Um revólver calibre 38
foi apreendido na casa do vereador Adão Lemes Prestes; suspeito responderá
ainda por posse irregular de arma
(*) Michele Ferreira - michele@diariopopular.com.br
Um dia antes de completar um mês dos assaltos a duas
agências bancárias, que espalharam terror pelo Centro de Pedras Altas, a
Polícia Civil cumpriu mandados de prisão preventiva concedidos pela Justiça de
Pinheiro Machado e deteve quatro suspeitos de envolvimento nos roubos. Dois
homens e duas mulheres.
Todos presos no assentamento Nossa Senhora da Glória,
no 4º distrito. Um deles é o vereador e atual vice-presidente da Câmara, Adão
Lemes Prestes (PT), conduzido provisoriamente ao Presídio Central de Porto
Alegre. Até a operação de terça, mais de 50 policiais da capital, de Santa Cruz
do Sul, de Herval e de Bagé participaram das investigações, que ainda não
chegaram ao fim.
A balconista Fernanda Costa, de 28 anos, não nega: a partir
das 18h, conforme anoitece, passou a fechar a porta da farmácia e permanecer
acompanhada. "Tenho procurado não ficar sozinha, uma preocupação que eu
não tinha antes", afirma. "Como o caso não tá totalmente esclarecido
e temos dúvida se tem envolvimento de alguém daqui, a gente fica mais
atenta", reforça, depois de ouvir comentários de que a fuga da quadrilha
teria sido facilitada por quem dominaria o quebra-cabeça dos caminhos do
interior. Uma tese carimbada na terça.
No supermercado, a atendente de caixa Jaci Tardiz da Silva,
de 64 anos, mantém o lema da precaução. Ao verificar alguma movimentação
suspeita, não perde tempo. Logo, anota a placa do veículo e troca informações
com outros comerciantes para tentar saber quem é e o que faz na cidade.
"Como tem um pessoal trabalhando na estrada aqui perto, às vezes, aparece
alguém diferente. E, depois de tudo aquilo, todo o cuidado é pouco",
resume.
Naquela segunda-feira, foram os gritos de pânico da criançada
que brincava na praça em frente ao estabelecimento - no meio do trajeto entre o
Banrisul e o Sicredi - que quebraram a costumeira tranquilidade. Serviram de
anúncio à violência. "Fechamos tudo e nos escondemos nos fundos",
relembra Jaci. Apavorada, a jovem Milene Pereira Ferreira, 20, foi além: pulou
o muro e pediu abrigo na casa de uma enfermeira, nas proximidades. "Foi um
horror. Na hora do susto, a gente faz qualquer coisa", acrescenta.
Hoje, o
sistema de câmeras, já instalado antes dos assaltos, serve ao menos de alento a
quem se vê exposto à insegurança.
Serviço reduzido
Os clientes são os de sempre no restaurante pequeno, com
imagens de Nossa Senhora Aparecida colocadas sob o vidro das mesas. As trocas
de gentileza e o trato pelos nomes confirmam a convivência diária. Desde o 22
de abril, todavia, quem deixar para encomendar a janta após as 21h30min tende a
ficar sem a refeição. "Antes aceitávamos pedidos até a meia-noite, até a
1h da manhã, mas agora estamos mais espertos", enfatiza o aposentado Omero
de Castro, de 76 anos, ao também adotar conduta preventiva.
Com medo, mas de volta às atividades
A funcionária do Sicredi aceita conversar com o Diário
Popular, mas trata de fazer a ressalva: não quer ser identificada. "Não
sabemos quem são os envolvidos e preferimos ser preservados", destaca ao
garantir que a empresa tem oferecido suporte psicológico a todos os quatro
trabalhadores, afastados das atividades por uma semana, depois de serem
transformados em escudo humano, na frente do banco. "Com aquele nível de
violência, sabemos que seria impossível evitar um novo assalto",
preocupa-se, sentada ao lado de uma das paredes atingidas por disparos. Os
vidros, claro, já foram trocados.
No Banrisul, o cimento esconde parte dos estragos provocados
naquela manhã, em que as balas ultrapassaram uma das divisórias instaladas na
agência. Na perna direita do bancário Pierre Costa Moraes, de 52 anos, ainda
cicatriza a ferida do tiro que o pegou de raspão, ao se tornar uma das
primeiras vítimas da ação criminosa. "Não temos muita opção. Os horários
são os mesmos. Os caminhos são os mesmos e temos que trabalhar", afirma.
"O que dá para dizer é que hoje estamos muito mais receosos", resume,
com o peso de quem já foi alvo de assalto em outros dois momentos na carreira,
em 1998 e 1999.
Como ficam as investigações?
As quatro prisões preventivas, na manhã de terça-feira, não
colocam fim às investigações. As duas mulheres e os dois homens serão
indiciados por roubo e formação de quadrilha, embora não tenham atuado na linha
de frente. O vereador Adão Lemes Prestes ainda tem o agravante da posse
irregular de arma de fogo, já que um revólver calibre 38 - irregular junto à
Polícia Federal (PF) - foi encontrado em sua residência, no assentamento Nossa
Senhora da Glória.
Durante a tarde, na Delegacia de Roubos do Departamento
Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Porto Alegre, o quarteto decidiu
não se manifestar; direito que a lei concede aos suspeitos. Ao conversar com o
Diário Popular no início da noite de terça, entretanto, o delegado Joel Wagner,
que comandou a ação, foi enfático: "Eles deram apoio antes da prática do
crime, deram suporte com alimento e abrigo e ajudaram inclusive na retirada da
quadrilha, na madrugada de quinta para sexta-feira, em 26 de abril", explicou.
"Foi tudo premeditado".
Possivelmente hoje os quatro devem ser conduzidos ao
Presídio Regional de Bagé, vinculado à Vara de Execuções Criminais (VEC) de
Pinheiro Machado. Na terça, os homens foram levados ao Presídio Central e, as
mulheres, à Penitenciária Feminina Madre Pelletier, ambos em Porto Alegre.
"Agora, o inquérito segue na identificação e na responsabilização de
outros dois membros da quadrilha".
Entenda melhor
Investigações já desencadeadas pela Polícia Civil de Santa
Cruz sobre a ação de bandidos nos Vales do Rio Pardo e do Taquari juntaram-se
às apurações do caso de Pedras Altas e levaram à prisão de Marcelo Barros
Martins, 33, na manhã do sábado, 27 de abril, no Centro de Lajeado. O grupo
liderado por Alemão, como é conhecido, costumava promover assaltos a
residências, a estabelecimentos comerciais e a propriedades rurais e, há pouco,
começava a migrar a roubos a bancos. "Dos quatro presos na terça-feira
(21), três são familiares de Marcelo", ressalta o delegado.
No domingo, 5 de maio, outro suspeito, de 28 anos, foi morto
ao tentar roubar uma residência em Vera Cruz junto com um comparsa, que
conseguiu fugir. Quando a dupla tentava ingressar na casa de um empresário foi
surpreendida por uma equipe de 16 policiais, 12 agentes e quatro delegados.
Agora, resta capturar os outros dois encapuzados do assalto.
BM mais perto de ganhar reforço
A partir de segunda-feira, o efetivo da BM deve praticamente
dobrar em Pedras Altas, com o reforço de quatro policiais. "Vamos ficar
muito próximo do 100% previsto no quadro da organização, que é de 11
policiais", afirma o comandante do 3º Batalhão de Policiamento em Área de
Fronteira (BPAF) de Jaguarão, major Sílvio César Gomes Cardoso.
Até o assalto das agências bancárias, entre e cinco e seis
soldados se revezavam nos plantões, em geral sozinhos, considerados
afastamentos por problemas de saúde, períodos de férias e licenças. Após o
episódio, o policial rendido pelos ladrões, que já negociava remanejo, foi
então transferido ao 6º Batalhão da BM, em Rio Grande. A escassez de pessoal,
que já inviabilizava ações como barreiras policiais, ficou ainda maior.
Quanto ao conserto da viatura, com sérios danos no motor, o
major admitiu: não há previsão de a caminhonete Nissan voltar a rodar.
"Não podemos atribuir esse problema à ação da quadrilha, mas agora estamos
na fase de tomada de preços". Um primeiro orçamento indicou o custo de R$
30 mil, inviável aos cofres do Estado.
Relembre
Quatro homens fortemente armados, com toucas ninjas e três
deles com coletes militares renderam o único soldado da Brigada Militar de
plantão e começaram o ataque a duas agências bancárias, por volta das 10h.
Rapidamente, estava estabelecida uma cena de guerra. Na ação, os bandidos
atiraram para aterrorizar os reféns e, pelo menos, duas pessoas ficaram feridas
sem gravidade. Os criminosos atearam fogo no veículo utilizado para chegar à
cidade e, na fuga, utilizaram, inclusive, uma viatura roubada da Brigada
Militar. Os reféns foram soltos em estradas do interior.
Cerca de 120 policiais da BM de Pelotas, de Rio Grande e de
Jaguarão juntaram-se à caçada à quadrilha, além de integrantes da Polícia Civil
de Pinheiro Machado e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que utilizou
helicóptero para sobrevoar a área. A quantia levada não foi revelada pelas
instituições.
Fonte: Site Diário Popular
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