Eram 6h da manhã de segunda-feira (17), quando pai e mãe
entraram na delegacia do Leblon e pediram para falar com a delegada Flávia
Monteiro. O motivo? Amor incondicional, esperança na ressocialização e luta
pela sobrevivência do filho. “Foi a decisão mais difícil da minha vida. Mas não
queria ver meu filho morto durante uma troca de tiros com a polícia. Não
conseguia dormir imaginando o que estava acontecendo com ele nas ruas”, diz a
babá Cirlene Maria da Silva, mãe de Rafael da Silva Barros, de 18 anos,
suspeito da morte do soldado da PM Diego Bruno Barbosa Henriques.
Delegada Fláiva Monteiro. Foto: Janaína Carvalho/G1 |
O mesmo amor fez com que Luciene, moradora do bairro da
Jacutinga, em Mesquita, Baixada Fluminense, pegasse o telefone no dia 13 de
setembro e discasse para o 190. Seu filho, o menor de 16 anos conhecido pelo
apelido de Foca, é apontado como o terceiro homem na hierarquia do tráfico da
Chatuba, e suspeito de ter participado da chacina de nove pessoas no início do
mês.
Mas Luciene, diferente de Cirlene, ainda acreditava na
inocência do filho quando o entregou à polícia. “Entreguei o meu filho para que
ele pudesse se defender. Ele não quer ser acusado por esse crime”, contou a mãe
na delegacia no dia que entregou o filho. Quatro dias após ser preso, Foca
confessou ter matado pelo menos uma das nove vítimas da chacina.
Na última terça-feira (25), policiais da Chefia de Polícia
Civil, no Centro do Rio, foram surpreendidos por um casal que chegou ao local
acompanhado de um jovem de 22 anos. Maurício Silva Conceição foi levado pelos
próprios pais para se entregar à polícia. Ele é suspeito de ter matado o
policial federal Jonas Climaco da Cunha, no subúrbio do Rio, no dia 23, durante
uma tentativa de assalto.
‘Me desculpa filho, mas eu fiz isso por amor’
Cirlene e Antônio Fernando, pais de Rafael, foram à
delegacia informar à polícia onde o filho poderia ser encontrado. O pai
acompanhou a delegada e os agentes na hora da prisão. “A mãe ficou na delegacia
e o pai foi na viatura conosco. Na hora da abordagem, pedi que ele ficasse no
carro por motivo de segurança. Quando voltamos com o Rafael para o carro, o pai
o abraçou e disse: ‘Me desculpa filho, mas eu fiz isso por amor’. E depois
disso, eles ficaram com o filho o tempo inteiro, até ele ser encaminhado para a
Divisão de Homicídios, que é a responsável pelo caso”, contou a delegada Flávia
Monteiro, adjunta da 14ª DP (Leblon).
Duas semanas após ver o filho chegando algemado na delegacia
do Leblon, Cirlene ainda não está totalmente tranquila. “Agora meu coração está
um pouco mais aliviado porque sei que ele está vivo, mas ainda está partido
porque desde que ele foi preso que não consigo vê-lo”, diz a babá, lembrando
que no último dia que esteve com o filho disse a ele que jamais o deixaria
sozinho, em hipótese nenhuma.
Na véspera da prisão, Rafael foi visto por um tio dormindo
embaixo de um viaduto em Botafogo, na Zona Sul da cidade. Assim que souberam o
paradeiro do filho, Cirlene e Antônio foram atrás do filho. Era 1h da madrugada
de segunda-feira (17), quando os pais chegaram no viaduto.
“Falei para ele se entregar, disse que não o deixaria
sozinho, mas ele ficou com medo. Saímos dali e conversei muito com o pai dele.
Foi uma decisão muito difícil para nós, mas foi melhor do que vê-lo morto. Sei
que nesses anos lá (prisão), ele vai aprender e não vai querer passar por isso
outra vez”, disse a mãe, acreditando que o filho se torne uma pessoa honesta e
trabalhadora quando sair da prisão.
Rafael foi preso pela primeira vez em março desse ano, uma
semana depois de ter completado 18 anos. Ele foi preso por tráfico de drogas e
foi apenas nesse dia que a mãe teve certeza que ele tinha envolvimento com a
criminalidade. “Nunca vi ele com arma na não. Ele chegava em casa cedo e não o
via em más companhias. Não imaginava uma coisa dessa. Minha família é toda
trabalhadora. Somos pessoas humildes, mas sempre demos bom exemplo”, disse
Cirlene, que trabalha como babá na Zona Sul do Rio.
Foi justamente a prisão por tráfico de drogas que deu à
família de Rafael a confiança de entregá-lo à delegada Flávia Monteiro. “Na
primeira vez que pegaram ele, ela conversou muito com a gente e deu muitos
conselhos ao Rafael. Disse que ele era um rapaz novo, que poderia mudar de
vida. Foi por isso que confiamos nela para entregar nosso filho”.
Delegado diz que confiança dos pais é muito importante
Antes de entregá-lo à polícia, Luciene não via o filho há
cerca de quatro meses, pois ele era foragido de um Centro de Recurso Integrado
de Atendimento ao Menor (Criam) da Baixada Fluminense. “Ele foi preso porque
estava dirigindo sem habilitação e estava com outros dois garotos no carro e
drogas”, lembra Luciene.
O adolescente ficou no Criam de janeiro a maio deste ano e,
desde a fuga, a mãe só conversava com ele por telefone, quando Foca Ligava para
ela. Depois de o filho ter admitido à polícia que matou o cadete da PM, Luciene
preferiu não falar mais sobre o caso.
Após a prisão de Maurício, suspeito de ter matado o policial
federal, o delegado da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, afirmou que
a confiança que muitos pais têm demonstrado, se deve ao trabalho diferente que
a polícia tem realizado. “Agradecemos a esses pais a confiança que eles têm
tido na polícia. Isso é muito importante e eles são um ótimo exemplo a ser
seguido. Isso é uma demonstração de amor ao filho”, afirmou Rivaldo.
Fonte: Site G1
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