Apesar das punições previstas em lei para atitudes preconceituosas, a internet se tornou terreno fértil para que milhares de pessoas divulguem e consumam material contra negros, judeus, religiosos, homossexuais e até imigrantes. Entre outubro e novembro deste ano, a SaferNet Brasil, associação civil de direito privado com atuação nacional, registrou mais de mil denúncias contra esse tipo de manifestação. Além disso, pelo menos 20 mil sites hospedados no Brasil produzem conteúdo discriminatório.
A maior parte das denúncias é contra manifestações xenofóbicas, com 1.042 registros. Em seguida, homofobia (781), racismo (269), crimes neonazistas (220) e intolerância religiosa (176). No primeiro semestre de 2010 foram registradas 16.636 denúncias de material discriminatório. Homofobia ficou em primeiro lugar nas denúncias (5.937), seguido por xenofo-bia (4.541), crimes neonazistas (3.019), racismo (1.675) e intolerância religiosa (1.464).
Estatísticas
Em 2009 foram realizadas 52.388 denúncias de crimes cibernéticos ao site SaferNet Brasil. Neste período o portal registrou 12.964 denúncias de neonazismo, 12.477 de xenofobia, 12.130 de intolerância religiosa, 8.510 de racismo e 6.307 de homofobia.
Thiago Tavares, diretor- presidente da Safernet, afirma que a rede criou “novas e surpreendentes” possibilidades para o internauta. Porém, o espaço público não pode ser identificado como uma terra sem lei e do “posso tudo e ninguém me acha”.
– É importante que todos os crimes de preconceito e discriminação sejam denunciados. O empenho da população é fundamental para a punição de criminosos que espalham conteúdos preconceituosos – defendeu.
Em dois anos, mais de sete mil sites preconceituosos foram criados
De acordo com a antropóloga Adriana Reis, da Unicamp, cerca de 20 mil sites de conteúdo preconceituoso nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola são hospedados no Brasil. Mais de 150 mil pessoas, de acordo com ela, consomem esse tipo de material no país. Tese de mestrado, defendida por Adriana em 2007, mostrou que naquele ano já existiam, pelo menos, 13 mil sites discriminatórios.
Outros conteúdos preconceituosos foram identificados pela antropóloga em dezenas de blogs e comunidades em redes sociais como Orkut e Facebook, além de centenas de perfis no Twitter. Para a antropóloga, a impunidade serve como incentivo para os criminosos.
- Alguns delinqüentes produzem textos contra negros, judeus, homossexuais, migrantes e uniões interraciais enquanto outros baixam os arquivos e consomem os materiais preconceituosos. Vivemos em uma nação multicultural, com diferentes povos e religiões do mundo inteiro. Não podemos aceitar nenhum tipo de preconceito – defendeu.
Para a antropóloga, falta disposição dos parlamentares para criar leis que investiguem e punam os crimes por discriminação e preconceito. Ela afirma que os métodos permitidos pela nova tecnologia deixam os criminosos impunes.
– Outro grave problema está na gestão das lan houses, que não cadastram os clientes, tornando a identificação dos criminosos ainda mais difícil – lembra.
Welton Trindade, presidente da ONG Estruturação, entidade que luta pelos direitos dos gays, reclama que as leis protegem mais os negros do que os homossexuais.
– É incoerente haver dois pesos e duas medidas. Os crimes de racismo contam com mais formas legais de punição, pois é inafiançável. Os homossexuais não têm proteção legal e, por isso, o crime aparenta ser mais tolerado tonando os criminosos ainda mais seguros para continuar agindo – criticou.
Único senador negro, Paulo Paim (PT-RS), que recentemente foi vítima de ameaças de grupos neonazistas, lembra que todo crime de preconceito é considerado inafiançável. E não vê espaço para discriminação após tantas transformações no mundo.
– É inadmissível que no século 21, com presidentes negros, como o Barack Obama, índios, como Evo Morales, e nordestinos, como o Lula, ainda haja preconceitos – criticou.
(Fonte: Jornal do Brasil)
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