Imagens mostram buracos na tela do IPV e presos saindo do presídio por uma escada (Foto: Fábio Almeida e Reprodução/RBSTV) |
Um preso do Instituto Penal de Viamão, na Região
Metropolitana de Porto Alegre, planejava plantar maconha nos fundos do presídio
para "ganhar dinheiro". O telefonema à família foi flagrado por
escutas. No domingo (19), o Fantástico mostrou imagens que demonstram a
facilidade com que presos saem e retornam para a casa de detenção, considerada
a maior do regime semiaberto no Rio Grande do Sul, com 278 detentos.
O IPV faz divisa com o Parque Saint-Hilaire. De dentro do
presídio, um detento revela por telefone à família detalhes do próximo plano,
como mostra a reportagem do Jornal do Almoço desta segunda-feira.
"Vou plantar para ganhar dinheiro", diz o preso.
"Deus que me perdoe, tá louco!", responde uma mulher. "Amanhã eu
e o pai vamos sair atrás da muda de maconha", segue ele. "Sai cedo
para a polícia não pegar vocês", orienta a mulher do outro lado da linha.
Em outra gravação, um preso promete para a namorada
aniversariante que vai passar o domingo com ela. É simples, basta sair pelo
buraco da tela. "Eu não vou, é meu aniversário", diz a namorada ao
detento, também por telefone. "É o teu aniversário e tu não quer ficar
comigo?", questiona o homem. "Aí dentro, não", responde ela.
"Então tá, eu vou sair, vou aí na rua. Vou sair pelos fundos, depois eu
volto".
Em outro ponto da cerca do IPV, os presos improvisaram até
um portão. Quem sofre com o medo, são os vizinhos. "De dia eles atravessam
a hora que eles querem. Ali eles que mandam. Atravessam, arrebentam a cerca, de
arma na mão", relata um morador que não se identifica.
Armas não faltam. Imagens gravadas por um agente
penitenciário no fim de 2012 mostram a organização dos presos. Com uma escada,
eles descem um a um. Uns usam toca-ninja. Outro desce segurando duas pistolas e
esse uma submetralhadora, como mostra a reportagem do Fantástico (veja o vídeo
ao lado). São pelo menos 10 homens que desaparecem na mata em poucos minutos.
A juíza Liliane Michels Ortiz cuida do processo da
investigação sobre o IPV. "Fiquei estupefata com a realidade que eu vi no
processo. No Instituto Penal de Viamão o controle está totalmente
perdido", diz.
É o que garante também uma jovem que já frequentou o
presídio. Viciada em drogas, ela praticamente morou na casa prisional enquanto
se prostituía. "Eu fiquei dois, três dias. Eu ia, saía e voltava,
entendeu?
Durante o dia a gente ficava...as meninas ficam nas celas. Durante a
noite eles fazem churrasco, e a gente fica ali com eles. Jogamos carta.
Tranquilo", relata a mulher "Rola tudo. Rola sexo, rola droga, rola
dinheiro, rola arma, traficante", completa.
Em janeiro, a polícia prendeu 33 detentos e encontrou armas
e drogas dentro da celas. A causa da operação foi o número de crimes cometidos
por quem deveria estar preso. "Identificamos que aqueles indivíduos que
deveriam estar recolhidos,durante o período do cárcere, eles saíam, iam cometer
estes delitos na rua e retornavam para dentro do presídio", relata o delegado
Eibert Moreira.
Um desses crimes ocorreu em janeiro em um bar na Zona Leste
de Porto Alegre. A esposa do comerciante Élgio e o enteado dele foram mortos
por um preso foragido do IPV. "Ele só falou que era um assalto. Quando eu
olhei para trás, o Michel já estava caindo. Ela foi socorrer ele e foi
lastimável também... pelas costas", lamenta o comerciante.
Em outra imagem obtida pela RBS TV, os presos aparecem
voltando correndo para as galerias. "Vem , Marcelo, vem. Os 'homi' tão no
mato. Os ‘homi’ tão no mato!!!", diz um detento a outro.
"A falta de estrutura do sistema carcerário é a
estrutura básica do crime organizado. Sem esta falta de estrutura, não
prosperaria muitas das situações que eles vêm perpetrando”, diz o
tenente-coronel Marcelo Giusti.
O Superintendente dos Serviços Penitenciário do estado
reconhece as más condições do IPV, mas lamenta a falta de alternativas para
resolver o problema. "Hoje eu não tenho condições de fechar. Porque eu não
tenho outro local que possa servir de referência, que venha a suprir a
deficiência daquela casa. Mas estamos trabalhando, sim. Estamos em projetos de
construção de quatro casas com capacidade para 150".
Fonte: Site G1 RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário