que Sério Rosa Sales, primo do ex-jogador, conte tudo o que viu e ouviu na noite em que, segundo ele, Eliza Samúdio morreu.

Sobre o desabafo de Bruno na noite do crime, por exemplo, Sérgio disse no interrogatório: "Não era melhor você ter resolvido isso na Justiça? Aí o Bruno disse: ‘já está feito, cara’’. No vídeo da reconstituição, a testemunha reafirma o que disse:
Policial: E você falou o que com o Bruno?
Sérgio: Por que não resolveu na Justiça.
Policial: E ele?
Sérgio: Ele falou que já estava feito. Aí começou a chorar.

Segundo as investigações, Eliza foi assassinada no dia 9 de junho deste ano. Mas até agora o corpo não foi encontrado. Os principais envolvidos são o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como Macarrão.

“Bola falou com ela assim: ‘você não vai apanhar não, você vai morrer’. Ele foi e deu uma gravata nela”, afirma Sérgio. “Quando ela caiu, o Macarrão pegou e chutou ela”, completa.

Com exceção de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola - que foi indiciado por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e formação de quadrilha – os outros oito acusados foram indiciados por seqüestro, cárcere privado, homicídio, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e corrupção de menores.

Há também um menor de idade que confessou ter agredido Eliza Samúdio a coronhadas antes de ela ir ao sítio. O nome do menor, que já está cumprindo medida sócio-educativa, foi suprimido desta reportagem. Agora a Justiça vai decidir se os demais acusados vão a júri popular.
Este mês, a juíza que cuida do caso permitiu que, por medida de segurança, Sérgio não fosse às audiências. O primo do ex-goleiro está separado dos outros presos porque estaria sendo pressionado por advogados de outros envolvidos.

O Fantástico teve acesso à gravação que consta do processo judicial. Imagens da reconstituição feita pelo por Sérgio Rosa Sales. Ele mostra o que aconteceu no sítio de Bruno nos dois dias que, segundo ele, antecederam a morte de Eliza Samúdio.
Sérgio diz aos policiais que estava na porta da sala quando viu Eliza pela primeira vez.

Era a manhã do dia 8 de junho, véspera da morte.

Policial: Quem estava com você, do lado de fora?
Sérgio: O Macarrão.
Policial: E ele falou o que com você?
Sérgio: Que não era para eu entrar.
Policial: Tá. Aí você perguntou para ela alguma coisa?
Sérgio: .Não, estava fechado. Perguntei pra ele por que eu não podia. Ele falou: “eu não devo satisfação’’.

O primo de Bruno mostra aos policiais onde estava Eliza.

Policial: Aonde que ela estava efetivamente na sala?
Sérgio se dirige ao sofá. Em seguida, uma perita se senta no sofá.
Policial: Tá. Encostada com a cabeça?
Sérgio: É, estava mais em pé.

A
perita, então, se ajeita no sofá. Sérgio mostra onde Eliza estava machucada.

Policial: Onde que estava o ferimento?

Sérgio mostra que o ferimento estava na parte de trás da cabeça. Ela estava sozinha com o bebê no colo e Sérgio continuava sem poder entrar na sala.

Policial: Quem que estava na sala com ela?
Sérgio: Aqui dentro?
Sérgio: Ninguém.
Policial: Ela estava sozinha?
Sérgio: Estava trancada a porta.
Policial: Estava trancada a porta.

Em outro ponto da residência, o primo diz que Macarrão não o deixava entrar enquanto Eliza estivesse lá dentro. Sérgio então dormia em um quarto no anexo da casa.

Sérgio: Eu não pude ficar na casa. Nesses dias, ele não deixava eu entrar na casa.
Policial: E você achou estranho isso?
Sérgio: Achei.

No interrogatório, Sérgio contou que na noite do dia 9, quando Eliza foi levada do sítio, Bruno saiu às 19h em um carro Fiat Uno. No vídeo, o primo do ex-goleiro repete a informação.

Sérgio: O Bruno saiu foi às 19h.

Segundo o primo do ex-goleiro, duas horas depois Macarrão e o menor apareceram do lado de fora da casa com Eliza e o bebê. Macarrão carregava uma mala vermelha. E todos entraram em outro carro, um Ford modelo Ecosport.

Policial: E como é que foi a mala dela?
Sérgio: Vermelha.
Policial: Quem que botou?
Sérgio: O Macarrão.
Policial: Botou aonde?
Sérgio: Na traseira do carro, no porta-mala.
Sérgio diz que Macarrão e o menor não o deixaram se aproximar. Alegaram que iam dar um passeio, e Eliza parecia bem.
Policial: E eles falaram o que para você?
Sérgio: Só mandou sair para ficar no fundo, que eles só iam passear com a menina. Ela estava tranquila, estava normal com eles.
Policial: Estava normal com eles. Falava alguma coisa ela, falou nada?
Sérgio: Não.
Policial: E o machucado dela?
Sérgio: Não estava sangrando, estava sem curativo.
Policial: E a criança?
Sérgio: Estava no colo dela.

Horas mais tarde os três amigos voltaram. Sem Eliza e o bebê.

Policial: Quem que chega às 3h da manhã?
Sérgio: O menor , o Bruno e o Macarrão.
Policial: Chegaram em qual carro?
Sérgio: Ecosport.
Policial: Os três no mesmo carro?
Ele balança a cabeça afirmativamente.

Macarrão e o menor, segundo Sérgio, trataram de queimar a mala vermelha de Eliza. Sérgio mostra o local onde a mala teria sido queimada.

Policial: Quem estava?
Sérgio: O menor e o Macarrão.
Policial: Aí o Bruno chegou aqui.
Sérgio: Ele falou: "volta, que eu vou conversar com os meninos". Aí ele levou os meninos para lá.
Policial: Que que eles estavam conversando?
Sérgio: Eles estavam lá no fundo.
Policial: Mas assim gesticulando muito...
Sérgio: Ele estava xingando, os meninos só escutando.
Policial: Por que você acha que o Bruno estava xingando?
Sérgio: Pelo jeito que ele estava fazendo com as mãos. Aí falei para o Bruno: “cadê a menina?”. Aí o menor falou para mim: “Já era”.

No depoimento na delegacia, Sérgio acrescenta que o ex-goleiro ainda disse: "acabou
esse tormento". Segundo o primo de Bruno, foi o menor de idade quem informou que Eliza tinha sido entregue ao ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. São as palavras do menor que Sérgio reproduz a seguir, ao contar como Eliza foi morta por bola.

Sérgio: Falou com ela assim: "vira de costas". Ela falou com o cara: "ô moço, eu não quero apanhar mais não". Ele falou com ela assim: "você não vai apanhar, não; você vai morrer”. Diz que ele foi e deu uma gravata nela. Aí, quando ela caiu, diz que o Macarrão foi e chutou ela.

O menor de idade chegou a detalhar, para Sérgio e para a polícia, como o ex-policial teria se livrado do corpo de Eliza. O cadáver teria sido cortado em pedaços e dado como comida a cães da raça rotweiller.

Sérgio: Tinha dois cachorros.
Policial: Quais eram os cachorros?
Sérgio: Rotweiller.
Policial: Quem estava te contando isso?
Sérgio: O menor.
Policial: E ele estava te contando normal ou estava feliz?
Sérgio: Estava. Parecia que ele tinha feito aniversário.
Policial: E o Bruno?
Sérgio: Bruno, não.
Policial: O Bruno estava como?
Sérgio: Estava sério, de cabeça baixa.
Policial: Assustado? Alguém parecia assustado?
Sérgio: Assustado, não. Estava arrependido.

Mas depois o menor acabou mudando o depoimento.

Segundo o advogado de defesa, o menor mentiu no depoimento. “Eu perguntei para ele o que não tinha de real na história. E ele me respondeu: ‘doutor, eu inventei a primeira mentira e não tive mais jeito, porque os advogados foram me pressionando. Eu dizia o que me vinha na cabeça e ia emendando uma mentira atrás da outra. No fim deu no que deu’”, garante Eliézer Jônatas de Almeida.

Até agora, Sérgio não mudou o relato. O advogado dele acha que se ele resolver mudar no depoimento à Justiça, pagará pela mudança.

“Uma certeza eu tenho é que - se ele mudar para tentar beneficiar A, B ou C - certamente ele será condenado”, garante o advogado de Sérgio Rosa Sales, Marco Antônio Siqueira.


Ércio Quaresma, o advogado de Bruno, não foi localizado para se manifestar sobre o depoimento de Sérgio. Segundo o escritório dele, o advogado estaria internado em um hospital. A partir do mês que vem, a Justiça começará a ouvir os acusados.
Nesse mesmo depoimento, Sérgio conta ainda que não viu o bebê ser trazido de volta ao sítio.

(Fonte: Site G1)

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