A decisão foi proferida pelo juiz às 16h30 no Fórum da Barra Funda (SP). Ele poderá recorrer da decisão em liberdade.
Acusado de matar o pai e a
madrasta a tiros no dia 28 de março de 2004, Gil Rugai foi condenado na tarde
desta sexta-feira, 22, a 33 anos e nove meses de prisão pelo crime de duplo
homicídio por motivo torpe. Entretanto, ele poderá recorrer da decisão em
liberdade.
A decisão foi proferida pelo juiz
às 16h30 no Fórum da Barra Funda, na zona oeste da cidade, depois de cinco dias
de julgamento. Gil Rugai foi condenado a 15 anos pela morte da madrasta
Alessandra de Fátima Troitino e a 18 anos e nove meses pelo assassinato do pai
Luiz Carlos Rugai.
Dos sete jurados, 4 condenaram
Gil Rugai e 1 o absolveu. Os demais votos não foram divulgados porque neste
ponto a maioria já tinha decidido pela condenação. Com a decisão, o promotor
deixou o tribunal chorando: "vencemos em tudo". Dezenas de curiosos -
muitos estudantes de Direito ou parentes de advogados – aguardavam do lado de
fora do Fórum Criminal da Barra Funda pela sentença de Gil Rugai.
Para o advogado criminalista
Alberto Zacharias Toron, que auxiliou os advogados de defesa, Gil Rugai já
chegou ao julgamento condenado. "Foram nove anos com a imprensa afirmando
que ele era culpado. Seria muito difícil reverter essa imagem em cinco dias.
Mesmo assim, pelo trabalho da defesa, achava que ele seria absolvido."
Entenda o caso. Em sua denúncia,
o Ministério Público de São Paulo afirma que o estudante de Teologia que
sonhava em ser padre matou o casal por dinheiro. Os assassinatos aconteceram na
mansão onde as vítimas viviam, em Perdizes, na zona oeste da cidade. Luiz
Carlos Rugai, então com 40 anos,foi atingido por quatro tiros e Alessandra de
Fátima Troitino, então com 33 anos, por cinco.
A acusação sustentou durante o
julgamento que o motivo do crime foi a descoberta, por Luiz Carlos, de um
desfalque de R$ 150 mil na produtora de vídeo da família, a Referência. Gil
seria o responsável e, com medo da represália, teria premeditado o duplo
homicídio.
Único suspeito do crime, ele foi
preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) do Belém, na zona leste da
capital,depois que provas periciais e o testemunho de um vigia noturno da rua
onde o pai morava com a mulher indicaram a sua presença no local do crime.
Deixou o presídio em 18 de abril de 2006 e hoje, com 29 anos, leva uma vida
pacata ao lado da avó materna em uma casa no bairro de Perdizes. Não trabalha
nem estuda formalmente.
Julgamento.Durante o julgamento,
os advogados de Gil, Thiago Anastácio e Marcelo Feller, procuraram desqualificar
os laudos periciais e as testemunhas de acusação que colocavam o réu como
culpado. Tentaram também, até esta sexta-feira, eliminar qualquer possível
motivação para que Gil possa ter cometido os assassinatos.
No primeiro dia de audiência, a
dupla de defesa apontou um problema na animação produzida pelo Instituto de
Criminalística (IC) para comprovar que a marca de pé encontrada em uma porta
arrombada na casa das vítimas era de Gil. O vídeo mostra o pé errado: enquanto
na porta havia a marca de um pé direito, a simulação traz a de um pé esquerdo.
Os advogados também questionaram
a credibilidade de uma importante testemunha de acusação, o instrutor de voo de
Luiz Carlos Rugai na época do crime.A testemunha afirmou que Luiz Carlos ouviu
uma confissão de Gil Rugai admitindo ter roubado a empresa da família. Para
rebater o testemunho, os defensores argumentaram que o instrutor tem ligações
com narcotráfico e que sua versão não seria confiável.
Desfecho. Nesta sexta-feira, 22,
o promotor do caso, Rogério Leão Zagallo, traçou em suas explanação final um
perfil de Gil Rugai, considerando-o "hora psicopata, hora tranquilo".
Apresentou depoimentos de pessoas que afirmam ter visto com ele uma arma,
reafirmou a existência de um desfalque cometido por ele na produtora da família
e disse que o roubo teria sido descoberto pelo pai de Gil e pela madrasta.
Apontou ainda para a "coincidência", nas suas palavras, da arma do
crime ter sido encontrada no prédio onde Gil mantinha escritório, nos Jardins.
Em tom enérgico, Zagallo tentou
desmontar o álibi apresentado por Gil, de que estava no Shopping Frei Caneca,
na região central da cidade,quando o crime ocorreu. Para Zagallo, outra
característica do processo é determinante para concluir a culpa do réu: em nove
anos, as investigações não chegaram a nenhum outro suspeito.
A defesa, por sua vez, tentou, em
seus 90 minutos de explanação, desconstruir a imagem de "mostro" que,
segundo os advogados, foi atribuída ao réu em todo o processo. Ao se referir ao
cliente, usaram termos como "padreco", "moleque",
"esquisito" e "estranho". Os defensores afirmaram que Gil é
apenas um menino que perdeu o pai e a madrasta.
Eles gastaram boa parte do tempo
da argumentação tentando derrubar a tese do horário do crime. Uma xerox com uma
suposta conta telefônica de um dos vizinhos da vítima foi apresentada. Neste
documento, cuja autenticidade não pode ser comprovada, já que se trata de
apenas de uma parte da cobrança, um vizinho teria telefonado para o vigia da
rua onde o assassinato ocorreu por volta das 22h, logo após ouvir os disparos.
Outro registro telefônico mostrado pela defesa, do telefone fixo do escritório
de Gil, a 4,5 km da casa do pai, mostra que ele ligou às 22h14 do local para
uma amiga: não poderia, portanto, segundo os defensores, estar na cena do crime.
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