Bruno Kligierman matou Bárbara Calazans, 18 anos, em outubro de 2009.
Defesa alega que músico é dependente quimico e sofre de transtorno mental.
O músico Bruno Kligierman Melo, de 28 anos, acusado de matar por estrangulamento a amiga Bárbara Chamun Calazans Laino, de 18 anos, foi condenado pelo crime de homicídio duplamente qualificado a 14 anos de prisão, em regime fechado. A decisão do Júri Popular ocorreu no início da madrugada desta terça-feira (28), no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), no Centro.
O crime aconteceu em 24 de outubro de 2009, no apartamento de Bruno, no Flamengo, na Zona Sul do Rio. Na ocasião, ele alegou que havia fumado crack e ingerido álcool.
Segundo a sentença, o músico não poderá recorrer da decisão em liberdade. Para a magistrada Simone de Faria Ferraz, que presidiu o júri, a soltura de Bruno seria uma "ofensa à ordem pública, já que o réu é um verdadeiro desregrado". A juíza disse ainda que a morte de Bárbara foi de "extrema crueldade".
A mãe da vítima, a servidora pública Carmen Chamun, disse que estava desde o início confiante na Justiça. "De certo modo, a decisão conforta um pouco mais a família. Creio que o Bruno estava consciente de tudo o que fez. Ele cometeu um ato covarde, ao meu ver, intencional, e, quiçá premeditado", desabafou Carmen.
Músico perde perdão à família de vítima
Mais cedo, o músico pediu perdão à família da vítima, enquanto aguardava ser ouvido pelo júri. Ao longo de toda a sessão, Bruno manteve a cabeça baixa e quase não desviou os olhos do chão.
“Eu queria pedir perdão em primeiro lugar a Deus, em segundo lugar à família dela e em terceiro lugar a qualquer pessoa que possa se sentir ofendida ou agredida com esse fato. (...) Não vim pagar de bonzinho, só vim pedir uma chance de continuar me tratando”, disse ele, que há 2 anos e quatro meses está internado no Hospital Psiquiátrico Roberto de Medeiros, no Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Segundo sentença lida pela juíza Simone de Faria Ferraz, a clínica onde o músico está internado tem 24 horas para emitir um laudo explicando os motivos da internação dele.
Em seu depoimento, o músico alegou que não se lembrava de nada no dia do crime, pois estava sob efeito de drogas, após sair de uma comemoração na casa de um amigo.
“Na época eu me drogava muito. Bebi, fumei e fui para casa. Me lembro que tinha um compromisso com a Bárbara de manhã. Um teste para figuração de novela. Marquei com ela de manhã na minha casa. A partir daí, me lembro de ter acordado e ter encontrado a Bárbara morta na minha casa. Pensei: fui eu, só tem eu aqui”, contou.
Bruno contou que ele e Bárbara tiveram um breve relacionamento, mas não namoraram. “A gente era amigo”, disse. O réu afirmou ainda que já agrediu uma ex-namorada por duas vezes. “Usávamos muito álcool e cocaína”, contou.
O pai de Bárbara também acompanhou o julgamento, que chegou a ser adiado por quatro vezes, mas preferiu não falar com a imprensa. Além do réu, também foram ouvidos o pai dele, o produtor cultural Luiz Fernando Prôa - que entregou Bruno à polícia -, o policial militar que registrou a ocorrência, Rogério Borges, e ainda a médica perita, Sandra Greenhalgh.
Quando divulgou o laudo, a psiquiatra atestou que Bruno apresenta “transtorno de personalidade com instabilidade emocional e transtornos mentais decorrentes do uso de múltiplas drogas e de outras substâncias psicoativas”, mas esses transtornos “não guardam nexo causal com o delito do qual é acusado”. Ela afirmou também que não houve perda do juízo da realidade na hora do crime.
PM diz que Bruno se lembrou de discussão
Segundo o PM, foi Bruno quem abriu a porta do apartamento, às 17h e, no dia, ele contou ao policial que se lembrava de ter se desentendido com a vítima por volta das 8h. “Eu até questionei, a discussão foi às 8h e eram 17h, mas ele disse que não se lembrava como tinha matado”, contou. O corpo de Bárbara, de acordo com o policial, estava coberto e havia uma aliança jogada. Ele disse ainda que o apartamento estava “imundo”.
O pai do acusado contou, em depoimento, que a mãe do rapaz bebia, fumava e usava cocaína durante a gravidez. “Bruno usa drogas desde a barriga da mãe”, afirmou. Ela morreu na Argentina, com o vírus HIV, meses antes de o filho estrangular e matar a jovem. Trinta dias antes, Bruno tinha feito as pazes com a mãe. “Foi um impacto na vida dele. Aí ele caiu no crack. Quase virou um mendigo”, contou Luiz Fernando Prôa.
Ele também disse que deixou de morar com o filho há cerca de 15 anos, quando o rapaz foi morar com a avó. Anos depois, a família alugou o apartamento do Flamengo para ele morar sozinho. A avó e a tia do jovem que o sustentavam, já que Bruno nunca trabalhou.
Laudo de sanidade mental
De acordo com a médica perita, responsável pelo laudo de sanidade mental, o músico era “inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato e inteiramente capaz de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Bruno foi preso ainda no apartamento, na Rua Ferreira Viana, e não resistiu à prisão. A vítima morava do outro lado da rua com a família. Na delegacia, ele contou que tinha fumado crack momentos antes da discussão.
O pai de Bruno afirmou que o filho foi internado cinco vezes antes de cometer o crime. Médicos atestaram bipolaridade, Transtorno de Déficit de Atenção, hiperatividade e Síndrome do Pânico. Ele alega que Bruno já era esquizofrênico antes de cometer o crime.
Fonte: Site G1