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terça-feira, novembro 15

Comunidade do Morro Dona Marta: visão a partir de uma visita

Carolina Cunha
Para o Blog

No último mês de outubro visitei a comunidade do Morro Dona Marta – ou comunidade Santa Marta, como chamam os moradores – situada no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.

A “favela Santa Marta” foi a primeira ocupada por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no final do ano 2008, e também a receber o programa de turismo “Rio Top Tour”, programa de Base Comunitária que tem como foco a inserção econômico-social por meio da atividade turística, abrindo oportunidades de geração de emprego e renda para a população.

          Chegamos “ao pé do morro” por volta das 10h da manhã – em um domingo de sol, dia de Fla-Flu – e fomos atendidos por um grupo de guias de turismo – moradoras da comunidade – que ficam instaladas em um quiosque de atendimento.  Uma dessas senhoras/guias nos explicou que para cada perfil de visitante é indicando um determinado guia. Ela, por exemplo, por ser secretária bilíngue aposentada, é fluente no idioma francês e, por isso, costuma acompanhar turistas franceses.

Para o meu pequeno grupo foi indicado o morador/guia Gilson, “Fumaça”, um sujeito carismático, de 32 anos de idade, que nasceu e se criou na comunidade.

Para iniciar o passeio embarcamos em um dos carrinhos que percorrem os trilhos do plano inclinado, uma espécie de elevador/metrô que serve de meio de transporte para a população e para os turistas. Subiam conosco moradores carregando carne para churrasco, crianças vindas de uma pracinha próxima, entre outros. O plano inclinado foi instalado após a instauração da UPP e, exatamente como se fosse um metrô, para em 5 estações ao longo dos 340 metros de altura do morro. 

Ao desembarcarmos na última estação – além de uma vista privilegiada da zona sul do Rio de Janeiro – observamos a sede da UPP. Nesse momento, nosso guia local passou a narrar os episódios de enfrentamentos entre polícia versus traficantes, que, segundo ele, é uma das maiores lembranças que ele traz da infância.

Diferente do que costuma acontecer, a sede da UPP não fica no ponto mais alto do morro, eis que aquela região apresenta sérios riscos de desabamentos. Os moradores, no entanto, embora advertidos, recusam-se a deixar suas casas.

 A sede da UPP funciona no local que foi construído para ser uma creche infantil, no entanto, a escolinha não chegou a ser utilizada, pois o prédio fica exatamente no meio da  zona onde ocorriam os confrontos entre traficantes e policiais. 

Gilson nos apontou uma quadra de futebol localizada em frente à sede da UPP e narrou: “As mães não tinham coragem de trazer os filhos pra cá. Aqui, nessa quadra, ficavam os traficantes de cima do morro e ali, naquela rua que vocês enxergam atrás da UPP, é o único ponto do morro que se pode ter acesso de carro, por isso a polícia ficava por ali e dava tiro pra cá.” 




Nesse momento ele também apontou o muro que fica abaixo da sede e nos disse: “estão vendo aqueles furos? São marcas de bala, são dos tiros que o pessoal do tráfico disparava. Depois que ficou pacificado queriam rebocar, apagar, mas eu não deixei, é a nossa história.”. 

Seguimos descendo as ladeiras do morro e notamos que as escadas eram padronizadas e com corrimão. Nosso guia local nos informou que isso é uma das melhorias trazidas pelo poder público, depois da retomada do Morro, e que apenas as áreas de risco não foram contempladas com as escadas e guardam a forma original.

O mau cheiro é sentido por todos, e Gilson Fumaça logo explica: “vocês estão sentindo esse cheiro? Ainda falta saneamento básico”.

Conforme íamos descendo o morro, encontrávamos moradores da comunidade. Todos muito receptivos e animados para assistir ao clássico de futebol, que aconteceria naquela tarde. “Vamos assistir o jogo aqui em cima (do Morro), mas tem um pessoal que assiste num bar lá mais lá embaixo, vai ter telão.”, comentava Gilson.

 Alguns moradores comentavam também, com Gilson, sobre a festa que tinha acontecido na noite anterior e ele, então, nos mostrou o local da festa. Era um espaço amplo, uma espécie de quadra esportiva, cercada, que fica sobre uma rocha. Nesse local foi construída uma cabana com lona preta, onde foi montada a pista de dança, para que o som não se propagasse. “Chamava a mina pra dançar e ia lá pra dentro. Os caras são muito criativos”, disse-nos Fumaça.

Em seguida paramos para comprar água em um bar e comentamos entre nós: “se eles não quiserem, não precisam sair da comunidade para nada. Tem tudo aqui em cima e o que não tem aqui, tem logo ali embaixo.” Mas logo fomos advertidas: “as lojas maiores e os caixas eletrônicos só chegaram depois da pacificação”.

Nosso guia de turismo – outro guia, que não o guia local – é historiador e nos chamou a atenção: “brasileiro não nota muito, vocês nem comentaram, mas quando eu venho com os estrangeiros, eles sempre comentam. Vocês não perceberam que a maioria dos moradores é negro ou nordestino? Isso demonstra a história da formação das favelas no Rio de Janeiro, desde o Morro da Providência [1] , que eu expliquei para vocês.”

O passeio terminou na Praça Cantão, um espaço colorido e muito bem cuidado, desde a tomada do Morro, mas que, segundo Fumaça, era o ponto de venda das drogas. “Aqui ficavam as mesas deles. Aqui, onde vocês estão vendo essas bicicletas estacionadas, ficavam as armas. Isso aqui, na minha infância, era tudo arma”. 

Foi quando perguntamos: “então dá para dizer que não existe mais tráfico na favela?” e ele nos respondeu: “Venda de drogas tem, sempre vai ter, do mesmo modo que tem lá no asfalto, o que não tem mais é guerra, é a dominação dos traficantes. A comunidade está em paz, como vocês viram, mas a droga existe.” Eu então completei: “então está igual a Pelotas, que vendem droga em vários lugares, guardador de carro vende droga, filhinho de papai também.” E ele respondeu: “é isso. É como lá embaixo no asfalto”.

E Gilson tem razão em sua fala, pois pensar que a instalação das UPP’s, após as invasões pacificadoras, é suficiente para acabar com o tráfico de drogas, é utopia, mesmo porque, o tráfico não está só morro, tampouco apenas no Rio de Janeiro.

 No entanto, a missão das UPP’s é a guarda do território, do espaço físico do morro, que até então estava na propriedade dos traficantes. Estando as UPP’s instaladas nas comunidades, elas passam a ser tratadas, pela polícia e pelo poder público, como qualquer parcela “do asfalto”. A missão das UPP’s é fazer com que o Morro deixe de ser território de dominação dos traficantes, funcionando quase como uma fortaleza impenetrável, peculiaridade do tráfico exercido nas favelas do Rio de Janeiro.

[1] A Favela da Providência, mais antiga do Rio de Janeiro, surgiu entre o final século XIX e início do século XX. O governo da época prometeu entregar moradias aos soldados combatentes em Canudos, se caso eles saíssem vitoriosos. No entanto, a promessa não foi cumprida e, então, ao voltarem ao Rio de Janeiro, os soldados viram-se obrigados a ocupar parte do morro para ali providenciarem suas moradias. 

Um comentário:

Gilson Fumaça disse...

Tour na Comunidade Do Santa Marta.

Funciona individual ou em grupo. com ou sem almoço na propria comunidade.
fazemos o tour por toda comunidade conhecendo os 34 pontos turísticos
mapeados pelo Projeto Rio top tour e alguns moradores.
Andamos de bondinho com os moradores, vamos conhecendo os pontos
turísticos e ao longo do passeio vou contando as histórias de nossos
visitantes mais ilustres como Rainha Elizabeth II , Michael Jackson,
Madonna, Vim Diesel, Presidente Lula, Governador Sergio Cabral,Hugh
Jackman(Wolverine), Alicia Keys entre outros.
Vou falando tambem sobre as gravações, varias novelas, seriados e filmes
gravados na comunidade do Santa Marta tais como Tropa de elite II,
Cidade dos Homens, Velozes e Furiosos 5 e várias novelas
o Tour tem duração de 2 horas sem o almoço e com almoço entre 3 à 4 horas.
PS: Todos os turístas recebem o Mapa da Comunidade e o Guia do Rio de
Janeiro de brinde.


(Opcões de almoço: frango grelhado, frango à passarinho ou filé de Peixe.
acompanhado de arroz, feijão, batata frita, farofa, salada de alface e tomate.)

Tour 50,00 reais por pessoa.
acima de 3 pessoas 40,00 reais por pessoa.



O almoço é servido no bar do Zequinha que fica entre as estações 02 e 03




TOUR PARA O EVENTO "PÔR DA SANTA CERVEJA FEIJOADA E SAMBA"
(PRÓXIMO EVENTO 04 DE FEVEREIRO DE 2012)

O Evento acontece sempre no primeiro sábado de cada mês
no Espaço Michael Jackson Comunidade Santa Marta

60,00 REAIS POR PESSOA
75,00 REAIS INCLUINDO feijoada



Eventos culturais depende da programação dos realizadores



Quadra da Escola de Samba Mocidade Unida do Santa Marta

Samba aos domingos apartir das 19:00

Atenciosamente:
Gilson da Silva
Estudante de Turismo Colégio Estadual Antonio Prado Junior
Estagiário do Projeto Rio Top Tour
Produtor cultural do Evento "Por do Santa" Cerveja feijão e Samba
Guia de Turismo Credenciado EMBRATUR
Guia Local Favela Santa Marta (Guia local Morador da Comunidade)
tel:7739-2266 ID 124*24471 ou 8158-6531 (Tim)